Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Dinheiro em campo Pode um clube falido vencer? O Inter de Milão diz que sim
Com dívidas de 800 milhões de euros e credores a ameaçar tomar o clube do dono, um chinês de 32 anos, os nerazzurri souberam, no campo, formar uma equipa quase perfeita sob a batuta de Simone Inzaghi.
O Inter de Milão foi campeão italiano na última segunda-feira, 22, ao bater o Milan num Derby Della Madonnina, como é conhecido o duelo entre os rivais de Milão, em alusão à estátua de Nossa Senhora no topo do Duomo, para ficar na memória dos jogadores e adeptos nerazzurri que, radiantes, festejaram e festejarão, nos próximos dias e semanas. Porém, há uma ressaca financeira à espreita, na forma de 800 milhões de euros de dívida.
Boa parte dessa dívida é para com a Oaktree Capital Management, empresa americana de gestão de ativos, que emprestou cerca de 275 milhões de euros em 2021 para ajudar o Inter durante a pandemia de covid e ainda não foi reembolsada pelo chinês Steven Zhang, o dono, com meros 32 anos, do gigante italiano. O caso faz lembrar, claro, o que ocorreu com o Milan, a parte chorosa de Milão depois da derrota no derby e na Serie A, que em 2018 viu um fundo, também americano, o Elliott Management, assumir o controlo do clube após um dono, também chinês, Li Yonghong, falhar o pagamento de um empréstimo.
Vai o Inter repetir o Milan?
Há quem diga que sim: sob Zhang, o rosto da Suning Holdings, fundada pelo seu milionário pai, as perdas do clube nos últimos três anos foram na ordem dos 470 milhões de euros, mesmo vendendo os principais talentos e conquistando títulos, ano após ano, o que torna o projeto insustentável, como sublinha Stefano Buonfino, o especialista em futebol italiano do site Transfermarkt.
Mas há quem diga que não: segundo o jornal milanês La Gazzetta Dello Sport, a direção liderada por Zhang negociou um empréstimo de 400 milhões de euros com outro fundo, o Pimco Investment Management, que lhe permite saldar já as pendências com o Oaktree e ter uma outra dívida prorrogável por mais anos.
Os próximos dias, enquanto dura a ressaca de jogadores e adeptos no relvado e nas ruas da capital da Lombardia, serão decisivos nos gabinetes de milionários mundo afora, de Itália à China, passando pelos Estados Unidos.
Indiferente, dentro dos possíveis, a esses negócios está o treinador Simone Inzaghi, o artífice da vitória em circunstâncias económicas adversas. No primeiro ano no cargo teve de reconstruir a equipa após as perdas de Lukaku, para o Chelsea, de Eriksen, para o Manchester United, e de Hakimi, para o Paris Saint-Germain, entre outros, e foi vice-campeão e ganhou Taça e Supertaça italianas; no segundo, perdeu Skriniar, por lesão, e mesmo assim chegou à final da Liga dos Campeões e voltou a erguer os troféus da Taça e da Supertaça; e, para este ano, foi obrigado a montar uma nova equipa, sem Onana, sem Brozovic, sem Dzeko e, novamente, sem Lukaku, que entretanto havia regressado, mas ganhou a Supertaça pela terceira vez seguida, a que juntou o ansiado Scudetto no fim de semana passado.
Com uma equipa de extraordinária fluidez tática – que tanto defende atrás e busca contra-ataques como ataca em bloco de forma continuada, dependendo dos adversários, dos jogos e das circunstâncias –, somou o melhor ataque de Itália à melhor defesa da Europa.
Os médios Barella, Mkhitaryan e Çalhanoglou ajudaram os atacantes Lautaro e Thuram a marcar – por enquanto – 79 golos. E o guarda-redes Sommer, atrás dos defesas Bastoni, Acerbi, Darmian, Pavard, Di Marco e outros, a solidificar a defesa menos batida das cinco principais ligas europeias, com meros 18 golos até aqui.
Em segundo lugar na lista de melhores defesas da elite europeia estão o Real Madrid, de Espanha, e o Nice, de França, ambos treinados também por italianos, Carlo Ancelotti e Francesco Farioli, respetivamente, o que reforça o estereótipo de que os italianos entendem de defesa como ninguém.
Agora, só falta ao Inter saber defender-se dos credores.