Correio da Manha - Domingo

A quinta anti-totalitári­a

- TEXTO ESCRITO COM A ANTIGA GRAFIA

A“`A Quinta dos Animais' é uma genial fábula sobre o poder”

gora que George Orwell, com as suas obras constantem­ente reeditadas pelo facto de já terem entrado no domínio público, não havendo direitos a cobrar pelo seu acesso ao público, vale a pena, também por prosseguir a guerra imposta pela Rússia à Ucrânia, recordar que o livro ‘A Quinta dos Animais’ (‘Animal Farm’) foi escrito em 1943, em plena Segunda Guerra Mundial.

Colocando o assunto no plano da memória pessoal, recordo-me de, no final dos anos sessenta do século passado, um prestigiad­o professor do Instituto Britânico em Portugal ter feito desse texto uma obra de referência para os seus alunos, havendo ainda uma forte censura no país.

‘Animal Farm’ é uma genial fábula sobre o poder que mostra como no espaço de uma quinta os animais se revoltam, perseguem os homens e tomam o poder. Orwell só conseguiu publicar o livro em 1945, depois de ter recebido vários avisos do Ministério da Informação do Reino Unido. E porquê? Porque a União Soviética, antes do início da Guerra Fria, fora um poderoso aliado da Grã-bretanha e dos Estados Unidos, na luta contra o devastador poder nazi.

Orwell não teve dúvidas, no prefácio à obra, depois suprimido noutras edições, em afirmar que no Reino Unido reinava o “pensamento único” e uma “ortodoxia de opinião” que faria surgir como nociva toda a crítica sobre temas como o que ele escolhera para este seu livro. As palavras do escritor não deixavam margem para dúvidas: “A imprensa inglesa é muito centraliza­da e pertence, na sua quase totalidade, a homens muito ricos que têm todas as razões para se mostrarem incomodado­s sobre certos assuntos importante­s”.

Apesar dos avisos e restrições, ‘Animal Farm’ foi publicado quase um ano depois do fim da guerra e tornou-se, juntamente com ‘1984’, um dos grandes clássicos da literatura anti-totalitári­a.

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