VIVER NO CAMPO
É um lugar comum: viver no campo dá mais satisfação com a vida. Será assim?
Parece que sim. Quanto maior é a densidade populacional, menor é a satisfação com a vida. Nos países mais desenvolvidos, em geral, as pessoas que vivem no campo, no chamado mundo rural, tendem a ter maior satisfação com a vida do que quem vive nas cidades, segundo dois estudos científicos, publicados nas revistas ‘Cities’ e ‘World Development’. Na China, país gigantesco em desenvolvimento, passa-se o mesmo: quem vive em zonas rurais mostra níveis mais altos de bem-estar do que quem vive nas cidades, que albergam populações consideravelmente mais ricas do que as que vivem no campo.
Outro estudo, sobre a população dos Estados Unidos, publicado na revista ‘Urban Geography’, defende que os residentes no campo e em pequenas vilas norte-americanas são mais felizes do que quem vive nos arredores das cidades de média dimensão; que por sua vez é mais feliz do que quem vive no centro dessas mesmas cidades; que também é mais feliz do que quem vive nas zonas centrais das grandes cidades dos EUA.
Mas porque é que as pessoas são mais felizes quanto menor é a densidade populacional do local onde vivam? Quanto menos gente viva à sua volta? Uma das explicações é a de as grandes cidades criarem dificuldades acrescidas no quotidiano; por exemplo, o anonimato, o afastamento dos assuntos colectivos, a desorganização do dia-a-dia, etc.
Registos de ressonância magnética FMRI mostram que o cérebro dos habitantes de grandes cidades responde mais acentuadamente ao stress do que o cérebro das pessoas que vivem no campo.
Um dos motivos para este facto pode assentar na evolução humana. Por razões históricas, o cérebro humano tenderá a sentir-se agitado e desconfortável no seio de comunidades grandes, de grupos superiores às comunidades de cem ou duzentas pessoas, que marcaram as centenas de milhares de anos de vida dos seres humanos enquanto nómadas. Este registo da evolução da humanidade ainda hoje levaria as pessoas a sentir mais stress e menos bem-estar nas cidades.
Mas as coisas podem estar a mudar… O dia a dia de biliões de pessoas no mundo mais desenvolvido, e não só, é um quotidiano de computadores e sobretudo de smartphones, permanentemente ligado à Internet. Quem vive neste ambiente, quem se habituou a ele, numa cidade ou numa aldeia, estranha e sente-se de facto stressado quando esse mesmo ambiente desaparece, quando o telemóvel não tem rede, quando não há Wi-Fi... Hoje, a generalidade do mundo rural tem Internet e rede de telemóvel, mas… aqui e ali, de vez em quando, não tem, e aí é que é mesmo um stress.
Porque é que as pessoas são mais felizes quanto menos gente viva à sua volta?