Evasões

COZINHA DE RAÍZES FEITA HINO E DEVOÇÃO

MADEIRA Incrustado nos altos da Calheta, o Socalcos Nature Hotel abraça o decline e o granito como se sempre ali tivesse estado e além da espectacul­aridade regista-se e sente-se o manifesto do grande chef Octávio Freitas, elevando a cozinha de mercado ao

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NCRÍ T I CO DE COMIDA E VI NHOS ão sei dizer com precisão há quantos anos conheço o chef Octávio Freitas e contabilid­ade alguma convergiri­a com a impressão que deixa em todos os que com ele se cruzam e fazem o mesmo exercício. É o campeão do imprevisto, está por toda a parte e é profundo em tudo o que faz. Minimalist­a na cozinha, fixa- se no essencial e depois as suas mãos ganham vida própria, tudo acontece de forma orgânica. De um chef biónico e hiperactiv­o como ele, dirse-ia que está sempre com pressa de partir, mas é ao contrário, adora o contacto, a partilha e o diálogo. O subchefe que levou consigo, André Gonçalves, já o acompanha há largos anos e estrutura o trabalho e o tempo da mesma forma. Governa as operações do hotel a irmã Nélia Freitas, com o maior garbo. A cozinha do A Razão é um anexo de portas escancarad­as para a sala de jantar, todos os comensais fazem uma viagem diferente, sem dogmas nem proibições. É o sonho do chef tornado realidade e ao mesmo tempo o cunho que nós, amantes da boa mesa, sabemos ser tendência universal.

A refeição, almoço ou jantar, é negociada no início com cada mesa e desenvolve-se em 3 ou 4 momentos. Na prática, a opção é feita entre o menu Estações (3 pratos, 30 euros) ou Experiênci­a (4 pratos, 40 euros). Os vinhos são à parte, carta bem recheada de bons títulos e uma frasqueira do chef que nos leva aos píncaros epicurista­s, o chef Octávio Freitas é mestre também nas harmonizaç­ões, por isso há que saber deixar-se levar pelas suas mãos sábias. Tudo isto porque a comida não falha. A horta iniciada em 2016 é governada por Sizaltino, pai de Octávio, e as criações acontecem mediante a inspiração e o gosto de cada cliente. Papas de milho cheias de cor e sabor, hortícolas de antologia prontos a desfilar, o mesmo é dizer acelgas, inhames, feijão raiado, couves, abóbora amarela, semilhas (batatas), cebolas, beterrabas, cenouras, nabiças etc., o cortejo não tem fim. Peixes directamen­te do mar, tive a sorte de me calhar uma ventrecha de atum maravilhos­a, os lombos também a sair suculentos e processado­s a rigor. Nada nos consegue preparar devidament­e para as ovas de espada, a que carinhosam­ente Octávio chama o melhor caviar do Atlântico, pargo de sonho, diferente do que se apanha no continente, mas igualmente sápido e hidratado. Nas carnes impera o trabalho da cozedura prolongada a baixa temperatur­a, em frentes diversas e sempre abrilhanta­das pelas mais que oportunas ervas. Um grande garrafão de vinho Madeira de canteiro, artesanal e produzido a partir de tinta negra, marca a entrada no domínio da sobremesa. Antes disso, debiquei o Galatrixa - corruptela de lagartixa - uma pérola de que não estamos ainda autorizado­s a dar pormenores. Acaba de completar 40 anos o chef Octávio Freitas, 25 dos quais a trabalhar em cozinha. Grande empresário, amigo e cultor do melhor da vida. Para hibernar, muitas vezes, este lugar único da Razão. ●

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