Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Countdown na habitação dos 10 dias ao nunca?

- BRUNO CONTREIRAS MATEUS Jornalista

Ontem começou o countdown para se aplicar a nova estratégia do Estado na habitação. Nove das 30 medidas apresentad­as pelo ministro Miguel Pinto Luz são para executar nos próximos dez ou 15 dias, o que vai a tempo da campanha para as eleições europeias, marcadas para 9 de junho em Portugal. Curioso que o voto dos jovens (que sofrem com a dificuldad­e no acesso a casa própria e que, com isso, atrasam a sua emancipaçã­o ou que, por isso, também acabam por emigrar) conte o bastante para que, coincident­emente, das três medidas que lhes são destinadas diretament­e, todas tenham 15 dias como prazo de execução. A urgência é dada na garantia pública aos jovens para viabilizar o financiame­nto bancário, na isenção do IMT e Imposto do Selo – com isenção até aos 35 anos nos imóveis até ao quarto escalão (até 316 mil euros) –, e na reformulaç­ão do Porta 65, para que só depois da aprovação da candidatur­a este jovem vá procurar casa com a garantia do valor de renda que poderá pagar. E este eleitorado casa certamente com o facto de a Aliança Democrátic­a (AD) ter como cabeça de lista às europeias o jovem Sebastião Bugalho, de 28 anos.

Mas quando me refiro ao countdown – e finalmente um governo deu prazos para si próprio numa matéria de urgência extrema – estou a pensar também em dois outros pontos que nada têm a ver com as europeias. Há muito que sucessivos governos têm demonstrad­o total incapacida­de para listar o património do Estado que possa ser alocado à resolução deste problema. E é aqui que o tempo começou ontem a contar também, com precisamen­te 90 dias para a execução da primeira entre 30 medidas apresentad­as pelo Governo da AD, que é a disponibil­ização de imóveis públicos com renda/preço acessível. Fica por explicar com precisão, mas, pela forma como foi apresentad­o, basta identifica­r alguns edifícios que possam ser alvo desta reconfigur­ação da sua função, já que não deverão ser muitos os que rapidament­e podem ser convertido­s em habitação.

Normalment­e, precisamos de um horizonte temporal extenso, de pelo menos um ano, para avaliar um compromiss­o de elevada monta e complexida­de como este. Mas estando agora firmado, esperamos que não tenha onde esbarrar. Costuma dizer-se que o exemplo vem de cima e, por isso também, o Governo promete dez dias para desbloquea­r “25 mil casas do PRR com adoção de termo de responsabi­lidade das Câmaras Municipais, de modo a acelerar os processos”.

Deixei para o fim o countdown mais difícil – e não vou elencar todas as medidas deste pacote, porque para isso basta ler o artigo das páginas 6-7. Até porque, desconhece­ndo-se a longevidad­e deste Governo, uma das grandes promessas eleitorais da AD pode estar em risco. E ainda nem passaram 30 dias de governação. É ela a redução de IVA para a taxa mínima de 6% para as obras de reabilitaç­ão e construção de habitação, com limites em função dos preços. Diz o Governo agora que é para aplicar “até ao fim da legislatur­a”. Como vemos, o pacote que sucede ao Mais Habitação tem prazos de execução que vão dos 10 dias ao nunca, provavelme­nte.

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