Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Descida de taxas de juro essenciais para Portugal
Dde vários anos de feroz braço de ferro com a inflação, o Banco Central Europeu mostra-se neste momento convicto que existem condições para começar a descer as suas taxas de juro diretoras – que se encontram atualmente nos 4,5% desde setembro de 2023 – num momento em que a inflação na zona euro continua a dar sinais de queda para níveis compatíveis com o critério de estabilidade de preços da autoridade monetária, ou seja, em tornos dos 2% a 2,5%. O combate pela estabilidade de preços não foi, contudo, isento de custos. O agregado da economia da União Europeia, apesar de ter evitado uma recessão profunda, cresceu apenas 0,5% em 2023 e deverá crescer também abaixo de 1% em 2024. Este é, por isso, um momento de elevada relevância, uma vez que a capacidade de inversão do ciclo da política monetária será importante para que a União Europeia estabilize e volte a crescer. E será fundamental para economias financeiramente mais expostas às mesmas, como é o caso de Portugal.
Olhando para os fundamentais económicos, os sinais são interessantes para a economia nacional. O turismo deverá continuar a ser um catalisador para as exportações e depois do crescimento registado em 2023, com mais de 18 milhões de turistas estrangeiros (+19% face a 2022 e +11% face a 2019), a atividade continuou em ritmo acelerado durante os primeiros meses deste ano, com o número de visitantes estrangeiros a subir acima dos dois dígitos (+10,4%) face ao período equivalente (final de fevereiro) do ano passado. Isto significa que a economia portuguesa deverá crescer acima do que é esperado para a média da zona euro (1,2% vs 0,8%), de acordo com números da Comissão Europeia. Isto num contexto em que a inflação estará controlada em torno dos 2,3% durante o ano, e onde o crescimento médio dos salários (+5,5% de acordo com o Eurostat) pode também conferir um sinal positivo em termos de resiliência do mercado de emprego, e também, da confiança dos consumidores.
Como riscos, existe obviamente a questão da incerteza política atual, onde a falta de uma maioria coesa parlamentar no governo de centro-direita pode afetar algumas variáveis relevantes, como a implementação de reformas importantes para assegurar as próximas tranches de investimento dos fundos europeus, do qual se espera que Portugal receba 16,3 mil milhões de euros em subsídios e 5,9 mil milhões de euros em empréstimos entre 2021 e 2026. E que são uma oportunidade que não pode ser desperdiçada para que o resto da década possa ser transformadora e impulsionadora do crescimento potencial e estratégico do país.
Mas olhando a um prazo mais tático, digamos a 12-18 meses, será essencial para Portugal o ritmo a que o Banco Central Europeu proceder a descidas de taxas de juro. Isto, porque muito da recuperação poderá assentar na recuperação da confiança dos consumidores e das famílias – cujas intenções de consumo são, no nosso país, especialmente sensíveis às taxas de juro, seja pelo elevado nível de endividamento, seja pela indexação a taxas variáveis das hipotecas – mas também junto das empresas de pequena e média dimensão, pela capacidade que cria para que os custos financeiros diminuam – aliviando pressões de tesouraria de curto prazo –, mas também pela capacidade que cria para que as empresas possam ter condições de financiamento para investir, e consequentemente, criar melhores condições no mercado de emprego. Caso as taxas de juro do Banco Central Europeu recuem até 2025, para níveis próximos dos 2,5%, isto poderá ser essencial para que a retoma económica possa ser mais rápida, e mais profunda na sociedade, de forma a ser menos sentida apenas nas estatísticas oficiais, e mais sentida na “rua”, abrindo porta a um enquadramento fiscal menos agressivo que o atual, e consequentemente conter o agravamento de tensões e desigualdades sociais.