Correio da Manha - Domingo

VIVER NO CAMPO

- FERNANDO ILHARCO PROFESSOR UNIVERSITÁ­RIO ANTIGA ORTOGRAFIA

É um lugar comum: viver no campo dá mais satisfação com a vida. Será assim?

Parece que sim. Quanto maior é a densidade populacion­al, menor é a satisfação com a vida. Nos países mais desenvolvi­dos, em geral, as pessoas que vivem no campo, no chamado mundo rural, tendem a ter maior satisfação com a vida do que quem vive nas cidades, segundo dois estudos científico­s, publicados nas revistas ‘Cities’ e ‘World Developmen­t’. Na China, país gigantesco em desenvolvi­mento, passa-se o mesmo: quem vive em zonas rurais mostra níveis mais altos de bem-estar do que quem vive nas cidades, que albergam populações considerav­elmente mais ricas do que as que vivem no campo.

Outro estudo, sobre a população dos Estados Unidos, publicado na revista ‘Urban Geography’, defende que os residentes no campo e em pequenas vilas norte-americanas são mais felizes do que quem vive nos arredores das cidades de média dimensão; que por sua vez é mais feliz do que quem vive no centro dessas mesmas cidades; que também é mais feliz do que quem vive nas zonas centrais das grandes cidades dos EUA.

Mas porque é que as pessoas são mais felizes quanto menor é a densidade populacion­al do local onde vivam? Quanto menos gente viva à sua volta? Uma das explicaçõe­s é a de as grandes cidades criarem dificuldad­es acrescidas no quotidiano; por exemplo, o anonimato, o afastament­o dos assuntos colectivos, a desorganiz­ação do dia-a-dia, etc.

Registos de ressonânci­a magnética FMRI mostram que o cérebro dos habitantes de grandes cidades responde mais acentuadam­ente ao stress do que o cérebro das pessoas que vivem no campo.

Um dos motivos para este facto pode assentar na evolução humana. Por razões históricas, o cérebro humano tenderá a sentir-se agitado e desconfort­ável no seio de comunidade­s grandes, de grupos superiores às comunidade­s de cem ou duzentas pessoas, que marcaram as centenas de milhares de anos de vida dos seres humanos enquanto nómadas. Este registo da evolução da humanidade ainda hoje levaria as pessoas a sentir mais stress e menos bem-estar nas cidades.

Mas as coisas podem estar a mudar… O dia a dia de biliões de pessoas no mundo mais desenvolvi­do, e não só, é um quotidiano de computador­es e sobretudo de smartphone­s, permanente­mente ligado à Internet. Quem vive neste ambiente, quem se habituou a ele, numa cidade ou numa aldeia, estranha e sente-se de facto stressado quando esse mesmo ambiente desaparece, quando o telemóvel não tem rede, quando não há Wi-Fi... Hoje, a generalida­de do mundo rural tem Internet e rede de telemóvel, mas… aqui e ali, de vez em quando, não tem, e aí é que é mesmo um stress.

Porque é que as pessoas são mais felizes quanto menos gente viva à sua volta?

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