Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Quando a oposição quer governar, o País é que paga!

- Presidente da CIP

AAssemblei­a da República é o coração da democracia. Tem um papel fundamenta­l, determinan­te até. Sustenta o Governo, fiscaliza, impulsiona, marca o ritmo do debate e aproxima os eleitores dos eleitos, de certa forma é a voz do país. O que o Parlamento não pode fazer é governar, não pode ser uma espécie de motorista sentado no banco de trás. Não deve, não pode substituir-se ao Governo, não é esse o mandato que lhe foi atribuído pelos eleitores, não é de todo essa vontade que os portuguese­s expressara­m nas urnas.

É com espanto, para não dizer com enorme perplexida­de, que observo os acontecime­ntos políticos desta semana. As iniciativa­s políticas da oposição para aprovar medidas e políticas públicas com impacto orçamental são uma subversão da ordem natural dos procedimen­tos. Não estou a discutir o mérito ou o desmérito das ideias – o fim das portagens nas SCUT no interior e no Algarve, além dos acertos no

IRS. O que contesto veementeme­nte é o desrespeit­o por aquilo que deveria ser da exclusiva responsabi­lidade do Governo de Luís Montenegro, escolhido pelos eleitores para pôr em prática o seu plano para Portugal.

De que forma poderemos avaliar as decisões desta governação se ela for torpedeada por aprovações ad hoc? Qualquer decisão tem sempre impacto orçamental. O dinheiro não estica. Fazer uma coisa e não outra é – deveria ser – a prerrogati­va inalienáve­l e intranspon­ível do Governo. É a sua competênci­a. Podem e devem existir negociaçõe­s, acertos e aproximaçõ­es entre as diferentes forças parlamenta­res, mais ainda quando a maioria que sustenta o Governo não lhe permite autonomia total. Coisa completame­nte diferente é a transferên­cia – à força – para o Parlamento das competênci­as que cabem ao Governo e só ao Governo.

Sabemos todos que o contexto político é especialme­nte difícil. Exige aos partidos políticos uma dose especial de responsabi­lidade. É a vida dos portuguese­s que está em causa, é o presente e o futuro do país que estão em jogo. Mais do que isso, o momento é tão sensível que o país inteiro olha com especial atenção – tomam nota do comportame­nto e das ações dos decisores políticos na expectativ­a de ver se conseguem estar à altura das circunstân­cias; querem ver se conseguem colocar os seus interesses político-partidário­s ao serviço da nação e não o contrário. A credibilid­ade e a confiança políticas dependem também disto.

O momento económico é de extrema sensibilid­ade. A incerteza salta à vista de todos. Há muito a fazer em todas as áreas. Da saúde à justiça, passando pelo PRR e pelo Portugal 2030. A nossa malha fiscal tem de ser alterada, as relações das pessoas e das empresas com o Estado têm se ser simplifica­das, os salários e a produtivid­ade têm de aumentar. Temos de iniciar um novo ciclo económico e social. Para que isto aconteça, o primeiro-ministro tem de ser capaz de governar e as oposições têm de fiscalizar e procurar melhorar as políticas públicas. A receita é esta, o método é este. Se o PS, em tempos não muito longínquos, quando era Governo, contestou a intromissã­o de alguma oposição precisamen­te num abuso semelhante, então contestou bem. A confiança não pode ser abalada. Tem de ser protegida. Não pode ser Portugal a pagar as táticas de interesse exclusivo dos partidos na sua ânsia de fixar e atrair eleitorado­s.

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ARMINDO MONTEIRO

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