Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
O que nos dizem os resultados das empresas?
Está neste momento a finalizar a época de apresentação de resultados relativamente à atividade das grandes empresas cotadas nas principais bolsas mundiais. A tradicional “earnings season” é um ciclo que tem uma importância relevante para a economia porque permite aos observadores perceber o estado de arte do setor corporativo, o que obviamente tem implicações para a evolução futura dos investimentos, do emprego e também da adequabilidade da política monetária – ou seja, de que forma está o atual nível dos juros a influenciar a atividade das empresas. Existem pelo menos duas maneiras sobre as quais tradicionalmente os analistas olham para os resultados. Primeiro, perceber se as empresas continuam a crescer, e se estão a acrescer acima ou abaixo do previsto pelas próprias, ou pelos analistas financeiros que as seguem. Numa segunda vertente, perceber se as empresas – face ao que apresentaram e à luz das variáveis atualizadas sobre os seus setores – estão a rever em alta ou em baixa o que pensam realizar em vendas e lucros até ao final do ano. Ou seja, neste caso concreto, se após 3 meses de atividade estão mais otimistas, ou menos otimistas para 2024.
E o que dizem então os resultados das empresas neste momento? Numa primeira análise, nos Estados Unidos, num momento em que já quase todas as empresas do índice bolsista de referência S&P 500 apresentaram resultados (mais de 80%), o balanço global é moderadamente positivo. A percentagem de empresas do índice que apresentou lucros acima do esperado é de 77%, um valor que está acima da média de 10 anos (74%). No global, os lucros das maiores empresas americanas subiram 7,5%, e representam a maior subida de resultados líquidos (por ação) desde o segundo trimestre de 2022.
Numa segunda linha de abordagem – as expectativas para o resto do ano –, o cenário também é positivo. Neste momento, e após este ciclo de apresentações de resultados, os observadores e analistas que acompanham este mercado estão a rever em alta as estimativas para 2024, e acreditam agora que as maiores empresas cotadas na maior bolsa do mundo deverão crescer cerca de 11%. Na Europa, os resultados têm sido menos animadores, ainda assim, têm vindo a sair ligeiramente acima das expectativas, mas uma variável é comum no que diz respeito aos dois agregados económicos. Apesar da implementação de políticas monetárias restritivas, e da inflação, o consumo privado tem conseguido ser resiliente o suficiente para suportar a atividade e, consequentemente, garantir o crescimento dos resultados das empresas.
Por fim, numa altura em que os principais bancos centrais estão numa fase de decisões importantes, depois de cerca dois anos de subidas de taxas de juro, estes resultados podem transmitir uma mensagem de confiança. Permite que exista uma inversão suave da política monetária por parte dos
Bancos Centrais, de forma que as taxas de juro possam descer de forma gradual – uma vez que os riscos de recessão parecem reduzidos –, para acomodar a inflação até que esta chegue a níveis considerados mais neutrais para a economia (2%). Por fim, porque também criam uma confiança nos agentes económicos para os próximos anos, sustentada num ciclo saudável de crescimento da atividade, conjugada com uma maior previsibilidade de condições monetárias e de taxas mais indutoras de crescimento saudável das principais economias desenvolvidas.