Evasões

MAR, HORTA E VIAGENS EM CASA COM ESTRELA

O peixe, marisco e horta biológica continuam a alicerçar os menus do Vista Restaurant­e, mas o chef João Oliveira traz um toque das suas viagens e novas experiênci­as à reabertura do algarvio detentor de uma estrela Michelin.

- TEXTO DE NUNO CARDOSO FOTOGRAFIA DR

Depois da pausa habitual nesta altura do ano, o algarvio Vista voltou a abrir portas em março. João Oliveira, o chef que lidera esta cozinha há sete anos, os últimos cinco com uma estrela Michelin, volta a munir-se do mar e da horta para os dois menus de degustação, com dez momentos cada, e do produto nacional, que impera em toda a carta, só com a exceção do caviar. Mas traz consigo também a cultura internacio­nal. “Este ano, em vez de utilizar apenas receituári­o português com técnicas contemporâ­neas, peguei um pouco nas minhas viagens e numa cultura mais universal”, explica o chef natural de Valongo.

Um desses exemplos é a lula do Algarve, que brilha junto de um molho de galanga, erva-príncipe e coco, adaptado dos caldos que provou na Tailândia e Vietname. No menu dedicado ao peixe e marisco, todo vindo da linha de costa de Lisboa ao Algarve, cabem ainda pratos como a raia a vapor com texturas diferentes de couveflor e ervas halófitas, o filete de cavala fumada e braseada com creme de azeitona galega e alcaparras e petiscos para comer de uma só vez, como o canelone de carapau fumado e alho negro e a mini ostra de Alvor com a pêranashi.

No Michelin de Portimão, a horta ganha maior destaque no outro menu, com propostas veganas e vegetarian­as, entre as quais se destacam os tomates-cereja biológicos, com gel de yuzu, ponzu e limão-marroquino, e sabores a manjericão e camomila. As técnicas de preservaçã­o são um dos aliados de João Oliveira aqui, com a conserva e fermentaçã­o dos últimos tomates que surgiram no ano passado. A ligação à terra é feita ainda com outra novidade este ano. Por um extra de 25 euros, o comensalco deste menu pode visitar a quinta de Portimão que fornece os vegetais biológicos ao Vista, arregaçar as mangas e plantar uma árvore ou legume. “Um gesto simbólico que ajuda a criar memórias”, diz o chef, que já tinha uma experiênci­a semelhante no menu de peixe e marisco, focado nas ostras de Alvor.

Para o final, o selo regional ganha palco, com a interpreta­ção do típico Dom Rodrigo, aqui desconstru­ído. A viver no Algarve, o chef ruma a Norte sempre que tem saudades “do arroz de cabidela, da francesinh­a, das carnes e do fumeiro”, mas não dispensa o clima a Sul. “No Algarve chovem duas, três semanas por ano, temos mais qualidade de vida”, conta João, que atribui a sua infância numa aldeia perto de Valongo à sua preocupaçã­o com a sazonalida­de e sustentabi­lidade. ●

Internacio­nalizar a cozinha portuguesa através dos hóspedes do hotel onde se insere e ao mesmo tempo seduzir clientes nacionais dando ao receituári­o português uma nova roupagem são as bases do projeto do restaurant­e Viva Porto.

No piso térreo do Hotel Neya, instalado na margem do Douro, nas antigas ruínas do Convento de Monchique, o Viva Porto apresentas­e reinventad­o, com nova carta. À frente da cozinha, o chef Diogo Pimentel – também responsáve­l pelo Viva Lisboa – quer homenagear “pratos típicos da região, dando-lhe roupagens diferentes, mas respeitand­o o sabor e o receituári­o tradiciona­l”, afirma. Este respeito não impede a originalid­ade, como é exemplo a sobremesa Azeitona. “Queríamos suscitar intriga. O que fizemos foi pegar na azeitona e trabalhar tudo o que é derivado dela, nomeadamen­te o azeite, numa torta de azeitona e num crumble”, conta. Não é apenas no fim da refeição que o chef, de 28 anos e natural da Bairrada, consegue surpreende­r. No início, os peixinhos da horta aparecem envolvidos num polme preto – tonalidade conseguida através da utilização de farinha com carvão vegetal ativado. Com esta cor “fica mais difícil de ver que vegetal está lá dentro – e podem ser vários, até porque a entrada foi pensada para evitar o seu desperdíci­o”. Milho, cenoura roxa, courgette e pimento são alguns dos utilizados. Os peixinhos podem ser mergulhado­s em molho de malagueta ou de alho assado.

Para renovar o palato segue-se o fresco e leve carpaccio de polvo, com maçã verde e pimento assado. Depois, o prato de codorniz com brioche caseiro e molho de escabeche remete para as bolas de carne do norte. Segue-se o portuense bacalhau à Gomes de Sá, numa nova abordagem. O lombo do bacalhau é confitado e servido com crocante de azeitona, ovo de codorniz e puré de batata. Quem for vegetarian­o tem opção no cardápio, como é exemplo o prato de abóbora e endívia com molho de manteiga de soja e trigo.

Como bairradino que é, o chef não podia deixar de apresentar leitão. “Este prato já me acompanha há algum tempo. É barriga, com uma batata, uma laranja e bimis. Uma forma de mostrar as minhas raízes”, diz. ●

Rua de Monchique, 35 (Massarelos) Web: porto.neyahotels.com/restaurant­e

Tel.: 218413066

Preço médio: 30 euros. Menu executivo Vista Rio (almoço de segunda a sexta-feira): 17,50 euros

 ?? ?? PORTIMÃO
Bela Vista Hotel & Spa Avenida Tomás Cabreira, Praia da Rocha, Portimão Tel.: 282460280 Preço: menus de degustação desde 150 euros, sem vinhos.
PORTIMÃO Bela Vista Hotel & Spa Avenida Tomás Cabreira, Praia da Rocha, Portimão Tel.: 282460280 Preço: menus de degustação desde 150 euros, sem vinhos.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal