Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Olhar para a indústria
Nprimeiros três meses de 2024, o número de trabalhadores vítimas de despedimento coletivo quase duplicou face ao mesmo período do ano passado, abrangendo 1549 pessoas. Acresce que, em março deste ano, estavam em lay-off 10 827 trabalhadores, mais do dobro dos registados no mesmo mês de 2023.
Estes números indicam que o tecido industrial, e em particular os setores tradicionais, está agora a sofrer com severidade as consequências da retração da procura externa, da subida da inflação e do elevado custo do financiamento. Tudo isto, recorde-se, é resultado da instabilidade geopolítica e da ressaca da crise pandémica, que vieram disromper as cadeias de abastecimento globais.
Perante este cenário, importa definir uma verdadeira política industrial para Portugal. Política essa que tenha em conta as oportunidades para a indústria abertas pela transição digital e energética, pela economia verde, pela relocalização de negócios em países próximos (nearshoring) e pela regionalização das cadeias de abastecimento.
Há hoje um contexto que aconselha à reindustrialização da Europa. A conjuntura geopolítica não favorece a deslocalização da produção para o Oriente e a dependência de cadeias de abastecimento longas, nomeadamente a partir da China, parceiro comercial que o Ocidente vê com crescente desconfiança.
Uma política industrial serviria para criar melhores condições para as atividades produtivas e exportadoras. O que passa, a meu ver, pela redução da burocracia, que é bastante pesada nos licenciamentos industriais; pelo aumento dos incentivos à inovação, para que a indústria desenvolva produtos de maior intensidade tecnológica; pela aceleração do acesso aos fundos europeus e ao financiamento do Banco Português de Fomento, de forma a atenuar a alta das taxas de juro; e, claro, por um desagravamento fiscal que reduza as despesas e fortaleça a tesouraria das empresas.
Em relação à carga fiscal, o Governo comprometeu-se a reduzir o IRC de 21% para 15% em três anos. A medida terá certamente efeitos positivos, embora limitados pelo facto de só pouco mais de 50% das empresas pagar IRC. Por conseguinte, talvez fosse mais eficaz uma política de benefícios fiscais em sede de IRC que premiasse as empresas com boas práticas remuneratórias, ambientais e sociais ou que investissem em I&D+i.
Independentemente da evolução do mercado de trabalho e das exportações é necessária uma política industrial nacional, que promova a competitividade externa e atraia investimento.