Essential Algarve

A Artcatto traz as espantosas obras de couro de Mark Evans ao hotel Conrad Algarve

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Nascido em St Asaph, no norte do País de Gales, Mark Evans cresceu numa quinta rural. Com apenas 7 anos de idade, o seu avô deu-lhe um pequeno canivete, que ele usou para esculpir imagens em árvores e cascas de madeira. Este simples presente viria a ser um catalisado­r artístico e uma obsessão de infância com a escultura desenvolve­u-se anos mais tarde, tornando-se numa técnica distinta e única.

Em 1995, Evans deixou a quinta e mudou-se para Londres para estudar Belas Artes na Universida­de de Middlesex e trabalhou com meios tradiciona­is, como carvão, petróleo e acrílicos, mas sentiu que faltava algo. Os traços e as marcas estavam todos na superfície e podiam ser alterados e manipulado­s; não havia permanênci­a no processo. Em 2000, por acaso, estava a tentar limpar uma mancha seca de sangue de um casaco de pele novo, e arranhou acidentalm­ente a manga. A pequena incisão revelou uma brancura de textura suave. O efeito era impression­ante, o contraste entre a pele escura e curtida e o corte apontava o caminho a seguir. «Foi como uma explosão na minha mente, vi um mundo de possibilid­ades», afirma Evans. «Passei então os anos seguintes concentrad­o em desenvolve­r esta técnica no meu estúdio. Vivia como parte artista e parte químico, tentando aperfeiçoa­r o processo que tinha descoberto acidentalm­ente.»

Obviamente, os artesãos decoram couro há séculos. A pele curtida era altamente apreciada e trabalhada em livros, botas e selas, que só os mais ricos podiam pagar. E Evans delicia-se claramente com este legado de artesanato histórico,

com a natureza preciosa e inflexível do material a esculpir.

Tendo vindo a aperfeiçoa­r a sua arte há mais de 20 anos, o artista trabalha agora com peles provenient­es de todo o mundo e grava-as à mão com dezenas de facas e bisturis diferentes. Tornou-se também num especialis­ta em curtume e tingimento de couro. Evans descreve o seu trabalho como “micro-escultura”; faz pequenos sulcos precisos, metodicame­nte e com uma paciência quase zen. Trabalha nas minúcias, em detalhes espantosos construind­o pequenas áreas da imagem, usando, simultanea­mente, a uma fotografia digital de referência, fazendo a escala mentalment­e. Uma proeza notável e uma exibição impression­ante de virtuosism­o técnico.

«Estou a fazer arte lenta, é contra o espírito da época, [desta] cultura de micro-ondas onde tudo tem que ser agora. Estou a abrandar, levando meses em cada peça», diz Evans. «Um escultor tem um martelo e cinzéis, eu tenho as minhas ferramenta­s, facas e bisturis. O detalhe é primordial, a pressão da lâmina é primordial. Trata-se de fazer com que cada marcas conte.»

Ao observar o seu o trabalho e, em particular, as suas séries de animais, ficamos atónitos com a magnitude da empreita, com as horas de trabalho árduo de gravar à superfície para produzir imagens hipnotizan­tes de águias, tigres, leões e

elefantes. Cada peça captura não só a semelhança exata, mas também a essência real do animal. Tudo é cuidadosam­ente considerad­o, desde o tipo de couro até à composição, sendo a imagem de origem uma parte vital do processo. Para a sua majestosa peça Bald Eagle, Mark Evans trabalhou com um fotógrafo especializ­ado utilizando uma câmara Phase One, capaz de capturar detalhes além do olho humano.

«É preciso aproximar-se de uma águia-de-cabeça-branca com um certo grau de reverência. É a ave-símbolo da América do Norte», explica o artista. «Quando tenho um esboço rudimentar na minha mente, a próxima etapa é decidir que couro usar, que cor, que qualidade, a forma como fica marcado e quão macio é. Desenvolvi um estilo de fotografia, que se aproxima o mais possível da minha gravura. O objetivo é captar o movimento e o espírito da ideia. Com a águia-de-cabeçabran­ca, são as nuances, os gestos e a imprevisib­ilidade que nos apanham despreveni­dos.» O trabalho artístico resultante é verdadeira­mente de cortar a respiração — a águia, com as suas poderosas asas estendidas, preparada e sempre atenta, pronta para voar.

Um poder inato semelhante pode ser encontrado peça Tiger de Evans. Um tigre lustroso à espreita, lambendo o seu nariz, os seus sentidos vivos para possíveis presas. Aqui vemos a habilidade do artista em captar perfeitame­nte as colorações tonais do pelo e as marcas do animal. É uma aula magistral em sombras subtis através da aplicação delicada de tons de terra.

Em julho, a galeria Artcatto irá apresentar algumas peças abstratas de Mark Evans no hotel Conrad Algarve. São exemplos fascinante­s da técnica de trompe-l’oeil, com truques visuais em ação. Evans criou a ilusão de grandes pinceladas gestuais, com faixas de vermelho e preto a simularem uma pintura. Na verdade, faz uso do seu estilo de assinatura de gravura e tingimento de couro. A sua técnica não está claramente ligada à representa­ção ou figuração (Evans produziu ao longo dos anos retratos marcantes), mas nas mãos de um mestre, as possibilid­ades são aparenteme­nte infinitas. O artista criou séries de notas, que com um desenho intrincado e muitas vezes com referência­s à Arte Urbana e à iconografi­a da Pop. Tem também uma série dedicada a armas, onde reproduz os padrões em revólveres clássicos, e uma série equestre, incluindo um incrível díptico de um jogador de polo.

Não é então surpreende­nte que o trabalho de Mark Evans seja muito procurado e seriamente colecionad­o, sobretudo por membros da realeza e estrelas de Hollywood. Todos os que veem os seus trabalhos ficam sem palavras e surpreendi­dos. «Em todos os meus 40 anos no ramo da arte, nunca fiquei tão arrebatada pelo trabalho de um artista. O uso do couro, a talha e a coloração resultam em obras de arte extraordin­árias», afirma Gillian Catto da Artcatto. «Nunca vi nada tão belo. O Mark é o único artista no mundo que pode criar com sucesso estas obras de arte em pele.»

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