AS VANTAGENS DOS MAIS PEQUENOS
Por vezes as vantagens estão do lado dos mais pequenos, dos mais fracos e dos menos inteligentes. Golias era um gigante, mas perdeu. O Porto de Mourinho, com um orçamento dez vezes inferior, eliminou o Manchester de Ferguson. Os melhores jogadores de xadrez não são os mais inteligentes. As infâncias mais difíceis, muitas vezes, são benéficas. E nem sempre os países mais fortes ganham as guerras.
Há quatro mil anos, no confronto entre filisteus e israelitas, entre Golias e David, o gigante nunca terá tido hipóteses de ganhar ao pastor, defende Malcom Gladwell, na obra ‘David e Golias’. A armadura de Golias deveria pesar quase 50 kg, o que o fazia mexer-se mal. Além disso também veria mal. David pôs uma pedra na funda que usava para defender as suas ovelhas dos lobos, girou-a e atirou a pedra à testa de Golias, que caiu morto. David ganhou porque lutou para ganhar. Mudou as regras do jogo, usando uma nova tecnologia – a funda – e fez das desvantagens de ser pequeno e de não ser um guerreiro a sua maior vantagem.
Nas guerras entre países muito grandes e muito pequenos, considerando uma relação de 10 para 1, se analisarmos os últimos dois séculos podemos constatar que quase um terço dos confrontos foram ganhos pelos mais pequenos, mostra Arreguín-toft em ‘How the Weak Win Wars’.
No xadrez, os jogadores de alto nível que ganham mais as competições não são os mais inteligentes. Uma investigação concluiu que os jogadores com QI medianos são os que vão mais longe. A razão de isso acontecer é que eles tendem a treinar mais do que os jogadores mais inteligentes, e com o passar do tempo acabam mesmo por se tornarem melhores. Quando hoje em dia se fala de flexibilidade, capacidade de mudar e de adaptação, existe evidência de que os profissionais que tiveram infâncias mais conturbadas ou variadas podem ser melhores do que os que tiveram infâncias mais estáveis.
Num estudo publicado na ‘Journal of Personality and Social Psychology’ mostra-se que a capacidade para mudar, a aptidão de se passar de um objectivo para outro é mais forte nos profissionais que cresceram em contextos de incerteza. Este padrão está presente na realização de tarefas ou em situações que tragam à memória a incerteza; como, por exemplo, a leitura de uma notícia intitulada ‘Anos conturbados pela frente’. A criança é o pai do adulto, comentou Freud, o psicanalista. Finalmente, deve ainda dizer-se que a investigação científica tem mostrado que existe uma relação entre inteligência e ansiedade: quanto mais inteligente é uma pessoa, mais ansiosa ela tende também a ser.
Os mais fracos e os menos inteligentes também têm vantagens