Correio da Manha - Domingo

QUE AS FÉRIAS FAZEM BEM À ALMA SEMPRE SE SOUBE, MAS A CIÊNCIA

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GARANTE QUE TAMBÉM FAZEM BEM AO CORPO: DIMINUEM O STRESS E A PRESSÃO ARTERIAL, MELHORAM A QUALIDADE DO SONO E A LIBIDO, ENTRE INÚMERAS OUTRAS VANTAGENS. SE JÁ ESTÁ A SONHAR COM AS SUAS, LEIA O QUE DIZEM OS ESPECIALIS­TAS SOBRE OS BENEFÍCIOS DAS FÉRIAS E SOBRE O TEMPO IDEAL QUE DEVEM TER. E É PRECISO IR PARA FORA DO PAÍS PARA USUFRUIR DAS PARAGENS NO TRABALHO?

Os portuguese­s, que em 2016 garantiram a um inquérito que a pausa no trabalho dá mais felicidade do que o amor, já começaram a contagem decrescent­e para as férias. Mas qual a duração ideal das férias? É necessário apanhar um avião para sentir os benefícios?

Não há dicionário que faça verdadeiro jus à felicidade que traz a “interrupçã­o relativame­nte longa de trabalho destinada ao descanso dos trabalhado­res”, mas a ciência dá razão aos que começam a sonhar com as férias assim que a temperatur­a sobe e a vontade de trabalhar diminui. “Existem diversas evidências derivadas de inúmeras investigaç­ões que têm vindo a comprovar que reservar momentos ao longo do ano para férias é

fundamenta­l, independen­temente de quão ocupados estejamos. As férias potenciam o bem estar global, apoiam na gestão de stress, melhoram os padrões de sono, reduzem a pressão arterial, fortalecem relações e aumentam a libido”, confirma Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica e coach, que considera os períodos de pausa laboral “balões de oxigénio no que diz respeito a lazer, descanso, socializaç­ão e prazer”. Se razões faltassem para atribuir às férias a importânci­a que têm, um estudo da Universida­de Cornell, nos Estados Unidos, concluiu que estas trazem mais satisfação do que adquirir bens materiais, enquanto uma investigaç­ão britânica comparou a saúde das pessoas que fizeram férias com a daquelas que continuara­m a trabalhar e concluiu que, em média, a pressão arterial das que foram de férias diminuiu 6%, ao passo que a dos trabalhado­res que se mantiveram nos seus postos subiu 2%. Além disso, a qualidade do sono das pessoas que descansara­m melhorou 17%, ao contrário

do que aconteceu com a outra metade, na qual se observou uma diminuição de 14%. Avaliando os dois grupos – o sortudo e o sem sorte – observou-se ainda que a capacidade daqueles que foram de férias de recuperar do stress aumentou 29%, te ndo - s e re gis tado uma queda de 71% nesta capacidade entre aqueles que continuara­m a rotina casa-trabalho-casa. As férias contribuír­am ainda para que o grupo que interrompe­u as obrigações laborais assinalass­e uma diminuição significat­iva nos níveis de glicose no sangue, o que não só contribui para a redução do risco de diabetes e obesidade como melhora o humor e os níveis de energia.

Desde o Antigo Testamento

As evidências sobre a necessidad­e das férias são tudo menos recentes e conseguimo­s encontrá-las até nos sítios mais inesperado­s. “Algumas delas são quase pré-históricas”, garante o psicólogo José Carlos Garrucho. “O livro de Abraão, Antigo Testamento para os cristãos, já dizia que Deus descansou ao sétimo dia. Ora Deus, que tudo pode, porque raio havia de descansar ao sétimo dia? Como o criador e a criação são uma e a mesma coisa, o que diz o livro é ‘toma atenção porque é preciso descansar ao sétimo dia’ e, por isso, ao fim de cinco dias de trabalho devemos ter o sexto dia para tratar das outras coisas que não são o trabalho puro e duro – cuidar da família, tratar da horta, da casa, fazer as compras – e o sétimo dia é para não fazer nada”, continua este especialis­ta em relações humanas.

“E depois temos uma outra regra essencial, que é interrompe­r estes ciclos todos que depois tornam-se monótonos, com todas as segundas-feiras iguais, as terças iguais, as quartas iguais... é preciso parar isto. Antigament­e, a estes períodos de paragem – não havia férias – chamava-se adiafas, ou seja, fazíamos uma tarefa (uma sementeira, uma colheita) e depois fazia-se uma grande festa de agradecime­nto. No fundo, era já nessa altura um festejar da vida, por termos conseguido cumprira tarefa, eé aí que aparecem as romarias que faziam uma pausa

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