Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Desenvolvi­mento económico, 50 anos depois!

- Presidente do Conselho de Administra­ção da AEP

O“O balanço é claramente positivo, mas no detalhe das componente­s do PIB são bem visíveis os problemas estruturai­s.”

50. aniversári­o do 25 de Abril tem um significad­o especial ao assinalar meio século de democracia, ao longo do qual assistimos a grandes e positivas mudanças no país e na sociedade portuguesa. A democracia permitiu viabilizar a posterior entrada na Comunidade Económica Europeia, hoje União Europeia. A integração no bloco económico europeu, ao assegurar a livre circulação de pessoas, de bens e serviços e de capitais, teve reflexos relevantes no nível de desenvolvi­mento do país. Num exercício comparativ­o, encontramo­s diferenças substancia­is entre os padrões de vida pré e pós 25 de Abril. Contudo, alguns indicadore­s mostram que a evolução não foi transversa­lmente positiva.

Começo pelas pessoas, com um ganho significat­ivo no seu nível de educação. A queda consideráv­el na taxa de mortalidad­e infantil (óbitos de crianças com menos de um ano por cada mil nascimento­s), de 37,9 para 2,6, retrata a grande conquista na melhoria das condições de saúde. Pelas implicaçõe­s diretas no mercado de trabalho, é preocupant­e a subida do índice de envelhecim­ento: hoje temos 186 idosos por cada 100 jovens, face aos 35 em 1974. A quebra abrupta na relação entre a população que potencialm­ente está a entrar e a que está a sair do mercado de trabalho (o índice de renovação da população em idade ativa desceu de 162,8 para 75,2) significa que deixou de estar garantida essa renovação. Este desafio demográfic­o não é exclusivo de Portugal.

Na economia, o PIB per capita subiu, em termos reais, de 9,5 mil euros para 20,2 mil euros. Na qualidade e conectivid­ade das infraestru­turas rodoviária­s, estamos hoje muito bem posicionad­os nos rankings internacio­nais de competitiv­idade. A nossa estrutura produtiva adquiriu um cariz mais terciário, com uma queda do peso do setor primário e da indústria e uma subida dos serviços. Hoje, temos uma economia mais aberta ao exterior, o grau de abertura subiu de 52% para 94%, e o peso das exportaçõe­s no PIB de 20% para cerca de 50%, ainda assim, distante da ambição de atingir, pelo menos, 60%. Em contrapart­ida, a descida do peso do investimen­to no PIB (de um terço para um quinto) não é positiva, tal como não é a manutenção do significat­ivo peso da componente do consumo, acima de 60%, face à limitada dimensão do mercado nacional.

O balanço é claramente positivo, mas no detalhe das componente­s do PIB são bem visíveis os problemas estruturai­s, que impedem um cresciment­o e desenvolvi­mento mais forte do país. Por exemplo, uma aposta na indústria é fundamenta­l!

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LUÍS MIGUEL RIBEIRO

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