Correio da Manha - Domingo

As palavras de ordem durante a revolução

OUVIAM-SE NAS MANIFESTAÇ­ÕES, NOS COMÍCIOS, LIAM-SE EM CARTAZES, PINTADAS NAS PAREDES PORQUE, FINALMENTE, SE PODIA DIZER TUDO

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O25 de Abril foi uma das mais impression­antes al- gazarras de liberdade, lou- cura e inocente destram- belhamento coletivo que o modesto povo português já viveu”, escreve o Manuel S. Fonseca no prefácio ao livro, que edita (Guerra & Paz), mas também escre- veu. No prólogo de ‘25 de Abril, no Princípio era o Verbo’, a cronologia de “Uma noite longa para aca- bar com uma longa noite” que começa na publicação, a 22 de fevereiro de 1974, do livro ‘Portugal e o Futuro’, do general António de Spí- nola, e segue com o dia do golpe militar, o 25 de Abril, iniciado com o corte de energia para interrompe­r a emissão da Rádio Re- nascença – brevemente reposta – para, um quarto de hora passado, no programa ‘Limite’, ouvir-se a senha ‘Grândola, Vila Morena’, canção de José Afonso. A cronologia do dia termina pelas 20 horas, quando é anunciado formalment­e o fim do regime, proclamado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA); mas neste livro são as frases, e as ilustraçõe­s de Nuno Saraiva, que importam.

“O povo unido jamais será vencido”, “Viva o Movimento das Forças Armadas”, “25 de Abril sempre!” – esta última da autoria de Jorge Sampaio - mas também “O povo é quem mais ordena” ou “Otelo, amigo, o povo está contigo” são ‘tiradas’ da revolução que perduram na memória coletiva dos portuguese­s.

Outras de ‘fino recorte’ andaram à solta como, por exemplo, aquelas que parodiavam a canção de 1975, com versos de José Cid e cantada por Ermelinda Duarte, ‘Somos Livres’, e que dizia: “Uma gaivota voava, voava/ Asas de vento, coração de mar/ Como ela, somos livres/ somos livres, de voar.” Houve depois uma versão ‘anarca’ que foi muitas vezes cantada em coro no bar O Botequim, da poetisa e deputada socialista Natália Correia e que dizia assim: “Uma gaivota voava, voava/ filha da puta/ nunca mais parava./ Uma gaivota voava, voava/ filha da puta/ que nunca se cansava.”

A frase `25 de Abril sempre!' foi da autoria daquele que, mais tarde, chegaria a Belém: Jorge Sampaio

Houve várias versões da canção cantada por Ermelinda Duarte, com letra de José Cid

Mas também as versões anticomuni­sta (“Um comunista voava voava. De uma janela do sétimo andar. Como ele ainda há muitos para atirar”) ou a versão semelhante que atingia o MRPP, e que espelham os conturbado­s tempos revolucion­ários que se seguiram ao 25 de Abril. “Que as massas se ergam e esmaguem os fascistas onde quer que eles se acoitem”, “Sem cultura não há liberdade”, “Nem mais um soldado para as colónias”, “O ‘República’ é do povo não é de Moscovo”, sobre a disputa interna pela direção do jornal, “Se Deus existe, o problema é dele”, “Os ricos que paguem a crise... e o jantar”, bem como o eterno “Olhe, bardamerda para o fascista”, dito pelo primeiro-ministro Pinheiro de Azevedo, durante o cerco à Assembleia da República.

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Algumas ilustraçõe­s da autoria de Nuno Saraiva

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