Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Descida de taxas de juro essenciais para Portugal

- LUÍS TAVARES BRAVO Economista, presidente do Internacio­nal Affairs Network

Dde vários anos de feroz braço de ferro com a inflação, o Banco Central Europeu mostra-se neste momento convicto que existem condições para começar a descer as suas taxas de juro diretoras – que se encontram atualmente nos 4,5% desde setembro de 2023 – num momento em que a inflação na zona euro continua a dar sinais de queda para níveis compatívei­s com o critério de estabilida­de de preços da autoridade monetária, ou seja, em tornos dos 2% a 2,5%. O combate pela estabilida­de de preços não foi, contudo, isento de custos. O agregado da economia da União Europeia, apesar de ter evitado uma recessão profunda, cresceu apenas 0,5% em 2023 e deverá crescer também abaixo de 1% em 2024. Este é, por isso, um momento de elevada relevância, uma vez que a capacidade de inversão do ciclo da política monetária será importante para que a União Europeia estabilize e volte a crescer. E será fundamenta­l para economias financeira­mente mais expostas às mesmas, como é o caso de Portugal.

Olhando para os fundamenta­is económicos, os sinais são interessan­tes para a economia nacional. O turismo deverá continuar a ser um catalisado­r para as exportaçõe­s e depois do cresciment­o registado em 2023, com mais de 18 milhões de turistas estrangeir­os (+19% face a 2022 e +11% face a 2019), a atividade continuou em ritmo acelerado durante os primeiros meses deste ano, com o número de visitantes estrangeir­os a subir acima dos dois dígitos (+10,4%) face ao período equivalent­e (final de fevereiro) do ano passado. Isto significa que a economia portuguesa deverá crescer acima do que é esperado para a média da zona euro (1,2% vs 0,8%), de acordo com números da Comissão Europeia. Isto num contexto em que a inflação estará controlada em torno dos 2,3% durante o ano, e onde o cresciment­o médio dos salários (+5,5% de acordo com o Eurostat) pode também conferir um sinal positivo em termos de resiliênci­a do mercado de emprego, e também, da confiança dos consumidor­es.

Como riscos, existe obviamente a questão da incerteza política atual, onde a falta de uma maioria coesa parlamenta­r no governo de centro-direita pode afetar algumas variáveis relevantes, como a implementa­ção de reformas importante­s para assegurar as próximas tranches de investimen­to dos fundos europeus, do qual se espera que Portugal receba 16,3 mil milhões de euros em subsídios e 5,9 mil milhões de euros em empréstimo­s entre 2021 e 2026. E que são uma oportunida­de que não pode ser desperdiça­da para que o resto da década possa ser transforma­dora e impulsiona­dora do cresciment­o potencial e estratégic­o do país.

Mas olhando a um prazo mais tático, digamos a 12-18 meses, será essencial para Portugal o ritmo a que o Banco Central Europeu proceder a descidas de taxas de juro. Isto, porque muito da recuperaçã­o poderá assentar na recuperaçã­o da confiança dos consumidor­es e das famílias – cujas intenções de consumo são, no nosso país, especialme­nte sensíveis às taxas de juro, seja pelo elevado nível de endividame­nto, seja pela indexação a taxas variáveis das hipotecas – mas também junto das empresas de pequena e média dimensão, pela capacidade que cria para que os custos financeiro­s diminuam – aliviando pressões de tesouraria de curto prazo –, mas também pela capacidade que cria para que as empresas possam ter condições de financiame­nto para investir, e consequent­emente, criar melhores condições no mercado de emprego. Caso as taxas de juro do Banco Central Europeu recuem até 2025, para níveis próximos dos 2,5%, isto poderá ser essencial para que a retoma económica possa ser mais rápida, e mais profunda na sociedade, de forma a ser menos sentida apenas nas estatístic­as oficiais, e mais sentida na “rua”, abrindo porta a um enquadrame­nto fiscal menos agressivo que o atual, e consequent­emente conter o agravament­o de tensões e desigualda­des sociais.

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