Pré-publicação de ‘O Senhor’, de E. L. James,
E. L. James, a rainha da literatura erótica para mulheres, regressa com ‘O Senhor’
o primeiro romance fora do universo do ‘Cinquenta Sombras de Grey’. A receita é a mesma mas desta vez é com um conde e a sua empregada doméstica
Pré-publicação de ‘O Senhor,’ o mais recente livro de E. L. James que repete a receita de ‘Cinquenta Sombras de Grey’.
(...)Quem demónios será esta criatura tímida no meu corredor? Estou completamente perplexo. Será que já a tinha visto? Uma imagem de um sonho esquecido revela-se como uma polaroide na minha memória, um anjo de azul a pairar à beira da minha cama. Mas isso foi há dias.
Poderia ser ela? E agora está aqui, colada ao chão do corredor, com o rosto infantil empalidecido e os olhos voltados para baixo. Os seus nós dos dedos vão ficando cada vez mais brancos enquanto ela aperta cada vez mais o cabo da vassoura, como se isso a ancorasse à Terra. O lenço na cabeça tapa-lhe o cabelo e uma bata enorme, antiquada e de poliéster esconde-lhe o corpo pequeno. Parece completamente deslocada. – Quem é você? – pergunto-lhe, desta vez num tom mais delicado, sem querer alarmá-la. Uns olhos grandes, da cor de um belo café e emoldurados pelas pestanas mais compridas que alguma vez vi, fitam-me, e logo tornam a fixar o chão. Merda!
Uma espreitadela dos seus olhos escuros, insondáveis e fico... perturbado. Ela dá-me, no máximo, pelo ombro, terá talvez um metro e sessenta e cinco, quando eu meço quase um e noventa. As suas feições são delicadas: malares altos, um nariz empinado, pele clara e perfeita, e uns lábios pálidos. Parece precisar de uns dias ao sol e de uma boa refeição farta.
É óbvio que está a tratar das limpezas. Mas porque será ela? Porque estará aqui? Terá substituído a minha velha mulher a dias? – Onde está a Krystyna? – pergunto, a ficar um pouco frustrado com o seu silêncio. Talvez seja filha de Krystyna... ou neta.
Ela continua a fitar o chão, de sobrolho franzido. Os seus dentes brancos e regulares mordem o lábio superior enquanto ela se recusa a corresponder-me ao olhar. Olha para mim, ordeno-lhe mentalmente. Tenho vontade de me aproximar e de lhe inclinar o queixo para cima, mas, como se me lesse a mente, ela levanta a cabeça. Os seus olhos fitam os meus e a sua língua aparece, lambendo nervosamente o lábio superior. Todo o meu corpo se retesa num alvoroço quente e forte, com o desejo a atingir-me como uma bola demolidora.
C’um caraças!
Estreito os olhos, com a exasperação a seguir-se de imediato ao desejo. Que raio se passará comigo? Porque será que uma mulher que nunca tinha visto tem um efeito destes em mim? É irritante. Sob umas sobrancelhas com um belo arco, os seus olhos arregalam-se mais, e ela dá um passo atrás, atrapalhando-se com a vassoura, que lhe cai das mãos e estardalha no chão. Ela dobra-se com uma elegância simples e económica para a apanhar e, depois de se endireitar novamente, fixa o olhar no cabo, com um rubor lento a infundir-lhe as faces enquanto balbucia qualquer coisa ininteligível. Raios partam! Será que estou a intimidar a pobre rapariga? Não era essa a minha intenção.
Estou irritado comigo. Não com ela. Ou talvez haja outra razão para o seu comportamento.
– Se calhar não me entende – digo, mais paramimmesmo, e passo uma mão pelo cabelo enquanto recupero o controlo do corpo. O domínio de inglês de Krystyna reduzia-se às palavras “sim” e “aqui”, o que, bastantes vezes, requeria muita gesticulação daminha parte, quando precisava que efetuasse tarefas que fossem além da sua rotina normal de limpezas. A rapariga também deve ser polaca.
Sim. Para uma mulher a usar uma bata de nylon, é gira
– Sou empregada de limpeza, senhor – sussurra ela, com os olhos ainda voltados para baixo e as pestanas espalhadas sobre as faces luminosas.
– Onde está a Krystyna? – Voltou para Polónia. – Quando?
– Semana passada.
Isto para mim é novidade. Por que raio não soube disto? Eu gostava de Krystyna. Tratou-me da casa durante três anos e conhecia todos os meus pequenos segredos sórdidos. E nem sequer pude despedir-me dela. Talvez isto seja temporário.
– Ela volta? – pergunto. A testa da rapariga franze-se mais, mas ela nada diz, embora os seus olhos se desviem para os meus pés. Não sei porquê, mas isso faz-me sentir encavacado. Levo as mãos às ancas e dou um passo atrás, cada vez mais estupefacto.
– Há quanto tempo está cá?
Ela responde numa voz ofegante, quase inaudível.
– Em Inglaterra?
– Olhe para mim, por favor – peço-lhe. Porque terá tanta relutância em olhar para cima? Os seus dedos magros tornam a apertar mais o cabo da vassoura, como se pudesse brandi-lo como uma arma, e depois engole emseco e levanta a cabeça, fitando-me com uns olhos grandes, de umcastanho líquido. Olhos emque poderia afogar-me. Fico com a boca seca e o meu corpo torna a pôr-se em sentido.
Foda-se!
– Estou em Inglaterra desde três semanas.
A sua voz soa mais clara e forte, com um sotaque que não reconheço, e, à medida que fala, lança o pequeno queixo em frente, como que num gesto de desafio. Os seus lábios ganharam um tom rosado, o de baixo mais cheio que o de cima, e ela torna a lamber o de cima.
Raios! Estou outra vez excitado. Dou outro passo para trás, afastando-me dela.
– Três semanas? – balbucio, perplexo com a minha reação a ela.
Porque é que isto está a acontecer-me?
O que é que ela tem? É maravilhosa, foda-se, ruge a pequena voz silenciosa na minha mente. Sim. Para uma mulher a usar uma bata de nylon, é gira. Concentra-te. Ela não respondeu à minha pergunta.
– Não. Referia-me a há quanto tempo está aqui no meu apartamento.
De onde vem esta rapariga? Dou voltas à cabeça. A Sra. Blake tinha-me arranjado Krystyna através de um contacto qualquer que ela tinha.
Mas a substituta de Krystyna permanece calada.
– Fala inglês? – pergunto, instando-a a falar. – Como é que se chama?
Ela franze o cenho, fitando-me como se eu fosse idiota.
– Sim. Falo inglês. Chamo-me Alessia Demachi. Estou no seu apartamento desde dez da manhã.
Uau. Fala mesmo inglês.
– Certo. Bem. Como vai, Alessia Demachi? Eu chamo-me...
– O que he i d e d iz e r ? T r e - vethick? Trevelyan? – Maxim. (...)