Essential Madeira Islands

O teor artístico do Museu de Arte Sacra do Funchal extravasa do interior do edifício

- TEXT RÚBEN CASTRO PHOTOS MIGUEL NÓBREGA

Sobranceir­o à praça do Município, o Museu de Arte Sacra do Funchal, instalado num antigo palácio episcopal, possui uma das coleções mais ricas de pintura flamenga em Portugal, grande parte adquirida por comerciant­es locais no século XVI, quando a exportação do açúcar se encontrava no seu auge.

A cena da “Anunciação”, painel central do tríptico encontrado na Igreja do Bom Jesus da Ribeira, no Funchal, é um dos exemplos da qualidade artística exposta no museu. Concebido no início de 1500, pelo artista flamengo Joos Van Cleve, ilustra o anúncio do Arcanjo Gabriel à Virgem Maria de que ela seria a mãe de Jesus Cristo.

Na obra, a cena passa-se no interior de uma divisão palaciana, onde o contraste da cama de dossel coberta por um pano vermelho e os trajes brancos do anunciador chamam à atenção.

Ao longo de todo o museu, as cenas religiosas multiplica­m-se e os detalhes de algumas delas enchem o olhar dos mais minuciosos. A pintura

“Adoração dos Magos” é uma daquelas obras que estimula os mais detalhista­s. Datada do início do século XVI, a cena reúne a Virgem Maria e Jesus recém-nascido, ladeados pelos três reis Magos e São José. Em segundo plano, surge a cidade de Belém.

Apesar da qualidade das obras expostas no interior do edifício, o teor artístico do Museu de Arte Sacra do Funchal transborda até aos olhos de quem caminha nas ruas circundant­es.

É verdade que numa ilha com a orografia da Madeira não faltam sítios com vista para o mar. Se, hoje em dia, olhar para a imensidão do oceano Atlântico trata-se de um ato contemplat­ivo, no passado as coisas eram um pouco diferentes.

Muitos edifícios do Funchal possuem uma torre avista-navios, como é exemplo o da própria Câmara Municipal, que divide a praça do Município com a Igreja do Colégio e o Museu de Arte Sacra.

Em algumas habitações, estas torres constituía­m um espaço de distraimen­to e repouso, mas eram também utilizadas para avistar possíveis ataques à ilha e eram igualmente uma maneira dos mercadores controlare­m a chegada dos navios. Mas de todas as torres avista-navios, talvez a de maior beleza seja a do próprio Museu de Arte Sacra.

A da antiga casa episcopal, no local onde os bispos tinham os seus aposentos, surgiu no século XVIII, enriquecid­a por um conjunto de azulejos.

O conjunto azulejar é composto por 27 azulejos na altura, num total de quatro metros, e 91 azulejos no compriment­o, que correspond­e a 13,50 metros. Toda esta grande composição é quebrada pelas duas portas que dão acesso às salas da Torre.

No panorama geral, composto por três peças, encontram-se representa­das as três “Virtudes Teologais”. As representa­ções figurativa­s estão envolvidas por molduras, onde se destacam anjos, pilastras, e os mais variados motivos ornamentai­s como cartelas, acantos, festões de flores, laçarias, formas concheadas.

No painel central, “Charitas”, surge a alegoria da caridade, com a representa­ção de uma mulher

amamentado uma criança e protegendo outra, enquanto olha uma terceira, que chora junto ao seu ombro esquerdo.

À sua direita, chama à atenção uma figura feminina, erguendo um crucifixo com a mão dextra. A fé – “Fides”. Do lado oposto, a fechar o conjunto, aparece a esperança, “Spes”, através de uma personagem feminina de pé sobre um plinto.

No entanto, a arte e a beleza dos azulejos da torre avista-navios do Museu de Arte Sacra do Funchal não ofuscam o brilho da baía, mas competem até ao final pelo olhar dos contemplat­ivos. Tal como toda a arte do museu. www.masf.pt

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