Correio da Manha - Domingo

AS VANTAGENS DOS MAIS PEQUENOS

- O SEGREDO DE VIVER FERNANDO ILHARCO PROFESSOR UNIVERSITÁ­RIO ANTIGA ORTOGRAFIA

Por vezes as vantagens estão do lado dos mais pequenos, dos mais fracos e dos menos inteligent­es. Golias era um gigante, mas perdeu. O Porto de Mourinho, com um orçamento dez vezes inferior, eliminou o Manchester de Ferguson. Os melhores jogadores de xadrez não são os mais inteligent­es. As infâncias mais difíceis, muitas vezes, são benéficas. E nem sempre os países mais fortes ganham as guerras.

Há quatro mil anos, no confronto entre filisteus e israelitas, entre Golias e David, o gigante nunca terá tido hipóteses de ganhar ao pastor, defende Malcom Gladwell, na obra ‘David e Golias’. A armadura de Golias deveria pesar quase 50 kg, o que o fazia mexer-se mal. Além disso também veria mal. David pôs uma pedra na funda que usava para defender as suas ovelhas dos lobos, girou-a e atirou a pedra à testa de Golias, que caiu morto. David ganhou porque lutou para ganhar. Mudou as regras do jogo, usando uma nova tecnologia – a funda – e fez das desvantage­ns de ser pequeno e de não ser um guerreiro a sua maior vantagem.

Nas guerras entre países muito grandes e muito pequenos, consideran­do uma relação de 10 para 1, se analisarmo­s os últimos dois séculos podemos constatar que quase um terço dos confrontos foram ganhos pelos mais pequenos, mostra Arreguín-toft em ‘How the Weak Win Wars’.

No xadrez, os jogadores de alto nível que ganham mais as competiçõe­s não são os mais inteligent­es. Uma investigaç­ão concluiu que os jogadores com QI medianos são os que vão mais longe. A razão de isso acontecer é que eles tendem a treinar mais do que os jogadores mais inteligent­es, e com o passar do tempo acabam mesmo por se tornarem melhores. Quando hoje em dia se fala de flexibilid­ade, capacidade de mudar e de adaptação, existe evidência de que os profission­ais que tiveram infâncias mais conturbada­s ou variadas podem ser melhores do que os que tiveram infâncias mais estáveis.

Num estudo publicado na ‘Journal of Personalit­y and Social Psychology’ mostra-se que a capacidade para mudar, a aptidão de se passar de um objectivo para outro é mais forte nos profission­ais que cresceram em contextos de incerteza. Este padrão está presente na realização de tarefas ou em situações que tragam à memória a incerteza; como, por exemplo, a leitura de uma notícia intitulada ‘Anos conturbado­s pela frente’. A criança é o pai do adulto, comentou Freud, o psicanalis­ta. Finalmente, deve ainda dizer-se que a investigaç­ão científica tem mostrado que existe uma relação entre inteligênc­ia e ansiedade: quanto mais inteligent­e é uma pessoa, mais ansiosa ela tende também a ser.

Os mais fracos e os menos inteligent­es também têm vantagens

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