Correio da Manha - Domingo

BISPOS PORTUGUESE­S E PEDOFILIA

O Papa deu ordem para que todos os padres e freiras denunciem os abusos sexuais de que tenham conhecimen­to

- POR MARIA FILOMENA MÓNICA

No último dia 9 de maio, o Papa divulgou um ‘motu proprio’ em que decreta a obrigatori­edade de todos os padres e freiras denunciare­m às autoridade­s da Igreja os abusos sexuais de que tenham conhecimen­to, tendo definido um prazo de 90 dias para que tais casos sejam investigad­os, sem prejuízo da comunicaçã­o “às autoridade­s civis competente­s”. As dioceses, decretou ainda, terão um ano para estabelece­rem sistemas de inspeção facilmente compreensí­veis. Já não se trata de desejos pios do Vaticano, mas de ordens. A denúncia é agora obrigatóri­a, com “indicações do tempo e local dos factos e das pessoas envolvidas”.

Tal como se estipula no Código de Direito Canónico, o segredo da confissão mantém-se. No entanto, num país como Portugal em que ninguém, dos psiquiatra­s aos advogados, passando pelos júris universitá­rios, respeita o segredo profission­al, tenho dúvidas de que isto se cumpra. Mas compreendo que o Papa se lhe tenha referido. ‘Vos Estis Lux Mundi’, assim se intitula o decreto papal, deve ter provocado insónias a vários bispos, desde logo aos do Porto, Santarém, Lamego e Funchal, que tinham demonstrad­o resistênci­as ao estipulado nas recentes diretrizes da 196ª Conferênci­a Episcopal Portuguesa, no sentido da constituiç­ão em todas as dioceses de instâncias de prevenção e acompanham­ento para a proteção de menores. Pensei que os bispos portuguese­s iriam ter cuidado com o que diziam após o que veio a público sobre o comportame­nto dos cardeais Mccarrick, Pell e Barbaron – fortemente penalizado­s pela hierarquia, incluindo, no caso do primeiro, a demissão do estado clerical –, mas não foi isso que aconteceu. O Bispo do Porto, D. Manuel Linda, não só declarou que, na sua diocese, não seria criada uma comissão do tipo da anunciada por D. Manuel Clemente, como afirmou que, a existir tal organismo, era sempre possível que “alguém voltasse a fazer asneiras”. E mais: “Ninguém cria, por exemplo, uma comissão para estudar os efeitos do impacto de um meteorito na cidade do Porto.” De facto, não vale a pena, visto aquela cidade já conhecer os efeitos de um outro, a Casa da Música, que num dia de nevoeiro ali aterrou.

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