‘O INDEPENDENTE’ REVELA ‘COUTO DO VIGÁRIO’
Até para pagar um congresso a central sindical da UGT usou as verbas destinadas à formação
O congresso de Braga foi pago com verbas do FSE
Oescândalo de a central sindical UGT desviar verbas comunitárias do Fundo Social Europeu (FSE) para financiar outras atividades do organismo liderado, desde a fundação, pelo socialista Torres Couto, foi denunciado pelo semanário ‘O Independente’, que dedicava toda a capa da edição de 6 de março de 1992 para desenvolver a manchete “O Couto do Vigário”.
Mesmo os leitores que só olhavam para as bancas dos jornais, podiam ainda ler na primeira página: “Vem tudo em dois relatórios secretos da Inspeção-geral de Finanças. A UGT usou dinheiros da formação profissional indevidamente. Através de empresas paralelas, a central sindical pagou o [IV] congresso [de 1988, em Braga, e] milhares de quilómetros de viagens e estadias dos seus dirigentes em todo o mundo. Mas não só. As Finanças descobriram que a UGT escondeu mais de meio milhão de contos ao fisco. Eom ais incrívelé que o Governo, de mansinho, prepara um perdão fiscal para Torres Couto.” “Toda a história” era contada nas páginas 2 e 3, em texto assinado por Helena Sanches Osório e Pedro Guerra, que tinham obtido “um relatório confidencial”, encomendado pelo governo à Inspeção-geral de Finanças sobre as contas da UGT – a União Geral de Trabalhadores, formada, em 1978, na sequência do movimento Carta Aberta, que apareceu logo no Verão Quente de 1975 para impedir a ‘unicidade sindical’ da Intersindical (hoje, CGTP), que pretendia o exclusivo da representatividade dos trabalhadores.
O ‘Indy’ (como também era conhecido o semanário, então dirigido por Paulo Portas e Miguel Esteves Cardoso) nunca mais largou este filão informativo – associando as benesses ao acordo de Concertação Social, que tinha ficado famoso pela fotografia do brinde, com champanhe, entre o primeiro-ministro, Cavaco Silva, e o secretário-geral da UGT, Torres Couto. No livro ‘O Independente – A Máquina de Triturar Políticos’, os jornalistas Filipe Santos Costa e Liliana Valente garantem mesmo que este sindicalista teve direito a “alguns dos títulos mais assassinos do jornal, na melhor tradição dos trocadilhos: ‘Ajudas de Couto’, ‘Faz de Couto’, ‘308 mil coutos ’,‘ Coutada ’,‘ O Couto do cisne’”.
Nem sequer viria a falhar o casamento do sindicalista, com a descrição pormenorizada das baixelas e das prendas, dos convidados que aceitaram estar presentes e daqueles que, devido às notícias dos meses anteriores, primavam pela ausência.