7 dicas para prevenção de cólicas
1 ESTABELECER UMA ROTINA DIÁRIA
Os cavalos são animais de hábitos e rotinas diárias, pelo que uma rotina consistente ajudará na prevenção de cólicas.
Deverá estabelecer-se uma rotina diária na alimentação, sem mudanças abruptas da quantidade e qualidade da dieta. Em caso de mudança de feno ou concentrado esta deve ser feita de forma gradual, no espaço de duas semanas. A forragem deve ser sempre administrada antes do concentrado, de forma a tamponizar a acidez do estômago.
Os cavalos na natureza caminham várias horas ao dia pelo que é fundamental o exercício regular em cavalos estabulados. No entanto, este não deverá ser extenuante uma vez que pode diminuir a perfusão sanguínea do sistema gastrointestinal.
2 ALIMENTAÇÃO COM UMA DIETA DE ALTA QUALIDADE
Idealmente os cavalos deverão passar o dia a comer uma fonte de fibra. Esta fonte deverá ser composta por forragem de qualidade que deve corresponder a cerca de 2 a 2,5% do peso corporal do animal, podendo ser 1,5% nos casos em que o animal apresenta uma condição corporal acima do desejado. A fonte de fibra ideal é o feno, verde e fino. Já a palha, amarela e grosseira, nunca deverá ser a base da alimentação pelo seu alto teor de leninha que é de baixíssima digestibilidade para o cavalo. A mastigação da forragem tem um grande impacto na produção de saliva que representa um papel bastante importante na neutralização da acidez do estômago. Longos períodos de jejum podem aumentar a acidez estomacal e, por sua vez, aumentar o risco de desenvolvimento de úlceras gástricas pelo que a garantia de uma fonte de fibra ad libitum representa uma boa prática não só do ponto de vista do comportamento alimentar do cavalo, mas também da proteção da sua mucosa gástrica. Relativamente ao concentrado, este deverá ser administrado em pequenas quantidades, várias vezes ao dia e não deverá exceder 1% do peso corporal do cavalo.
O excesso de concentrado pode levar a disbioses (desequilíbrio da flora intestinal) pelo seu alto teor de hidratos de carbono não estruturados.
3 REDUÇÃO DO STRESS
Os cavalos vivem naturalmente sob stress diário como resposta a mudanças ou desafios no seu ambiente. Em algumas situações, este stress é uma reação útil que permite aos equinos adaptarem-se a situações inesperadas. Por exemplo, se um animal desconhecido entrar no paddock, a resposta natural ao stress é ficarem alerta e aproximarem-se deste com cautela. Quando o stress é continuado e em excesso, algumas hormonas, como por exemplo o cortisol, mantêm-se elevadas
e levam a mudanças de comportamento e hábitos que podem causar cólicas, úlceras gástricas, diarreia e perda de peso. O tédio e o stress dos cavalos estabulados estão na origem de comportamentos estereotipados (vulgarmente conhecidos como “vícios”) como deglutir ar, morder portas e manjedouras, “birra-de-urso” e predispõem estes animais para o desenvolvimento de cólica.
4 INGESTÃO DE ÁGUA
A ingestão de água e a hidratação do trato gastrointestinal são necessárias para uma correta motilidade e função do mesmo. A diminuição da ingestão de água poderá causar desidratação, que pode levar a hipomotilidade e consequentes impactações.
É importante garantir que o cavalo está a ingerir a quantidade de água suficiente (5 a 10% do peso vivo), principalmente nos picos das estações em que a temperatura da água disponibilizada poderá ser extremamente alta ou extremamente baixa. Além disso, é também necessário assegurar a qualidade e limpeza das fontes de água, sendo a frequente sujidade encontrada nos bebedouros uma causa comum de cólicas.
5 CONSULTAS REGULARES DE ODONTOLOGIA
Os cavalos são animais com erupção dentária contínua durante toda a sua vida pelo que são recomendados exames odontológicos anuais por um médico veterinário.
Quando os cavalos não conseguem mastigar adequadamente a forragem e/ou concentrado devido a problemas dentários, como por exemplo pontas de esmalte, cáries, fraturas e retenções dentárias, há um aumento do risco de cólicas por impactações, obstruções esofágicas, entre outras.
6 CONTROLO REGULAR DE PARASITISMO
Os parasitas gastrointestinais são uma preocupação para os proprietários pelo impacto negativo que podem ter sobre o rendimento desportivo e condição corporal do cavalo. Os parasitas podem causar não só inflamação da mucosa, mas também disfunções gastrointestinais.
É aconselhável a realização de exames coprológicos frequentes (2-3 vezes por ano) para avaliar e caracterizar a carga parasitária, permitindo um tratamento dirigido. Deste modo, é possível evitar desparasitações repetidas, uma vez que esta prática potencia o aparecimento de resistências aos fármacos antiparasitários.
7 INGESTÃO DE AREIA
A ingestão de areia ocorre em cavalos a campo em terrenos arenosos, principalmente quando o pasto está pobre ou quando são alimentados do chão. Esta ingestão em grandes quantidades leva a uma acumulação da mesma no sistema gastrointestinal, que por sua vez poderá levar a cólicas provocadas por colites
(pela ação abrasiva da areia na mucosa) e/ ou impactações.
CONCLUINDO
As cólicas são situações bastante comuns para médicos veterinários e proprietários de cavalos e os sinais clínicos, ainda que subtis, não devem ser desvalorizados e devem motivar sempre um contacto com o médico veterinário.
Por parte dos detentores de cavalos, as estratégias de prevenção são fundamentais para evitar o seu aparecimento, tanto ao nível do maneio como da nutrição. O reconhecimento precoce dos sinais, a instituição de tratamento médico ou a referência para unidades hospitalares, quando existe necessidade de intervenção cirúrgica, são fundamentais para prevenir complicações e otimizar o prognóstico destes animais.
Fig. 1 – Sinal de cólica: cavalo a rebolar
Fig. 2 – Imagem de uma cólica cirúrgica
Fig. 3 – Cavalo a deglutir ar
Fig. 4 – Imagem de problemas dentários: pontas de esmalte com úlceras na mucosa oral Fig. 5 – Parasita presente nas fezes de cavalo
Fig. 6 – Imagem gastroscópica do duodeno (porção inicial do ID) com presença de areia Fig. 7 – Imagem radiográfica de um cólon equino com presença de areia
Fig. 8 – Sinal de cólica: cavalo a escoicear o abdómen
Fig. 9 – Impactação no intestino
Fig. 10 – Sinal de cólica: cavalo a olhar para o flanco
Fig. 11 – Sinal de cólica: cavalo deitado