PASSAM 47 ANOS DA REVOLUÇÃO E AINDA HÁ MILITARES
Vasco Lourenço foi um dos mentores da Revolução de 1974. Hoje, recorda como lhe roubou a lua de mel “Recém-casado cheguei três vezes às 5h da manhã VASCO LOURENÇO
QUE PARTICIPARAM NO DERRUBE DO REGIME QUE NÃO FORAM CONDECORADOS. VASCO LOURENÇO É UM DOS CONSPIRADORES, PRESIDE À ASSOCIAÇÃO 25 DE ABRIL E ESTÁ A FAZER UMA LISTA COM OS NOMES DOS QUE SE DISTINGUIRAM, PARA ENTREGAR AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA. EM CONVERSA COM A ‘DOMINGO’ DIZ QUE FEZ 20 MIL KM COM O SEU CARRO NOS PREPARATIVOS E FALA DOS DANOS QUE A LUTA PELA LIBERDADE PROVOCOU NA SUA VIDA AFETIVA
Oito meses de conspiração e de segredos, noites de discussão sem fim, centenas de reuniões, milhares de quilómetros percorridos... Passaram 47 anos sobre a revolução do 25 de abril de 1974, o dia em que foi derrubado um regime que mandava os jovens para a guerra, que prendia, torturava e censurava. Não havia eleições livres. Não havia liberdade. Entre os mentores da revolução está Vasco Lourenço, na altura um jovem capitão de 31 anos. O ‘militar de Abril’, hoje com 78 anos, coronel na reforma, preside à Associação 25 de Abril e está a fazer uma lista dos militares que mais se destacaram no movimento para serem condecorados por Marcelo Rebelo de Sousa.
Vasco Lourenço, que já possui a Grã-cruz da Ordem da Liberdade e a Grã-cruz da Ordem do Infante D. Henrique, está no início do processo. Recorda as reuniões, os conspiradores, os castigos, a luta pela dignidade dos militares e conta os danos que o combate pela liberdade provocou na sua vida afetiva: um casamento cimentado no intervalo do terramoto revolucionário, uma lua de mel improvisada e uma filha que nasce com a democracia.
“Casei em plena conspiração, a 29 de setembro de 73. Na primeira semana de casado cheguei três vezes a casa às 5h da manhã, depois de reuniões conspirativas. A minha mulher habituou-se, com dificuldade mas rapidamente, ao facto de eu andar sempre em bolandas.”
Vasco Correia Lourenço é casado com Adélia, pai de Gabriela e avô de Vicente. Filho de comerciantes, nasceu a 19 de junho de 1942 em Lousa, Castelo Branco. Eram três irmãos, mais um meio-irmão do primeiro casamento do pai. “O meu pai era comerciante, de uma classe média não muito elevada, um homem que se fez por ele próprio. Tinha comércio diverso, mas o ramo principal era a azeitona e o azeite. Comprava a azeitona ainda nas árvores, mandava colher e depois escolhia para conserva e para azeite. A minha mãe era a grande dona da casa.”
Vasco Lourenço fez o liceu em Castelo Branco. Os pais queriam que fosse médico ou engenheiro, mas o jovem Vasco via na instituição militar os valores que procurava: lealdade, justiça e camaradagem. Por isso foi para a Academia Militar, em 1960, onde completou a licenciatura em Ciências Militares. Como se interessava por desporto, jogava quase todos os desportos coletivos: futebol, futebol de 5 (hoje futsal), voleibol, basquetebol, andebol. “Fui campeão universitário de futebol, em 62/63, era avançado, meti um golo na meia-final e outro golo na final. Ganhámos dois-zero em cada um dos desafios. Fui corredor de velocidade, 100, 200 metros e, apesar de me ter lesionado gravemente no joelho - com uma rutura de ligamentos e uma fratura no menisco - ainda fui campeão militar em futebol de 5.” Quanto ao clube do coração, não há segredos nem cons