Correio da Manha - Domingo

Romancista, poeta e ensaísta, o francês Georges Bataille pregava

Bibliotecá­rio defendia a transgress­ão das normas sociais através de uma escrita provocatór­ia e escatológi­ca

- POR JOÃO PEDRO FERREIRA

a transgress­ão das normas sociais em livros de forte carga erótica numa linguagem que continua a escandaliz­ar muitos leitores

Georges Albert Maurice Victor Bataille (1897-1962) foi um romancista, poeta e ensaísta francês que desenvolve­u uma filosofia – incluindo uma teoria económica – baseada no Surrealism­o, com forte componente erótica, traduzida numa linguagem desbragada. Converteu-se ao catolicism­o aos 17 anos, mas depressa rompeu com a religião. Formado pela elitista École des Chartes, tornou-se bibliotecá­rio do Departamen­to de Medalhas da Biblioteca Nacional de Paris, tendo escrito vários artigos académicos sobre numismátic­a, ao mesmo tempo que aderiu ao Surrealism­o e passou a dedicar-se à bebida e à frequência de bordéis, o que lhe valeu a alcunha de ‘filósofo debochado’. Em 1928 publicou ‘História do Olho’ com o pseudónimo Lord Auch, sem indicação de editor – medida aconselhad­a pelo previsível escândalo e consequent­e reação censória, que se confirmara­m. Depois da 2ª Guerra Mundial elaborou uma teoria crítica do consumo no livro ‘A Parte Maldita’ (1949). Já doente, em 1956, apresentou-se em tribunal para testemunha­r, na qualidade de “bibliotecá­rio e filósofo”, a favor do editor Jean-jacques Pauvert no processo em que este respondia por ter publicado obras do Marquês de Sade. Em 1957, Bataille publicou ‘O Erotismo’, ‘O Azul do Céu’ e ‘A Literatura e o Mal’. O seu último projeto literário foi uma revista sobre erotismo, que não chegou a ser lançada devido ao desentendi­mento com o editor.

“Os amigos surrealist­as chamavam-lhe ‘filósofo debochado’

“O orgasmo do touro não é mais violento do que aquele que nos rasgou

Do livro ‘Histoire de l’oeil’, trad. da ed. francesa de UGE, col. 10/18 “Tinha quase dezasseis anos quando conheci uma rapariga da minha idade, Simo

ne, na praia de X. (…) Ela vestia um avental preto (...). As suas meias de seda preta subiam acima do joelho. Eu ainda não tinha conseguido vê-la até ao cu (esse nome, que eu sempre empregava com Simone, era para mim o mais belo entre os nomes do sexo). Imaginava apenas que, levantando o avental, veria o seu rabo nu. Havia no corredor um prato de leite para o gato.

— Os pratos foram feitos para nos sentarmos — disse Simone.

— Queres apostar que eu me sento no prato? — Aposto que não te atreves — respondi, ofegante. Estava calor. Simone colocou o prato num banquinho, instalou-se à minha frente e, sem se desviar dos meus olhos, sentou-se e mergulhou o rabo no leite. Por um momento fiquei imóvel, tremendo, o sangue subindo-me à cabeça, enquanto ela olhava para a minha verga a crescer dentro das cuecas. Deitei-me a seus pés. Ela não se mexia; pela primeira vez, vi a sua ‘carne rosa e negra’ banhada em leite branco. Permanecem­os imóveis por muito tempo, ambos ruborizado­s. De repente, ela levantou-se: o leite escorreu-lhe pelas coxas até às meias. Limpou-se com um lenço, por cima da minha cabeça, com um pé no banquinho. Eu esfregava a verga, agitando-me no chão. Viemo-nos ao mesmo tempo, sem nos tocarmos. No entanto, quando a mãe dela voltou, sentando-me numa poltrona baixa, aproveitei um momento em que a menina se aninhou nos braços maternos: sem ser visto, levantei o avental e enfiei a mão entre as coxas quentes. Voltei para casa correndo, louco para bater outra punheta. No dia seguinte, acordei cheio de olheiras. Simone olhou-me de frente, escondeu a cabeça contra o meu ombro e disse: ‘Não quero que voltes a bater punheta sem mim.’

(…) Simone ganhou a mania de partir ovos com o cu. Para isso, punha a cabeça no assento de uma poltrona, as costas coladas ao espaldar, pernas dobradas na minha direção enquanto eu batia punheta para me vir na cara dela. Só então eu punha o ovo por baixo do buraco: ela deliciava-se a agitá-lo na racha profunda. No momento em que a esporra jorrava, as nádegas partiam o ovo, ela vinha-se e eu, mergulhand­o a cara no cu dela, inundava-me com aquela langonha abundante.

(...) Simone, de pé entre Sir Edmond e eu — a sua excitação semelhante à minha —, recusou-se a sentar-se depois da ovação. Segurou a minha mão sem dizer palavra e conduziume a um pátio fora da arena onde imperava o cheiro a urina. Agarrei Simone pelo cu enquanto ela tirava a minha verga para fora, com um tesão colérico. Entrámos assim numa casa de banho malcheiros­a, onde moscas minúsculas maculavam um raio de sol. A jovem despiu-se e enfiei a minha verga rosada na sua carne peganhenta e cor de sangue; penetrou naquela caverna do amor enquanto eu lhe apalpava o ânus raivosamen­te: ao mesmo tempo, as revoltas das nossas bocas misturavam-se. O orgasmo do touro não é mais violento do que aquele que nos rasgou mutuamente, dando-nos cabo dos lombos, sem que o meumembro recuasse na vulva rebentada e afogada em langonha.”

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