PAISAGEM COM MESA E MAR AO FUNDO
ARMAÇÃO DE PÊRA Criaram Sónia Calixto e José João Felício em boa hora esta casa feita fortaleza e guardiã do maior areal do concelho de Silves. O tempo dos piratas e da necessidade absoluta de defesa já lá vai, eo Olivalmar é o promontório e o abraço que
Aqui mesmo onde nos encontramos aportavam e zarpavam, no século XVI, fugazes visitantes a que nos habituámos a chamar piratas. Encontraram um povo pacato e incapaz de se defender até que se soergueu a fortaleza de Santo António da Pedra da Galé, entretanto rebaptizada como Fortaleza de Armação de Pêra. Não davam a ida pela vinda, asfixiando a comunidade residente, reduzida ao que a pesca sobrante dava, impedindo a modernidade de verdadeiramente se instalar.
A orientação para o turismo acontece por isso mais tarde do que nas restantes paragens ribeirinhas, instituindo-se justamente como reduto pacífico e precioso, espécie de paraíso do barlavento. Investimentos de grande fôlego como por exemplo o Vila Vita Parc vieram reforçar o estatuto de pérola atlântica com que hoje deparamos e abismamos, tal a imensidão da beleza minimalista. A mesa do Olivalmar é a excelência feita produto, génio e paisagem. Na liderança das operações está o experiente Rui Mil-homens, profissional que já andou pelo mundo e aqui nos faz a todos viajar com os olhos no infinito.
Os proprietários são o casal Sónia Calixto - gestora - e José João Felício, ambos conhecedores profundos do ofício. Das várias formas possíveis de exploração do cardápio, opto por uma viagem pelas entradas do chef, seguida de um mergulho em mar profundo, e termino em terra firme, na segurança sápida do clássico magret de pato.
CRÍ T I CO DE COMIDA E VI NHOS
Na primeira tarefa, vou pela tríade ostras abertas ao vapor e molho cítrico (14,50 euros, 6 unidades), lingueirão à Bulhão Pato (16,50 euros) e tomatada de mexilhão (11,50 euros). Deliciosas as ostras, frescura irrepreensível, vêm da Ria Formosa e trazem por cima brunesa de pepino e frutos tropicais que abrem a complexidade do prato. Genial o lingueirão na cozedura e na textura, delícia bem vinda a da tomatada de mexilhão.
A segunda tarefa é brilhantemente preenchida por um robalo de mar cozido com o maior cuidado, em jeito de reconciliação com o rei Neptuno. O magret de pato com puré de batata doce e legumes (19,50 euros) termina a empreitada da refeição salgada, e muito bem. O dito encruado, bem a gosto, passado na sertã para libertar sucos, sabor geral inefável. No final, o mimo dos fondants de alfarroba, equilibrados e finos como se impõe para que tudo termine bem. E termina entre o céu e este barrocal de mil encantos, com o voto firme de voltar. ●