É PRECISO ACREDITAR
Quando os tempos não são os melhores, ouve-se dizer que as coisas vão mudar, que é preciso acreditar. A atitude, de facto, muitas vezes é decisiva. A forma como vivemos o dia-a-dia, como acreditamos no que fazemos e no que conseguimos, é o que é a realidade para cada um de nós.
Acreditar, no entanto, não é apenas uma questão de personalidade. É uma questão de preparação, de exigência. Trata-se de dizer a nós mesmos que fizemos tudo o que podíamos para que corresse bem. Acreditando que conseguimos, a energia sobe, o stresse baixa e a criatividade aumenta. Num jogo simultaneamente simbólico e biológico, o nosso comportamento e os dos outros modelam e facilitam os resultados desejados. Acreditar que não é possível baixa a concentração, deixa subir a ansiedade e diminui o empenho, o que, evidentemente, tem efeitos adversos. A preparação, a linguagem positiva, os compromissos que assumimos, ajudam-nos a acreditar, o que, por sua vez, ajuda a acontecer.
A história verídica sobre soldados do Império Austro-húngaro perdidos nos Alpes é ilustrativa: quatro soldados foram apanhados numa tempestade e estiveram dias perdidos. Um deles descobriu na sua mochila um mapa das montanhas que, no entanto, era dos Pirenéus... Mas porque os soldados acreditaram que o mapa era dos Alpes sentiram-se mais enérgicos, pensaram melhor e encontraram o caminho para o acampamento.
Aquilo em que acreditamos, em boa medida, é a realidade. Hoje não existem dúvidas sobre o efeito placebo, as consequências reais da crença em algo falso. Uma das histórias mais marcantes no estudo dos placebos remonta à Segunda Guerra Mundial. Com o conflito a aproximar-se do fim, as tropas norte-americanas desembarcaram em Anzio, Itália. Foram emboscadas por tropas nazis e retiraram para as grutas de Pozzoli, onde resistiram uma semana até à chegada de reforços. A quantidade de feridos norte-americanos foi muito grande.
No terceiro dia do cerco nazi, quando o médico americano Henry Beecher ia iniciar uma operação a um soldado, foi informado de que a anestesia tinha acabado. A alternativa era simples: ou operava ou o soldado morria. Beecher deu ordens à enfermeira para injetar o ferido com água salgada, fingindo ser anestesia. O soldado acalmou-se e foi possível realizar a operação. Nos dias seguintes o médico repetiu essa acção dezenas de vezes, a maior parte das quais com sucesso. Quanto mais emocional o estado do ferido, maior era a probabilidade de a falsa anestesia funcionar.
Hoje sabe-se que a susceptibilidade ao efeito placebo não varia apenas em função de aspectos psicológicos. A revista ‘Trends in Molecular Medicine’ publicou um estudo que mostra que o efeito placebo também se relaciona com a genética da pessoa. Este estudo sugere ainda que o papel do placebo nos cuidados de saúde é bem maior do que o assumido até hoje.
ANTIGA ORTOGRAFIA
Quanto mais emocionado estava, mais sucesso tinha a falsa anestesia