Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Dinheiro em Campo Itália aposta em Como e Veneza para ativar turismo futebolíst­ico

Como os clubes das duas encantador­as cidades estão a caminho da Serie A, o calcio, assim como as paisagens, o vinho e o queijo, fará parte dos itinerário­s dos visitantes americanos e não só.

- —JOÃO ALMEIDA MOREIRA geral@dinheirovi­vo.pt

Há turismo de sol e praia, turismo rural, turismo gastronómi­co, turismo cultural, turismo religioso, turismo de aventura, ecoturismo. E há, principalm­ente durante os mundiais, turismo futebolíst­ico. A Itália, entretanto, por ser uma das salas de visitas do mundo, quer atrair este último tipo de turismo na baixa temporada de outono e inverno, aquela, no fundo, em que os campeonato­s se jogam. E aposta forte na Serie A de 2024.

O mercado dos EUA, sobretudo, mas também o japonês, o chinês e o de outros pontos do globo começou a incluir nas visitas à Europa, desde há décadas, o futebol no itinerário: se é para desfrutar do Velho Continente, desfrutemo­s da cultura europeia e se é para desfrutar da cultura europeia, o soccer não pode faltar, pensam os viajantes.

Inglaterra, por ser o berço do futebol e hospedar a Premier League, principal das ligas mundiais, já beneficia do turismo futebolíst­ico há mais tempo. A indústria do futebol vem até democratiz­ando o turismo na ilha, com Liverpool e Manchester a assumirem-se cada vez mais como polo turístico alternativ­o a Londres, graças ao Liverpool FC e ao Everton, numa cidade, e aos vizinhos Manchester United e Manchester City, na outra.

Se Londres somou meio milhão de visitantes em 2019 – os dados de 2020 e 2021 não são indicadore­s precisos por causa da pandemia – o noroeste inglês chegou a 376 000, a menor diferença de sempre, graças, em boa medida, ao soccer.

Desses 376 000, 18% viajaram, segundo a revista Forbes, apenas com o intuito de ver um jogo de futebol – Old Trafford, por exemplo, recebeu 226 mil visitas, Anfield, 223 mil. E de se fotografar lado a lado com o Mini Cooper de George Best, estrela norte-irlandesa do United, exposto no Museu de Futebol do país, não por acaso sediado em Manchester, em vez de Londres, e destino de 50 mil turistas em 2019 só de fora do Reino Unido.

Aliás, nem é preciso ir ao estádio pagar somas astronómic­as por bilhetes para sentir o jogo: turistas americanos, segundo os mesmos dados, preferem ver as partidas num pub rodeados de pints numa atmosfera bem british.

Talvez a Serie A italiana não tenha a mesma força, hoje em dia, da Premier League. Mas tem (quase) a mesma tradição, a mesma paixão, a mesma quota de clubes gigantesco­s e – concordarã­o até os britânicos – um clima claramente mais agradável, uma gastronomi­a claramente mais rica e cidades claramente mais encantador­as. Em 2022, segundo o site Statista, o turismo gerou 190 mil milhões de euros, cerca de 10,2% do PIB italiano, diga-se de passagem.

Duas daqueles cidades encantador­as são Como, lado a lado com o lago com o mesmo nome, e a inevitável Veneza. O problema é que o Como 1907 e o Venezia FC andam perdidos nas divisões menores. Não mais: o Como está em segundo e o Venezia em terceiro na Serie B com fortes probabilid­ades de subida à elite (em primeiro está o Parma que, com o seu prosciutto e o seu tour para fãs de Giuseppe Verdi, filho da cidade, também não é um destino de férias de se jogar fora).

Ou seja, em Itália já se fazem contas aos milhares e milhares de dólares de turistas ávidos por passear em Milão e ver o Inter ou o Milan. E, no dia seguinte, assistir à partida do Como, logo ali ao lado, após um dia passado em lagos e montanhas. Depois, um desvio na rota pelo Veneto, andar de gôndola à tarde e ir à bola à noite para assistir, digamos, a um Veneza-Juventus. Com Florença, Roma ou Nápoles a um pulinho de carro ou de comboio. E tudo embrulhado em vinhos, queijos, pastas e pão, fora igrejas, museus, arquitetur­a e moda.

Acresce que Fiorentina, Milan, Parma, Roma e Atalanta já estão nas mãos de investidor­es norte-americanos (e o Bolonha de canadianos) sensíveis ao gosto turístico dos compatriot­as. O turismo futebolíst­ico cresce na Europa e Inglaterra, primeiro, e Itália, agora, estão na dianteira do negócio.

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FOTO: MARCO BERTORELLO/AFP Apesar der o Venezia FC estar numa divisão menor, não retira brilho ao destino turístico.

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