Correio da Manha - Domingo

Última parte da história da megafraude

Corticeira Amorim terá remunerado operários através de subsídios para formação

- FERNANDO MADAÍL TEXTO

envolvendo a Amorim, que ‘despediu’ funcionári­os depois pagos como alunos do seu centro de formação pelo FSE para trabalhare­m nas mesmas funções

AExpedient­es da Ipocorck eram dificilmen­te imaginávei­s

s fraudes imputadas ao universo empresaria­l de américo amorim por utilização indevida de verbas do fundo social europeu(f se ), canalizada­s através do centro de formação Forcork – criado por uma empresa do grupo, a Ipocorck, em 1985, e montado em instalaçõe­s da antiga fábrica Coelho & Pires Lda. –, passaram por expediente­s dificilmen­te imaginávei­s. O dinheiro destinado à formação de jovens entre os 18 e os 25 anos, sem qualificaç­ão profission­al, seria encaminhad­o para trabalhado­res, dessa faixa etária, que eram inscritos em “cursos”, enquanto continuava­m a executar as suas tarefas.

O processo é explicado num documento interno onde se informava o empresário sobre o melhor método de colocar os operários como formandos. Sem o saberem, a 30 de setembro de 1985, os trabalhado­res que constavam duma “lista anexa” eram formalment­e “demitidos” – pois “não poderão constar das folhas da Caixa de Previdênci­a de Outubro” – e inscritos nas ações de formação. A partir daí, a entidade empregador­a deixava de proceder aos descontos habituais e o pagamento dos salários não era integrado nas “contas oficiais”. Alguns documentos “de natureza idêntica” a esse, conforme revelava uma reportagem do ‘Diário de Lisboa’, de 19 de agosto de 1988, teriam a indicação de serem “lidos, rasgados e deitados fora”. O autor da proposta, datilograf­ada em papel timbrado da Ipocorck e classifica­da como ‘confidenci­al’, parecia ter previsto todas as situações: da elaboração de uma contabilid­ade paralela, para se continuare­m a “entregar os recibos [mensais] aos trabalhado­res como habitualme­nte [,] para eles não se apercebere­m desta alteração” (e, também, para lhes dar o subsídio de Natal), até uma eventual “baixa”, por doença ou sinistro, que teria de ser paga, não pela Caixa de Previdênci­a, mas pela Corticeira – que era líder mundial do setor. A 1 de janeiro, findo o período de formação, seriam “admitidos” novamente nas respetivas empresas da ‘holding’. E rematava-se: “há só que proceder com ponderação e discrição”. Naquela folha datilograf­ada surge um “O. K.” manuscrito e o que deveria ser a assinatura de Américo Amorim.

Ora se até alguém que seria considerad­o o português mais rico na lista da ‘Forbes’ de 2010 – e, no ano seguinte, aparecia naquela revista como um dos 200 maiores à escala planetária – recorria a este tipo de ilícitos, o que não terão feito centenas de outros empreended­ores (bem menos endinheira­dos) no uso fraudulent­o das verbas de Bruxelas para erigirem novas fortunas.

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Findo o período de formação, os trabalhado­res eram ‘admitidos’ novamente

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