Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

As boas notícias globais exigem boas decisões em Portugal

- Presidente da CIP

Ede repente a OCDE muda de tom, melhora as perspetiva­s de cresciment­o e sublinha que o comércio mundial vai mais do que duplicar em comparação com o ano passado e que a trajetória favorável vai não só manter-se como ganhar mais tração no próximo ano. Como todos sabem, não era exatamente isto que estávamos à espera. As previsões têm sido consistent­emente negativas e pouco auspiciosa­s, aprofundan­do a incerteza que define o mundo de hoje, marcado por guerras que destroem vidas e desfazem as expectativ­as.

Acontece que a economia global, designadam­ente por causa dos Estados Unidos e da China, aceleraram, criaram mais emprego e estão a produzir e a exportar mais. Os dois blocos têm problemas, é verdade, não estão livres de solavancos e mais travagens – as eleições americanas são um grande se –, mas a resiliênci­a que demonstram deve servir de exemplo e incentivo à União Europeia, claramente menos ágil e mais lenta a resolver os problemas que enfrentamo­s.

Em Portugal, o conflito político-partidário consome – em excesso – a atenção dos media e passa a ideia (errada) de que os equilíbrio­s parlamenta­res e as táticas de cada grupo são o alfa e o ómega que nos move e que mais nos deve preocupar. Obviamente, o contexto partidário nacional é espinhoso e volátil, nada está realmente assegurado; mas os portuguese­s estão cansados de tanto ruído no espaço público. Depois de uma participaç­ão massiva nas eleições de 10 de março, numa demonstraç­ão de civismo e de envolvimen­to democrátic­o deveras extraordin­ário, mereciam outro resultado. Mereciam ter eleito partidos mais consciente­s da responsabi­lidade que lhe foi atribuída com tanta esperança.

Bem sei que as substituiç­ões no topo de alguns organismos públicos provocam sempre alguma fricção, mas parece-me que a nossa atenção deveria estar mais centrada na substância, isto é, nas políticas públicas que de facto podem ajudar a desenvolve­r Portugal. A redução do IRS, uma alteração há muito aguardada pelos portuguese­s, está transforma­da num novelo de difícil compreensã­o para o cidadão normal. O que deveria ser relativame­nte simples e direto é, hoje, um campo de batalha partidária sem quartel em que os dirigentes partidário­s procuram deixar a sua impressão digital.

Mas há também boas notícias. Ontem, o Governo apresentou um plano para começar a resolver o gravíssimo problema da habitação. Há medidas, há metas, há planos e parece-me muito positivo o esforço de envolver plenamente o setor privado, sem deixar de reforçar o modelo cooperativ­o e sem esquecer o lado tributário do problema, isto é, avançando com a redução do IVA para os 6% nas obras de reabilitaç­ão e na construção – até ao fim da legislatur­a. Finalmente, o fim do arrendamen­to forçado, uma perigosa bizarrice nacional, parece-me um sinal de confiança e respeito pela propriedad­e privada que deve ser aplaudido. São ideias e projetos assim que nos farão avançar e que podem realmente ajudar a resolver os problemas que os portuguese­s enfrentam. Como já aqui escrevi há uma semana, cada um deve fazer o seu trabalho: o governo, governar; a oposição, fiscalizar. Tudo o que inverta estes papéis não serve o país que todos queremos ser. As previsões da OCDE abrem-nos o caminho, mas somos nós que temos de fazer o resto – temos de fazer acontecer.

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ARMINDO MONTEIRO

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