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O HOTEL MAIS ANTIGO DA INVICTA

PORTO Faz domingo 140 anos que o Grande Hotel de Paris abriu na Rua da Fábrica, sendo hoje o mais antigo da cidade. Recentemen­te comprado pela cadeia Stay Hotels, vai ser ampliado, mas a elegância francesa é toda para preservar. TEXTO DE ANA LUÍSA SANTOS

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Entrar no Grande Hotel de Paris, com a sua escadaria de mármore branco, coberta por uma passadeira vermelha, é fazer uma viagem até ao século XIX, para um lugar onde Guerra Junqueiro, Rafael Bordalo Pinheiro, Camilo Castelo Branco e Eça de Queirós estiveram hospedados. O hotel

oitocentis­ta, que nasceu inspirado nos costumes franceses e cujo negócio foi adquirido este ano pela holding Just Stay Hotels (com a chancela Stay Hotels encarregad­o da gestão) celebra 140 anos no domingo. E pode dizer-se que pouco mudou desde o primeiro dia que abriu portas na Rua da Fábrica, na Baixa do Porto.

O hotel conserva os seus traços de arquitetur­a Belle Époque e muitos pormenores a evocar uma bem conservada elegância de antigament­e. O piso de madeira, por exemplo, que nos range suavemente sobre os pés, é o original e tem algumas marcas

dos tempos em que esteve coberto por alcatifa, explica Joana Santos, revenue manager da empresa. Há muita madeira no interior, desde a receção com as suas paredes trabalhada­s pintadas de branco e azul-bebé até ao bar e sala de refeições.

Um dos detalhes mais curiosos do hotel é o Posto 1, uma pequeníssi­ma sala, na zona do bar, onde está um telefone. Apesar do aparelho estar desligado, fica a graça deste apontament­o. Mais aparelhos antigos há pelo hotel fora, além deste posto telefónico, como uma antiga máquina de costura Singer, um gramofone, uma máquina de escrever ou de registar.

A sala de refeições, onde é servido o pequeno-almoço, é o maior espaço comum do hotel, com janelas para o jardim, e mobiliário antigo de madeira. Os cortinados floridos nas janelas deixam espreitar o jardim cheio de árvores, à margem do bulício da Baixa. Se a vontade for demorar-se pelo interior, na Sala Dupuy, ao lado da dos pequenos-almoços, encontram-se jogos de tabuleiro, baralhos de cartas e diversas fotografia­s nas paredes, com datas entre 1920 e 1964, e com legendas que contam parte da história do hotel – como é o caso daquela onde se vê o primeiro dono do Grande Hotel de Paris.

Há, porém, fotografia­s um pouco por todo o lado ao longo dos três pisos do hotel, aos quais se chega por duas escadarias que se cruzam e por elevador. No primeiro piso, há uma pequena biblioteca que tem alguns livros deixados por hóspedes. O hotel tem 42 quartos, que vão do quarto duplo ao quádruplo. E há um especial, que é muito requisitad­o. Trata-se do quarto 110, antigament­e o número 17, onde Camilo Castelo Branco viveu durante uma altura depressiva da sua vida. Consta que terá recuperado graças aos pratos da cozinheira do hotel na altura, Gertrudes.

Os quartos serão intervenci­onados a partir do próximo ano «para dar mais conforto aos hóspedes», refere Joana Santos – e o mesmo vai acontecer no bar. Mas a grande mudança não será no edifício central, mas nos dois edifícios contíguos para onde o hotel se vai ampliar, com a criação de mais 37 quartos e um aumento da área de jardim. Apesar da intervençã­o prevista, o objetivo é manter a traça original do edifício e alterar apenas o essencial, garante a cadeia Stay Hotels.

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