Correio da Manha - Domingo

Memórias de Salazar dividem opiniões

MUNICÍPIO DE SANTA COMBA DÃO ACALENTA O DESEJO DE INAUGURAR UM NÚCLEO MUSEOLÓGIC­O SOBRE O ESTADO NOVO, QUE AINDA NÃO SAIU DO PAPEL POR FALTA DE CONSENSO

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Situado no concelho de Santa Comba Dão, o Vi- mieiro é a terra natal do ditador António de Oli- veira Salazar (1889-1970). O filho da terra é lembra- do no nome da rua princi- pal e no de uma escola lo- cal, mas por lá resta tam- bém a casa onde nasceu e cresceu.

Está hoje abandonada e degradada, mas ainda as- sim deixa perceber que apesar de Salazar se recla- mar filho de pobres, a fa- mília não era assim tão acanhada em rendimen- tos como o mito fez crer.

Tema difícil

No último quartel do sé- culo XIX, naqueles con- fins das Beiras mandavam os abonados Perestrelo­s. A abastada família fidalga contratou então António

Oliveira como feitor – cargo de rendimento certo e de alguma projeção social. O pai de Salazar passa então a ser respeitosa­mente tratado por António Feitor. Casado com Maria do Resgate, tiveram quatro filhas de uma assentada no início do casamento, e só depois, quando dobrou os 50, veio o varão, que ficou António - como o pai Oliveira Salazar. Foi nesta casa que aprendeu a ler e a contar, até ir para o seminário de Viseu com 11 anos. Voltava todos os anos nas férias, mesmo quando já era o todo-poderoso presidente do Conselho, tendo inclusivam­ente comprado ali uma outra casa.

Aquela onde nasceu ficou ao abandono. A estrutura vai cedendo, de forma mais evidente quando há temporal. Há bem pouco tempo, beiral e parte do telhado caíram com a força da chuva e do vento, num estrondo que assustou os vizinhos.

O município, que detém também uma boa parte dos pertences doados pelos sobrinhos-netos do ditador, alimenta há anos um projeto para a construção de um centro museológic­o dedicado ao Estado Novo, que nunca saiu do papel. O tema continua a ser difícil e a dividir opiniões. Uns querem perpetuar saudosamen­te a memória do homem que governou o país com mão de ferro, mas outros nem por isso.

Foi na casa agora em ruínas que Salazar nasceu e aprendeu a ler e a escrever

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Últimas intempérie­s aceleraram a degradação da casa
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