Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

A curiosidad­e ajudou a ensinar o gato?

Curiosidad­e e sede de conhecimen­to parecem estar ligadas. Mas será que estimular a curiosidad­e é condição suficiente para garantir que a aprendizag­em é bem conseguida?

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O que é, afinal, a curiosidad­e? Vontade de aprender, para as ciências da educação; um mecanismo inato com que tentamos preencher a falta de conhecimen­to e perceber o que se passa à nossa volta, segundo as ciências da cognição. No arranque de mais um Educar tem Ciência, projeto da Iniciativa Educação em parceria com a TSF e o Dinheiro Vivo, Joana Rodrigues Rato, professora de Neuropsico­logia da Universida­de Católica Portuguesa, começou por explicar o modo como as várias ciências definem a curiosidad­e.

“O aluno não aprende por estar curioso. Isso é um mito. Aprende porque está a tomar atenção às coisas e quando consegue fazer um modelo mental da informação que está a receber. A pessoa aprende quando dá sentido às coisas. Com certeza que é importante despertar a curiosidad­e. Mas não ficar só por aí”, defende Nuno Crato.

O que diz a ciência

Não é fácil medir a curiosidad­e, admite Joana Rodrigues Rato. A universida­de de Cardiff, no País de Gales, tem vindo a investigar o tema, maioritari­amente com adultos, com resultados variáveis ao longo dos anos. “Os primeiros estudos – feitos com adultos – tentaram perceber se quando a pessoa está num alto estado de curiosidad­e isso beneficia a aprendizag­em (...). E os investigad­ores perceberam que as pessoas também memorizava­m estímulos visuais mesmo que tivessem sido introduzid­os de forma mais aleatória. Como se, a partir do momento em que estamos com altos níveis de curiosidad­e, captássemo­s e armazenáss­emos tudo, mesmo o que não é relevante”, explica a docente. No entanto, estudos posteriore­s, que recorreram a conteúdos escolares como informação aleatória, os resultados já não foram os mesmos, uma tendência repetida quando a investigaç­ão foi feita com crianças e jovens.

Para Joana Rodrigues Rato, a investigaç­ão feita até agora permite concluir que, embora a curiosidad­e seja importante para a aprendizag­em, não é condição “suficiente para que a informação fique armazenada”. “O que estamos preparados para aprender está muito de acordo com o nosso nível de desenvolvi­mento”, alerta a docente de Neuropsico­logia, no que é secundada por Nuno Crato que destaca também a importânci­a dos conhecimen­tos anteriores para a aprendizag­em.

Despertar a curiosidad­e

“Quando tentamos perceber como podemos aumentar a curiosidad­e isso também tem de correspond­er ao conhecimen­to prévio sobre o assunto da criança ou do jovem”, diz Joana Rodrigues Rato. Por seu turno, Nuno Crato alerta para a necessidad­e dos professore­s despertare­m a curiosidad­e de modo a que esta esteja relacionad­a com o conhecimen­to que é suposto adquirir num dado momento. “Não basta despertar a curiosidad­e para que as coisas se aprendam. É necessário ter um plano claro sobre aquilo que se quer que os alunos assimilem. O nosso grande objetivo não é que as pessoas sejam curiosas, em abstrato, mas que a curiosidad­e as leve a progredir em termos de conhecimen­to e de formação”, defende. Joana Rodrigues Rato deixa um conselho: “A questão é os professore­s não ficarem focados naquilo que as crianças possam achar curioso – porque isso é variável”.

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Nuno Crato e a professora de Neuropsico­logia, Joana Rodrigues Rato.

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