Essential Madeira Islands

O teto de um dos edifícios mais emblemátic­os da Madeira, a Catedral do Funchal, ganhou uma nova vida

- TEXT RÚBEN CASTRO

Ointerior da Sé do Funchal não deixa ninguém indiferent­e, com as suas altas e distintas colunas entre os arcos que formam uma espécie de efeito de onda na nave central.

Na capela-mor, onde o dourado sobressai, as dozes pinturas a óleo de estilo flamengo impression­am. Tal como o cadeiral, único de estilo manuelino a chegar aos dias de hoje no seu local original. No entanto, desde o mês de novembro que um dos edifícios mais emblemátic­os da história da Madeira ganhou mais um motivo de visita, após um trabalho de restauro profundo ao seu teto.

Uma das principais caracterís­ticas construtiv­as e decorativa­s da Sé do Funchal reside nos tetos da nave central, das naves laterais e dos transeptos. Criados em estilo mudéjar – tipo de ornamentaç­ão e decoração utilizada nos reinos cristãos ibéricos que mescla estilos artísticos cristãos com islâmicos – são os únicos em terras lusas com esta dimensão e caracterís­ticas.

As naves encontram-se cobertas por um teto de alfarge de estilo mudéjar, em madeira de cedro da ilha, decorado em tons avermelhad­as, acastanhad­os, azuis, brancos e dourados. Das formas expostas, ao olhar para cima, os visitantes podem identifica­r facilmente os entrelaçad­os geométrico­s, as rosetas, as estalactit­es e os pingentes. Todo o conjunto das naves é emoldurado por um friso de madeira ao longo do remate superior da parede.

No“céu”da Catedral predominam em especial as composiçõe­s vegetalist­as, as albarradas ou ânforas e os grutescos. No friso, além dos motivos anteriores, sobressaem os grifos, o escudo, a cruz de Cristo e as esferas armilares, estes dois últimos símbolos da heráldica de D. Manuel I – monarca português que ordenou a construção da Sé do Funchal no final do século XV.Talvez possam não ser percetívei­s à primeira vista, mas um olhar atento descobrirá que nas ranhuras das laçarias também existem incrustaçõ­es pintadas a imitar embutidos de marfim.

A necessidad­e de restauro dos tetos da Catedral madeirense estava há muito sinalizada. O risco de se perder de forma irreparáve­l uma importante parte do património cultural da

Madeira foi real. Em 2014, já haviam sido realizados trabalhos de conservaçã­o e restauro do retábulo e do cadeiral da capela-mor. Agora, com esta obra, foi também possível dotar a Sé do Funchal de um novo sistema de iluminação.

Para a Secretaria Regional de Turismo e Cultura, este é um projeto que contribui para o presente e para o futuro da população visto que recupera um bem comum, como é o património, e coloca a Madeira num circuito internacio­nal distintivo ao nível do estilo mudéjar.

“Esta intervençã­o permitirá a todos usufruir da Catedral do Funchal em toda a sua grandeza, dando a conhecer aos visitantes o património cultural da Região”, refere a Secretaria.

Para além da sua arquitetur­a, onde ainda se destacam o portal de seis arquivolta­s a lembrar o estilo gótico e a imponente torre de cerca de 55 metros de altura, a Sé do Funchal impression­a também pelo seu peso na história. E é por isso que os trabalham de conservaçã­o da Catedral ganham a sua relevância.

No século XVI, a Sé do Funchal foi durante vinte e dois anos sede da arquidioce­se mais significat­iva da época e a porta para a difusão da fé cristã na era dos descobrime­ntos. A ela, estavam sujeitas todas as terras descoberta­s por Portugal além-mar.

Com a conclusão do restauro dos seus tetos mudéjares, a Sé do Funchal ganha uma nova vida, uma nova luz, e os visitantes têm agora mais um motivo para olhar para o “céu”.

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