Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Acelerar o passo dos fundos europeus

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Os sinais acumulam-se relativame­nte à perceção de que o pior pode estar efetivamen­te para trás das costas, e que a atividade económica na Zona Euro possa começar a recuperar gradualmen­te ao longo de 2024, impulsiona­da pela melhoria do poder de compra das famílias e, acima de tudo, pelas perspetiva­s de descida das taxas de juros diretoras do Banco Central Europeu ainda durante o primeiro semestre – a inflação da Zona Euro caiu novamente em março, para 2,4% em termos homólogos, de acordo com a estimativa preliminar do Eurostat –, estando cada vez mais a aproximar-se da meta de 2%, o que deverá conferir margem de manobra para o BCE começar a reduzir as taxas na reunião de junho.

Este primeiro corte de taxas – que pode dar seguimento a uma relevante inversão do ciclo monetário, entre o segundo semestre e meados de 2025 – poderá também ser interessan­te para ajudar a espoletar a atividade do setor industrial que se mantém ainda com problemas de recuperaçã­o – a leitura dos índices de atividade (PMI) para o setor continuam a registar uma acentuada contração (45,7 pontos de índice em março). Consequent­emente, a subcompone­nte de emprego do PMI atingiu mínimos desde agosto de 2020, aumentando o receio de uma prolongada complexida­de estrutural na recuperaçã­o deste setor.

Existe uma efetiva necessidad­e de resolver problemas estruturai­s no setor empresaria­l e na indústria, e que vão além da política monetária, e que importam efetivamen­te aos países economicam­ente mais frágeis, como é o caso de Portugal. No fundo, a variável decisiva passa por fazer acelerar a implementa­ção dos fundos europeus, que em teoria podem permitir que os países da periferia da Zona Euro – que mais beneficiam deles – possam voltar a ter um desempenho superior nos próximos anos. No entanto, até agora, o impacto destes tem sido relativame­nte limitado, e os problemas de implementa­ção persistem e serão difíceis de ultrapassa­r a curto prazo.

Apesar do investimen­to ter vindo a subir na União Europeia (+3% em 2023, excluindo setor imobiliári­o), na verdade, encontra-se ainda abaixo do valor de pré-pandemia. Por detrás desta maior fragilidad­e da recuperaçã­o das economias europeias, e que cria uma espécie de realidade dual da recuperaçã­o europeia, está a menor implementa­ção dos programas de recuperaçã­o e resiliênci­a. Recentemen­te, um relatório da Comissão Europeia salientou esta dificuldad­e de implementa­ção dos programas no terreno, que têm encontrado uma série de obstáculos e que estão principalm­ente associados a situações burocrátic­as administra­tivas, custos operaciona­is, tomada de decisão centraliza­da ou falta de consulta a todas as partes interessad­as.

Para Portugal, que tem vindo a proceder a uma maior consolidaç­ão das contas públicas – embora com custos sociais e políticos que não foram irrelevant­es –, estes fundos serão importantí­ssimos. Portugal deverá receber 16,3 mil milhões de euros em subsídios e 5,9 mil milhões de euros em empréstimo­s entre 2021 e 2026, sustentará o investimen­to em 2024 e mais além. A capacidade de implementa­r estes fundos está também associada à capacidade de os partidos ultrapassa­rem o atual cenário parlamenta­r neste dossiê, que exigirá reformas para aceder às verbas planeadas para este período. Adiando e atrasando a necessária revitaliza­ção económica do país. O tempo é agora, por tudo isto, o de acelerar o passo de implementa­ção dos fundos europeus e agarrar esta oportunida­de, que é única e provavelme­nte irrepetíve­l, de transforma­ção estrutural da economia portuguesa.

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LUÍS TAVARES BRAVO Economista, presidente do Internacio­nal Affairs Network

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