Correio da Manha - Domingo

UMA VIDA CHEIA

- FERNANDO ILHARCO PROFESSOR UNIVERSITÁ­RIO ANTIGA ORTOGRAFIA

Como ter uma vida cheia, uma vida realizada? Qual o segredo de uma boa vida? Serão das perguntas mais antigas de sempre. A filosofia, a psicologia e a medicina, entre outras áreas do conhecimen­to, têm-se debruçado há muito sobre o assunto. O que será essencial a uma boa vida. A saúde? O prazer? O poder?

Segundo investigaç­ão publicada na obra ‘The Good Life: Unifying the Philosophy and Psychology of Well-being’, o investigad­or Michael Bishop, da Universida­de da Flórida (EUA), defende que o segredo de uma boa vida pode dividir-se em dois aspectos. Por um lado, é importante ser parte de redes de relações próximas positivas. Um estudo publicado no ‘British Journal of Psychology’, baseado em 15 mil entrevista­s a pessoas entre os 18 e os 28 anos, mostra que quanto mais tempo passamos com amigos, mais vezes nos sentimos felizes. Por outro lado, levar a cabo actividade­s de que se goste e que nos façam sentir completos, realizados. Ou seja, uma vida realizada, uma vida cheia, assenta em relacionam­entos positivos e em fazer coisas que nos dêem gozo.

Não se trata, no entanto, de uma fórmula que resulte para toda a gente. Aliás, um estudo da London School of Economics mostrou recentemen­te que pode existir uma relação negativa entre o tempo passado em grupo e a inteligênc­ia... As pessoas mais inteligent­es apreciaria­m menos do que o comum o tempo passado em grupo. O valor de se estar em grupo prender-se-ia com a segurança das centenas de milhares de anos da vida nómada da humanidade, em que um ser humano perder-se ou ser expulso do seu grupo podia significar literalmen­te a morte. Mas na sociedade contemporâ­nea a sobrevivên­cia não depende mais de se andar em grupo e, segundo este estudo, as pessoas mais inteligent­es seriam as que mais depressa se estariam a adaptar a esta nova realidade, valorizand­o mais o tempo individual.

Em geral, no entanto, pode dizer-se que ir à praia, assistir a concertos, jogar futebol, passear com a família ou com os amigos são actividade­s que dão satisfação às pessoas. E sendo assim, diz Bishop, elas estão no centro de uma boa vida. O mesmo acontece com o trabalho. Caso gostemos do que fazemos, o trabalho é uma actividade satisfatór­ia em si mesma e é central a uma vida cheia. E pode também tornar-se o centro de uma rede de relações positivas. Concluindo, não descurando o valor do tempo individual, que variará de pessoa para pessoa, o caminho mais curto para uma vida realizada é ter actividade­s de que se goste, desenvolve­ndo grupos de relacionam­ento positivos, que funcionem rotineiram­ente ao longo de todo o ano, seja no trabalho, seja com os amigos ou em família.

Fazer o que se gosta e relações positivas fazem uma boa vida

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