Conhecida antigamente como “vinho de peros” e destinada aos agricultores, a Sidra da Madeira tornou-se uma marca e procura tornar-se mais conhecida
Foi em outubro de 2020 que a Comissão Europeia legitimou que a“Sidra da Madeira”, produzida única e exclusivamente de maçãs e peros oriundos da Região, pudesse utilizar a expressão “IG”, de indicação geográfica.
Este foi um marco importante para os produtores locais e até mesmo para a valorização e transmissão do“saber fazer”desta bebida, com uma tradição histórica na Madeira.
Atualmente,a ilha conta com uma sidraria localizada em Santo António da Serra e estão projetadas outras em São Roque do Faial e da Camacha.
Foi neste contexto que nasceu a Sidra Netos e Gautier, que alcançou a Medalha de Ouro no
6.º Concurso Nacional de Sidras tradicionais Portuguesas na categoria de Melhor das melhores, sendo a sua origem o Jardim da Serra. A ideia de produzir esta bebida nasceu de três amigos, Yves Gautier, Marco Gonçalves e Manuel Neto, ligados à gastronomia, ao mundo rural, e com uma tradição familiar ligada à sidra.
Yves Gautier explica à Essential que a iniciativa ganhou asas depois de uma “colheita de peras e maçãs excecional” tanto na qualidade como na quantidade. O apoio da sidraria do Governo Regional da Madeira foi fundamental para alavancar a produção.
Desde então a produção da “Sidra Netos e Gautier” superou as expetativas, quer na comercialização, quer na aceitação do produto pelos consumidores locais, mas também pelos visitantes, que passaram a conhecer a Sidra da Madeira, através do trabalho de divulgação feito nos bares e restaurantes.
Yves Gautier explica ainda que o intuito deste projeto passa por apostar na “sustentabilidade da agricultura local”,e na valorização dos“produtos e sabores originais madeirenses”, lembrando que cada gole é uma viagem de descoberta.
Por seu turno, Marco Gonçalves afirma que a família Neto tem uma longa tradição na produção desta bebida.“Há pelo menos seis gerações que
fazemos sidra. A nossa família é mais uma, entre as muitas famílias de madeirenses que viviam nas zonas de montanha,que usava esse conhecimento para transformar algo desprovido de valor, num produto de excelência”, vinca à Essential. Por fim, salienta ainda que esta sidra destaca-se sobretudo pela sua “subtil complexidade” e pelo seu “caráter e estrutura”.
Mas estes são apenas um dos produtores que ao longo dos últimos anos tem trabalhado com o governo regional na melhoria da qualidade da sidra produzida na Madeira. Foi criado um rótulo único e os produtores têm tido apoio técnico. Desta forma é possível garantir uniformidade e escala na produção.
Esta bebida que resulta da fermentação de maçãs e peras tem uma longa tradição na Madeira. É possível encontrar relatos do cronista Gomes Eanes de Zurara (1410-1474) que dão conta das listas de mantimentos das armadas Portuguesas que, a partir do início do século XVI, faziam escala para reabastecer na ilha, levando este precioso “vinho”, o termo utilizado à data.
A produção de Sidra na Madeira desenvolveuse em paralelo com a produção de vinho, ambos com as mesmas técnicas e, muitas vezes, produzidos nas mesmas instalações. Todavia, o então conhecido“Vinho de Peros”era destinado aos trabalhadores agrícolas.
A Sidra nunca deixou de ser consumida na Madeira. E existem vários produtores premiados. A criação da Indicação Geográfica foi também uma oportunidade para melhorar a qualidade do produto, e reforçar o conceito de marca, além do seu potencial gastronómico, no acompanhamento de pratos.
O Catálogo Nacional de Variedades de Espécies Fruteiras tem registo de 10 variedades de macieiras e uma de pereiras na Madeira. A Sidra da Madeira caracteriza-se por ser seca, não ter gás, ter uma acidez muito particular e não serem adicionados açúcares, leveduras forasteiras, dióxido de carbono ou álcool.