Presos na Índia depois de abandonados por Salazar
a fazer-se de surdo mesmo nos palcos internacionais.
Jaime Reis chegou à Índia antes de Jorge. “Em de- zembro de 1959 recebi uma comunicação do Exército a dizer para me apresentar no campo de
Santa Margarida: ia fazer uma recruta rápida para ser mobilizado para a Ín- dia. A gente não sabia nada, chega lá e aquilo era um contraste formidável com Portugal… Lembro- -me de chegar ao porto de
“Os homens andavam só de tanga, as mulheres de sari” Jaime Reis, 82 anos
acontecer. “Eu era o mo- torista do comandante e fazia também de ordenan- ça dele. Um dia em que es- tava a limpar o gabinete, li uma informação de que ti- nha sido apanhado um in- divíduo pela PIDE porque trazia debaixo da camisola propaganda política con- tra o regime de Portugal”, lembra Jaime Reis, de 82 anos. Jorge Vaz, da mesma idade, apercebeu-se pela mesma altura que a tran- quilidade das tropas portuguesas ia terminar.
“Comprei um rádio e certo dia apanhei uma emissão que os indianos faziam e fui-me aperce- bendo que as coisas não estavam bem. Não havia dúvidas que aquilo, mais tarde ou mais cedo, acon- tecia e aconteceu mes- mo”, partilha Jorge.
Foi na madrugada de 18 de dezembro de 1961 que a União Indiana invadiu as possessões portuguesas na Índia. Em poucas horas, Goa, Damão e Diu caíram e o Império português so- freu um primeiro golpe com a perda da sua joia mais querida.
Plano Sentinela
Mesmo quando os india- nos forçaram a entrada no território através da invasão militar, Oliveira Salazar não cedeu. Foi isso que o presidente do Conselho de Ministros disse numa mensagem enviada ao general Vassalo e Silva, governador do Estado Português da Índia: “Não prevejo possibilidade de tréguas nem prisioneiros portugueses, como não haverá navios rendidos, pois sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos...”
Com ordens para morrerem a combater, os cerca de 3500 militares portugueses pouco podiam fazer contra os atacantes, cerca de 50 mil homens entre forças do exército, força aérea e marinha.
Às primeiras horas da madrugada de 18 de dezembro, as colunas militares indianas entraram em Goa pelo Norte e pelo Sul. Os territórios mais pequenos de Damão e Diu foram também atacados. Os militares portugueses esforçaram-se por seguir o estipulado no Plano Sentinela, que se baseava na retirada faseada das forças desde as fronteiras até à costa. O objetivo era atrasar a progressão do inimigo, com a destruição de pontes e estradas.
“Quando foi divulgado o Plano Sentinela, o comana
“Não prevejo possibilidade de tréguas nem prisioneiros portugue ses, como não haverá navios rendidos, pois sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos” Oliveira Salazar Presidente do Conselho, em dezembro de 1961