Dirk Niepoort discute os seus projetos atuais e futuros
AQuinta de Nápoles foi construída numa encosta sobre o rio Tedo, um afluente na margem sul do rio Douro. As paredes de xisto de pedra seca misturam-se na paisagem. Os níveis de receção, fermentação e envelhecimento descem pela montanha, e as uvas e os vinhos são movidos pela gravidade com o mínimo de bombeamento. Estou aqui para falar com Dirk van der Niepoort.
Reconhecido como um inovador inspirado, Niepoort tem contribuído significativamente para a atual aclamação internacional dos vinhos de mesa do Douro. Questionado sobre a delicada coabitação destes “novos vinhos” com o vinho do Porto, venerado e tradicionalmente dominante na produção desta região, afirma: «Precisamos de pensar no Douro e não apenas no vinho do Porto.
Se pensarmos no Douro, o céu é o limite. Temos o Porto, um dos melhores vinhos do mundo, mas poderíamos também fazer alguns dos melhores vinhos brancos e tintos do mundo.» Segundo Niepoort, as vinhas mais escolhidas para o vinho do Porto não são muitas vezes as mais adequadas para o vinho de mesa: as mais altas ou que se encontram viradas a norte podem ser ideais para fazer vinho branco ou tinto, mas não são particularmente boas para o vinho do Porto.
O Niepoort Port Vintage 2017 foi premiado com 100 pontos excecionalmente raros por Robert Parker, uma das autoridades vinícolas mais respeitadas do mundo. Alguns dias após o nosso encontro, recebeu também o prémio Vinho do Ano 2019 da Revista de Vinhos. «Pensei seriamente no que o meu avô fez», comenta humildemente
Niepoort. Apesar da sua notoriedade, será que sente que o vinho do Porto é por vezes subvalorizado pelo mercado? «Se olharmos para os preços conseguidos por vinhos de Borgonha ou Bordéus, o preço do vinho do Porto é ridículo, especialmente se olharmos para os custos de produção. Gostaria de o ver tornar-se cada vez mais numa das coisas mais especiais do mundo.»
É claro que é impossível considerar o Douro em termos de um único terroir “típico”. Niepoort salienta que a maior vinha de montanha do mundo cobre uma vasta área com 45 mil hectares, com vinhas viradas a norte e a sul e 85 castas autóctones diferentes. Embora seja predominantemente uma zona quente, as altitudes das vinhas variam entre os 50 e os 800 metros. «Mesmo que os vinhos sejam pesados, há uma certa frescura que lhes dá um equilíbrio único. Na Niepoort, trabalhamos com vinhas mais altas para obter essa frescura e costumamos fazer a colheita mais cedo do que a maioria dos nossos colegas», explica. O produtor reconhece também as evidências das mudanças climáticas e acrescenta: «Estamos habituados a viver no limite de demasiado calor. No entanto, com vinhas viradas a norte, podemos corrigir isso.»
Niepoort não se deixa prender pela sua celebridade e reconhece prontamente a dívida dos viticultores para com as gerações anteriores. A nossa conversa é salpicada por referências ao seu pai, Rolf, e outros anciãos. «Devemos olhar para o que eles fizeram, como, porquê... e aprender com eles. De repente, fazemos coisas muito melhores.» Quanto à influência dos seus contemporâneos, revela: «Tudo em mim é influenciado por outras pessoas! Quanto mais faço, mais aprendo. É incrível como crescemos e aprendemos juntos.» Um pouco como a música de câmara, sugiro... «Os solistas são bons, mas quando se junta as pessoas certas, pode ser mágico!» A resposta vai de encontro a uma filosofia que abraça a curiosidade, a colaboração e a aquisição de conhecimentos para produzir vinhos leves, elegantes e que dão prazer em beber. A nossa discussão vira-se para o futuro do Douro, uma região vinícola que hoje se abre ao mundo: «É importante que as pessoas venham ver e perceber o trabalho árduo que é produzir uma garrafa de vinho. Mas também não podemos deixar que o turismo estrague esta bela região.»
Como de costume, Niepoort tem vários projetos em mão — um vinho verde de baixo teor alcoólico, quatro ou cinco por cento, um verdadeiro vinho de entrada; os seus projetos em curso no Dão e na Quinta de Baixo, na Bairrada, considerada por alguns como tendo os melhores terroirs de Portugal, onde trabalha com Pinot Noir, uma casta favorita; e, com a sua esposa Nina, Niepoort criou recentemente o seu primeiro chá verde japonês,
a partir de plantas cultivadas perto do Porto. O produtor refere-se ao chá como a sua outra paixão. «De momento, a novidade mais importante é que o meu filho mais velho, Daniel, começou a trabalhar aqui comigo [recentemente]. Estou muito feliz.» Daniel Niepoort vai assumir o desenvolvimento do Nat Cool, um projeto da Niepoort com enólogos internacionais para produzir vinhos de caráter lúdico, divertidos de beber. «Isto não é sobre Niepoort, ou sobre mim... Estamos a criar vinhos que são autênticos para a sua área.» Na viagem de regresso ao Porto, Niepoort partilha o seu sonho de um dia comprar uma vinha em Jerez e criar um Fino Sherry, que considera um dos grandes vinhos fortificados do mundo.