Última parte da história da megafraude
Corticeira Amorim terá remunerado operários através de subsídios para formação
envolvendo a Amorim, que ‘despediu’ funcionários depois pagos como alunos do seu centro de formação pelo FSE para trabalharem nas mesmas funções
AExpedientes da Ipocorck eram dificilmente imagináveis
s fraudes imputadas ao universo empresarial de américo amorim por utilização indevida de verbas do fundo social europeu(f se ), canalizadas através do centro de formação Forcork – criado por uma empresa do grupo, a Ipocorck, em 1985, e montado em instalações da antiga fábrica Coelho & Pires Lda. –, passaram por expedientes dificilmente imagináveis. O dinheiro destinado à formação de jovens entre os 18 e os 25 anos, sem qualificação profissional, seria encaminhado para trabalhadores, dessa faixa etária, que eram inscritos em “cursos”, enquanto continuavam a executar as suas tarefas.
O processo é explicado num documento interno onde se informava o empresário sobre o melhor método de colocar os operários como formandos. Sem o saberem, a 30 de setembro de 1985, os trabalhadores que constavam duma “lista anexa” eram formalmente “demitidos” – pois “não poderão constar das folhas da Caixa de Previdência de Outubro” – e inscritos nas ações de formação. A partir daí, a entidade empregadora deixava de proceder aos descontos habituais e o pagamento dos salários não era integrado nas “contas oficiais”. Alguns documentos “de natureza idêntica” a esse, conforme revelava uma reportagem do ‘Diário de Lisboa’, de 19 de agosto de 1988, teriam a indicação de serem “lidos, rasgados e deitados fora”. O autor da proposta, datilografada em papel timbrado da Ipocorck e classificada como ‘confidencial’, parecia ter previsto todas as situações: da elaboração de uma contabilidade paralela, para se continuarem a “entregar os recibos [mensais] aos trabalhadores como habitualmente [,] para eles não se aperceberem desta alteração” (e, também, para lhes dar o subsídio de Natal), até uma eventual “baixa”, por doença ou sinistro, que teria de ser paga, não pela Caixa de Previdência, mas pela Corticeira – que era líder mundial do setor. A 1 de janeiro, findo o período de formação, seriam “admitidos” novamente nas respetivas empresas da ‘holding’. E rematava-se: “há só que proceder com ponderação e discrição”. Naquela folha datilografada surge um “O. K.” manuscrito e o que deveria ser a assinatura de Américo Amorim.
Ora se até alguém que seria considerado o português mais rico na lista da ‘Forbes’ de 2010 – e, no ano seguinte, aparecia naquela revista como um dos 200 maiores à escala planetária – recorria a este tipo de ilícitos, o que não terão feito centenas de outros empreendedores (bem menos endinheirados) no uso fraudulento das verbas de Bruxelas para erigirem novas fortunas.