A Essential Algarve conversou com Tom Leamon, que se prepara para uma grande exposição individual na Fresco Gallery
Tom Leamon nasceu em Londres e licenciou-se em Belas Artes pela Universidade de Loughborough em 2003. Depois de se formar, criou o coletivo de arte Us So Far, um grupo subterrâneo que organizava espetáculos pop-up em edifícios abandonados por todo o Reino Unido. Adotando o papel de artista e curador, Tom abalou com sucesso o sistema de galerias de arte mundial. Uma bolsa em 2004 do Red Cow Studio permitiulhe produzir um corpo de trabalho sério e foi convidado a participar em várias exposições coletivas bem como uma série de mostras individuais a trabalhar com uma galeria nova e altamente respeitada, o que ajudou a construir a sua reputação global no circuito internacional de feiras de arte, com o seu trabalho recentemente exibido na Frieze New York.
Tom mudou-se para o Algarve há cerca de seis anos, e, em 2014, foi cofundador da Beekeepers, uma Associação Cultural de Artes localizada na fronteira espanhola, e está atualmente a trabalhar num projeto para criar espaços para artistas chamado Espaço Yucca, nos arredores de Tavira. Foi aqui que a Essential Algarve se encontrou com o artista, durante a preparação da sua próxima exposição individual na Fresco Gallery em Almancil, intitulada On the Spectrum (No Espectro).
Por vezes, o trabalho de Tom Leamon é cru e desimpedido na sua exploração do retrato com uma paleta vibrante e uma marca expressiva. Noutros, cria abstrações amorfas com padrões de cores que lembram certas peças de Picasso ou Miró. Os seus retratos parecem ser imagens recuperadas de revistas ou figuras históricas representadas como um busto. Isto está muito de acordo com a estética de Tom — para ele, o objeto encontrado tem um valor inerente, em que portas abandonadas e
molduras descartadas são recolhidas e incorporadas na sua obra.
«No Algarve, as pessoas deitam fora tantas coisas bonitas e eu ando à busca pela praia e encontro algo novo e interessante», afirma. «Encontro valor nessas peças; adoro ser capaz de reinventar coisas.» Esta filosofia confere uma fisicalidade ao seu trabalho, como acontece com o falecido grande colorista Howard Hodgkin, cujas pinceladas incluíam a moldura. Basquiat pintava frequentemente diretamente sobre madeira encontrada e objetos de rua. Mais recentemente, Vhils, o famoso artista urbano português, tem toda uma série de trabalhos nos quais esculpe portas e painéis de madeira pintados e renovados para terem um aspeto clássico.
Leamon trabalha a sua superfície com gestos largos, cores arrojadas e texto escrito, por vezes rabiscado de trás para a frente. Há uma alusão ao artista expressionista abstrato De Kooning, vista nas distorções e, claro, a Basquiat, com os símbolos e letras. Temos uma sensação de profunda indagação psicológica, uma vez que as suas figuras podem ser vistas como cómicas, combinadas com a angústia existencial. Estão presas no tempo e no espaço, limitadas aos seus papéis históricos ou ficcionais, representadas como bustos estáticos presos dentro do plano da imagem. Os retratos contemporâneos também captam este absurdo ridículo. Veja-se o exemplo da obra Carmen Miranda, que retrata um Boris Johnson taciturno e sóbrio como a icónica cantora e atriz luso-brasileira, completo com uma banana na cabeça.
Esta comédia aliada a uma seriedade subjacente dá ao conceito da exposição On the Spectrum verdadeiro poder e ressonância. Em linguagem
clínica, “estar no espectro” refere-se aos Transtornos do Espectro Autista, uma defeciência de desenvolvimento que pode causar desafios sociais, de comunicação e de comportamento significativos.
A teoria da cor é também um aspeto central da exposição. Estes princípios vêm do Renascimento e ainda prevalecem na era moderna, especialmente na publicidade comercial e no design. Sabemos que certas cores afetam o nosso humor e a nossa perceção, com cores quentes e frias provocando diferentes reações emocionais. As cores estão incorporadas na nossa linguagem e expressões; têm significados e códigos. Vejamos o caso da cor vermelha, o que no vem imediatamente à cabeça? Associamos naturalmente a cor ao perigo, ao aviso e à paixão. Temos uma resposta inata à cor, tal como as crianças quando procuram os lápis de cera.
Para a exposição na Fresco Gallery, Tom pintou sete salas separadas com as cores do espectro visível como parte da instalação. «Há muita ciência por detrás da cor e da forma como é utilizada. Fico fascinado ao ver como isso se vai sentir de sala em sala. Além disso, será diferente para cada pessoa, sinto que irá criar um diálogo», afirma o artista. «A curadoria desta exposição é muito importante, sinto que tudo irá acontecer no último momento, quando os quadros selecionados contrastarem com a parede colorida. Haverá um instante em que tudo isto fará sentido.»
On the Spectrum será uma mostra interativa, uma oportunidade para que os visitantes se envolvam com as obras de arte num espaço real em que se movem, provocando respostas muito pessoais e reações diversas. Enquanto artista, Tom Leamon delicia-se com a exploração e descoberta lúdicas; a sua prática é por vezes divertida, mas também profundamente séria. A exposição aborda questões psicológicas e comportamentais, mas é também uma afirmação de vida, especialmente tendo em conta o recente confinamento coletivo. «Vejo a escuridão e vejo a morte, mas vejo a vida como uma celebração, e quero que esta exposição seja uma experiência alegre. E é possível encontrar alegria em tudo.»
On the Spectrum vai extar em exposição na Fresco Gallery, em Almancil, de 13 de maio até meados do verão.
www.tomleamon.com | www.fresco.gallery