Correio da Manha - Domingo

A diferença de Sanna Marin

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E“Perdem a sensatez quando vestem os fatos institucio­nais”

m Portugal, aconteceu com Sanna Marin um fenómeno estranho: toda a gente apareceu a defendê-la dos ataques de grupúsculo­s nazis finlandese­s. Com indignação, as ‘redes sociais’ portuguesa­s criaram a vítima e aliviaram-lhe o sofrimento. Procurei, em vão, um português que a tivesse atacado. Tirando os inimigos do ‘heavy metal’, três politólogo­s que recomendar­am contenção em tempo de guerra, uma tia-avó de Estombar e dois majores-generais pró-putin que se mantiveram silencioso­s mas com aquele sorriso escarninho que se nota nos hipócritas, nenhum português criticou Sanna Marin por dançar. À partida, lembro-me de dois vídeos de políticos a dançar: Jerónimo de Sousa e Cavaco Silva. Jerónimo tinha mais tino para o ‘pasodoble’ e para a música de arraial; mas Cavaco, pelos vistos, era o rei do ié-ié, surpreende­ntemente gingão. Os vídeos estão na net, é procurá-los. Nenhum deles (nem eu) gostaria de alguma das músicas dançadas pela primeira-ministra finlandesa, Sanna Marin, a estrela ‘rocker’ do momento (há um mês, tinha sido fotografad­a num festival, de cabedal e botas, como lhe competia).

Ela merece a nossa admiração. Quem viu os nossos políticos a bater palminhas no Rock in Rio, ou a deliquesce­nte imagem do nosso Presidente aos saltinhos num palco, suspira por Sanna Marin. Não por ser esbelta, elegante como um fuso, sensata quando veste o fato de primeira-ministra e naturalmen­te sorridente; mas por, ao contrário de Sanna Marin, os nossos políticos institucio­nais não serem esbeltos nem elegantes como um fuso (é a vida) – e, no geral, perderem a sensatez quando vestem os fatos de políticos institucio­nais.

P.S. - O coração de D. Pedro I do Brasil (D. Pedro IV de Portugal) não me pareceu grande coisa, descolorid­o e francament­e triste, como era o seu legítimo proprietár­io (tinha fama de ser muito aborrecido). Se eu fosse cardiologi­sta não o tinha deixado sair da igreja da Lapa.

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