Evasões

PANTEÃO É APENAS A PONTA DO ICEBERGUE

- SUL POR TIAGO GUILHERME

O jantar final da Web Summit no Panteão Nacional, que tanta polémica gerou, é apenas o resultado de uma política de gestão de espaços nobres totalmente desadequad­a e humilhante. Comer e beber à grande, rir e galhofar, cantar e discursar... com os corpos de Amália, Eusébio, Sophia de Mello Breyner Andresen, Almeida Garrett ou Humberto Delgado em salas ao lado é mais do que indigno, é um ultraje. Mesmo que na sala onde decorreu o jantar estejam túmulos vazios de outras personalid­ades.

Não tão grave, mas no mesmo sentido, é a forma mercantili­sta como se usa e abusa do Terreiro do Paço e do Rossio, espaços nobres da cidade onde cabem todos os eventos, desde que pagos. Como já uma vez referi, a Praça do Comércio não devia ter mais do que dois ou três, no máximo quatro, eventos por ano. Já para não falar dos erros cometidos em obras dos dois lados do Cais das Colunas. Respeitar o espaço público é respeitar a cidade e a sua alma.

Outro exemplo da falta de respeito pela cidade e pelos cidadãos é o que atualmente acontece no Parque das Nações, onde os carros ganham cada vez mais espaço, seja legal ou ilegalment­e. Onde outrora se passeava a pé, já há carros estacionad­os, desvirtuan­do totalmente o intuito daquela área. E até o espaço por debaixo da famosa pala do Pavilhão de Portugal tem servido de parque de estacionam­ento de eventos de marcas de carros, a troco de dinheiro, certamente. Vergonhoso. Fazer discursos contra os carros é fácil. Difícil é ser coerente na prática... Lisboa está longe de ter uma boa e civilizada gestão do espaço público.

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