Correio da Manha - Domingo

O CHARME DISCRETO DO ‘VINTAGE’

O regresso estrondoso do furacão ‘glam’ de 1973 50 anos depois ou as elipses ao tempo cronológic­o

- POR ADOLFO LUXÚRIA CANIBAL TÍTULO ‘THE DEVIL IN ME’ AUTOR SUZI QUATRO EDITORA SPV

Na primeira metade dos anos 1970 havia uma meia hora ao sábado de manhã onde, com sorte, se podia ver algo de jeito na RTP. Já esqueci o nome do programa, que fazia figura de excepção no pobre cenário dos programas musicais da nossa televisão a preto-e-branco. Nele vi Mike Oldfield a tocar o ‘Tubular Bells’ (1974) ou algumas aparições de Demis Roussos, que nesses tempos de penúria eram barrigadas de satisfação musical. Mas o momento mais marcante foi a revelação Suzi Quatro com os clips de ‘48 Crash’ e ‘Can the Can’. Em plena época ‘glam’ ver uma mulher toda vestida de cabedal, com uma atitude arrogante e desafiador­a a empunhar o baixo como arma letal, debitar o ‘rock’ pesado e orelhudo tão em voga só podia deixar mossa. Natural de Detroit, Suzi Quatro começou por tocar bateria de ‘jazz’ na banda amadora do pai, o Art Quatro Trio, mas a sua carreira musical só começa verdadeira­mente em 1964, aos 24 anos, quando integra a banda ‘rock garage’ só de raparigas formada pela irmã mais velha, as Pleasure Seekers, onde canta e toca baixo. As Pleasure Seekers tiveram alguma notoriedad­e na região e gravaram mesmo dois ‘singles’ antes de mudarem o nome para Cradle. Em 1971 o produtor inglês Mickie Most, encantado com a sua presença e capacidade­s de baixista e cantora no seio das Cradle, convida Suzi Quatro a ir para Inglaterra e iniciar carreira a solo. O primeiro single, ‘Rolling Stone’ (1972) foi um fiasco, salvo em Portugal, onde foi nº 1 do top de vendas, mas o segundo, o referido ‘Can the Can’ (1973), varreu as tabelas de toda a Europa e da Austrália, tal como ‘48 Crash’ (1973), ‘Daytona Demon’ (1973) e ‘Devil Gate Drive’ (1974). Seguiu-se o declínio, apesar de um sucesso moderado em 1978 nos Estados Unidos após uma digressão com Alice Cooper. No entanto continuou a gravar consistent­emente, sendo este ‘The Devil In Me’ o seu 18º álbum de originais. Que diz ser o seu melhor, desde 1974 – e de facto está lá tudo o que lhe deu fama: atitude, canto desdenhoso, ‘riffs’ distorcido­s, tempo martelado, refrães orelhudos… Os tempos é que são outros!

Suzi Quatro diz que este é o seu melhor álbum desde 1974

“Umamulher todavestid­a decabedal, comumaatit­ude arrogantee desafiador­a aempunhar obaixocomo armaletal”

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal