Evasões

Viagem à roda da porcelana

O Museu Vista Alegre condensa quase 200 anos de história, mas há mais para ver, além das peças que mostram como evoluiu, ali, o fabrico da porcelana. Do conjunto patrimonia­l fazem parte o bairro operário, onde ainda vivem trabalhado­res aposentado­s, e uma

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Aqui há património, mas também indústria viva”, sublinha Filipa Quatorze, coordenado­ra do Museu Vista Alegre, logo no arranque da visita àquele espaço, nascido no terreno da fábrica de porcelana homónima, em Ílhavo. A fábrica iniciou atividade em 1824, e desde cedo houve noção do valor patrimonia­l da empresa e cuidado com a sua salvaguard­a, explica. O museu, que abriu ao público em 1964 e tem um espólio com mais de 30 mil peças, conta a história da empresa fundada por José Ferreira Pinto Basto, a evolução da fábrica e das suas produções ao longo de praticamen­te dois séculos.

Dois antigos fornos a carvão e lenha inauguram o percurso por diferentes salas, onde tanto se aborda a influência de novas correntes artísticas (como a arte nouveau ou o modernismo) nos desenhos das peças; como a comunidade social que ia desenvolve­ndo um trabalho próprio no seio da fábrica. Mas ali não se olha apenas para o passado, como alertara a guia. Para perceber isso, basta visitar a oficina de pintura manual, onde ganham cor algumas das peças mais exclusivas, aberta ao público nos dias úteis.

A visita continua fora das portas do museu, na Capela da Nossa Senhora da Penha de França, adquirida pelo fundador da Vista Alegre, em hasta pública, em 1816, e classifica­da como Monumento Nacional em 1910. No edifício, mandado construir, em fins do século XVII, pelo bispo D. Manuel de Moura Manoel, destacam-se o seu túmulo episcopal, esculpido em pedra de Ançã

A oficina de pintura manual da Vista Alegre tem as portas abertas ao público

por Claude Laprade; os azulejos seiscentis­tas pintados por Gabriel del Barco; os retábulos em mármore e talha dourada; e os frescos e pinturas murais.

A Vista Alegre tem ainda outras facetas, das lojas ao bairro operário, onde ainda vivem trabalhado­res aposentado­s. Nesta parte da viagem, toma a dianteira Maria do Céu Rocha, que trabalha ali há 42 anos, como já antes dela outros familiares, sogros incluídos. “Na minha geração, nunca saíamos daqui, nem para arranjar marido!”, conta, bem humorada, no interior do teatro, ainda ativo e aberto ao exterior. “Aqui, era onde nos divertíamo­s. A minha sogra e o meu sogro foram grandes atores de teatro. Fazíamos bailes de Carnaval, víamos cinema…”, recorda. Além de teatro, o bairro também tinha creche, escola, supermerca­do, até barbearia.

No lugar da creche, funciona agora o serviço educativo, com oficinas de olaria e pintura abertas aos visitantes, que podem levar uma recordação personaliz­ada . Ainda hoje se pode passar um bom tempo ali, sem necessidad­e de sair, porque nem faltam cama e comida. Há meia dúzia de anos, surgiu o Montebelo Vista Alegre, um cinco estrelas com várias opções de alojamento, restaurant­e, spa e outras comodidade­s, muito marcado pela porcelana. Ela está presente nos quartos e apartament­os, corredores e áreas comuns. “O hotel é como um showroom da Vista Alegre”, diz o diretor, António Machado Matos.

VISTA ALEGRE

Vista Alegre, Ílhavo

Tel.: 234320628

Web: vistaalegr­e.com

Museu: das 10h às 19h30. Não encerra. Preço: bilhete de adulto, 6 euros (grátis para crianças até aos 5 anos); bilhete família (dois adultos e dois menores de 18 anos), 16 euros

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