O teor artístico do Museu de Arte Sacra do Funchal extravasa do interior do edifício
Sobranceiro à praça do Município, o Museu de Arte Sacra do Funchal, instalado num antigo palácio episcopal, possui uma das coleções mais ricas de pintura flamenga em Portugal, grande parte adquirida por comerciantes locais no século XVI, quando a exportação do açúcar se encontrava no seu auge.
A cena da “Anunciação”, painel central do tríptico encontrado na Igreja do Bom Jesus da Ribeira, no Funchal, é um dos exemplos da qualidade artística exposta no museu. Concebido no início de 1500, pelo artista flamengo Joos Van Cleve, ilustra o anúncio do Arcanjo Gabriel à Virgem Maria de que ela seria a mãe de Jesus Cristo.
Na obra, a cena passa-se no interior de uma divisão palaciana, onde o contraste da cama de dossel coberta por um pano vermelho e os trajes brancos do anunciador chamam à atenção.
Ao longo de todo o museu, as cenas religiosas multiplicam-se e os detalhes de algumas delas enchem o olhar dos mais minuciosos. A pintura
“Adoração dos Magos” é uma daquelas obras que estimula os mais detalhistas. Datada do início do século XVI, a cena reúne a Virgem Maria e Jesus recém-nascido, ladeados pelos três reis Magos e São José. Em segundo plano, surge a cidade de Belém.
Apesar da qualidade das obras expostas no interior do edifício, o teor artístico do Museu de Arte Sacra do Funchal transborda até aos olhos de quem caminha nas ruas circundantes.
É verdade que numa ilha com a orografia da Madeira não faltam sítios com vista para o mar. Se, hoje em dia, olhar para a imensidão do oceano Atlântico trata-se de um ato contemplativo, no passado as coisas eram um pouco diferentes.
Muitos edifícios do Funchal possuem uma torre avista-navios, como é exemplo o da própria Câmara Municipal, que divide a praça do Município com a Igreja do Colégio e o Museu de Arte Sacra.
Em algumas habitações, estas torres constituíam um espaço de distraimento e repouso, mas eram também utilizadas para avistar possíveis ataques à ilha e eram igualmente uma maneira dos mercadores controlarem a chegada dos navios. Mas de todas as torres avista-navios, talvez a de maior beleza seja a do próprio Museu de Arte Sacra.
A da antiga casa episcopal, no local onde os bispos tinham os seus aposentos, surgiu no século XVIII, enriquecida por um conjunto de azulejos.
O conjunto azulejar é composto por 27 azulejos na altura, num total de quatro metros, e 91 azulejos no comprimento, que corresponde a 13,50 metros. Toda esta grande composição é quebrada pelas duas portas que dão acesso às salas da Torre.
No panorama geral, composto por três peças, encontram-se representadas as três “Virtudes Teologais”. As representações figurativas estão envolvidas por molduras, onde se destacam anjos, pilastras, e os mais variados motivos ornamentais como cartelas, acantos, festões de flores, laçarias, formas concheadas.
No painel central, “Charitas”, surge a alegoria da caridade, com a representação de uma mulher
amamentado uma criança e protegendo outra, enquanto olha uma terceira, que chora junto ao seu ombro esquerdo.
À sua direita, chama à atenção uma figura feminina, erguendo um crucifixo com a mão dextra. A fé – “Fides”. Do lado oposto, a fechar o conjunto, aparece a esperança, “Spes”, através de uma personagem feminina de pé sobre um plinto.
No entanto, a arte e a beleza dos azulejos da torre avista-navios do Museu de Arte Sacra do Funchal não ofuscam o brilho da baía, mas competem até ao final pelo olhar dos contemplativos. Tal como toda a arte do museu. www.masf.pt