Correio da Manha - Domingo

FAZ ESTA SEXTA-FEIRA 50 ANOS QUE OCORREU O MAIOR DESASTRE DA GUERRA EM ÁFRICA:

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O NAUFRÁGIO DE UM BATELÃO CARREGADO DE TROPAS E CAMIÕES UNIMOG PROVOCOU MAIS DE UMA CENTENA DE MORTOS DURANTE A TRAVESSIA DO RIO ZAMBEZE, EM MOÇAMBIQUE. O EX-COMBATENTE JOSÉ VIEIRA (NA FOTO EM CIMA) E OUTROS SOBREVIVEN­TES DA TRAGÉDIA RECORDAM A EXPERIÊNCI­A DAQUELE DIA E CONTAM COMO CONSEGUIRA­M SALVAR-SE DA ÁGUA E DOS CROCODILOS

inda hoje não sei nadar”, conta José Vieira, umdos sobreviven­tes do desastre no caudaloso rio Zambeze, 50 anos depois daquele que foi o maior acidente em toda a Guerra Colonial, quando o batelão que fazia a travessia entre Chupanga e Mopeia, carregado com150 homens e 30 viaturas, começou a meter água e se virou num minuto. Nemnamític­abatalhade Nambuangon­go, no início do conflito em Angola, no ano 1961, nemnacompl­exa Operação Nó Górdio, em Moçambique, em 1970, se registaram tantas baixas como neste naufrágio do dia 21 de junho de 1969, em que perderam a vida 101 militares e cinco tripulante­s. Naquele sábado, quando os relógios marcavam 17h30, a barcaça afundou-se tão rapidament­e que O Braga, como era conhecido José Vieira no Batalhão de Caçadores 2853, um eletricist­a da construção civil que era sapador de minas e armadilhas nacompanhi­a estacionad­a em Cantina Dias, seguiu as instruções do sargento que lhe gritou: “Oh, Braga! Agarra-te ao jerricã e não o largues!” Enfrentand­o as duas traiçoeira­s correntes contrárias do rio, “cheio de crocodilos”, após ter andado algum tempo a flutuar, agarrou-se aos ramos de uns salgueiros e ali esperou, com outros camaradas, “mais de quatro horas” pelo helicópter­o que os haveria de retirar da água. “Disseram-me para atar o cabo à cintura e deixar o jerricã com óleo, mas não o larguei, com medo – e, mais tarde, na ilha dos irmãos Campira, um deles disse-me para espalhar aquele óleo pelo corpo e, a partir daí, deixei de sentir frio.”

Heróis Campira

Os quatro nativos irmãos Campira (Vasco, Zeca, Manuel e Armando) foram os heróis dessa noite porque, além de resgatarem, nas suas duas pirogas, 19 pessoas das 54 que se salvaram, desde os vultos que boiavam no rio até aos seis que se mantinham pendurados na ponta da embarcação que ficara fora de água, para aquecer os náufragos na ilhota onde viviam –

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