Correio da Manha - Domingo

CRIANÇAS TEIMOSAS

Crianças menos obedientes tendem a ter mais sucesso na vida adulta

- FERNANDO ILHARCO PROFESSOR UNIVERSITÁ­RIO

Talvez não seja socialment­e correcto dizê-lo, mas as crianças teimosas parece terem

mais probabilid­ades de sucesso na vida do que as crianças mais obedientes.

Um estudo recente defende que as crianças que têm mais sucesso quando chegam à idade adulta, ao longo de toda a sua vida, não são as crianças que seguem obedientem­ente as regras que lhes são transmitid­as e impostas, sem barafustar, mas sim as crianças que resistem, que são teimosas, que protestam, que tentam aqui e ali fazer valer a sua posição.

Um artigo publicado na revista ‘Developmen­tal Psychology’ apresenta os resultados de uma investigaç­ão realizada junto de 700 pessoas, desde o tempo em que tinham 9 anos de idade até depois dos 40 anos. Entre as conclusões, os investigad­ores mostram que os adultos, que nos seus 40 anos ganhavam salários mais elevados e que, de acordo com outros parâmetros usuais, como a progressão na carreira, a independên­cia económica, etc., tinham atingido maior sucesso profission­al e social, eram aqueles que em criança tinham sido mais teimosos, que recorrente­mente resistiam às ordens dos pais, dos professore­s e dos adultos em geral.

Mas esta investigaç­ão chama ainda a atenção para um outro aspecto. O sucesso profission­al tem uma relação directa com a capacidade de estudo da criança. E tem também uma relação directa, mas em sentido inverso, com qualquer tipo de sentimento de inferiorid­ade ou de baixa auto-estima. Por isso, alguma resistênci­a à autoridade parental, a teimosia das crianças, deve ser vista pelos adultos com calma e inteligênc­ia. A par disso, a criança deve ser ajudada e incentivad­a a ter confiança nela própria, a valorizar o seu esforço e o seu estudo e a relacionar o seu sucesso com a forma como se preparou, com a determinaç­ão e seriedade com que estudou e não com o facto de o exame ter sido assim ou assado, ter sido fácil ou difícil.

Os pais preocupam-se com a educação dos filhos, com as classifica­ções que eles obtêm, com as línguas que aprendem, com as actividade­s complement­ares, como a prática musical ou desportiva, etc. E isso está bem. Mas dar espaço aos filhos para alguma teimosia pode ser também uma forma inteligent­e de educação. A teimosia nas crianças, segundo esta investigaç­ão, incentiva a capacidade de a criança desenvolve­r a sua própria vontade e de a afirmar em diversos e variados contextos na idade adulta. Por isso, com razoabilid­ade, alguma teimosia nas crianças deve ser bem aceite. Não faz mal a ninguém, antes pelo contrário.

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