Bailaricos
Em janeiro de 1990 tínhamos um primeiro-ministro de 50 anos capaz de subir a um coqueiro em São Tomé e Príncipe. Uma espécie de premonição do que ainda estava por vir - o atleta do CDUL entre 1958 e 1963, vice-campeão nacional de 110 metros barreiras em 1962, na antiga pista do Estádio de Alvalade em plena Crise Académica, havia ainda de perdurar equilibradíssimo em Belém. Mas as viagens mais fotogénicas deverão ter sido as de Mário Soares: à Índia, em 1992, de turbante na cabeça, sentado num elefante para visitar o marajá de Jaipur e também nesse ano, nas Seychelles, de boné e calções sentado numa tartaruga como num burro.
Também tivemos, em campanhas eleitorais e fora delas, a dança de Portas, de Marcelo, Rio, Jardim, Ventura e Costa, este último agarrado à Filomena Cautela num programa de TV em véspera de eleições. Não há mais seriedade no bailarico dos políticos em campanha eleitoral do que em Sanna Marin, a primeira-ministra finlandesa, a dançar na festa privada.
A hashtag #Solidaritywithsanna não é só uma tra
“Já vivemos todos um `Big Brother is watching you'”
dução feminista de que as mulheres podem dançar de copo na mão e depois metaforicamente com Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO - e que só devem ser criticadas por questões de política externa. Mostra também a facilidade com que, na era das redes sociais, a solidariedade de um dia pode facilmente sair ferida à velocidade uma publicação no Tik Tok - e já vivemos todos um ‘Big Brother is watching you’ como nem Orwell imaginou. Não precisamos de um grande irmão para nos vigiarmos uns aos outros.
O título do vídeo no Youtube de “a mítica dança de Jerónimo de Sousa na passagem de ano 95/96” acautela o que se pode visionar ainda tantos anos depois da festa em Setúbal - e nem um bom ano “ao povo de Timor Leste” ajuda a desfazer a sensação de estranheza face aos movimentos do líder comunista. Tantos anos depois, lá continua.