Miguel Velez
Unlock Boutique Hotels
Licenciado em 1997 pela Universidade Católica do Porto em Gestão e Administração de Empresas, concluiu em 2001 um MBA Executivo em Marketing na Escola de Gestão do Porto (atualmente designada por Porto Business School), tendo sido um dos top 3 estudantes e desde então foi atualizando os seus conhecimentos com cursos para executivos na London Business School e INSEAD. Miguel Velez foi professor na Universidade Católica Portuguesa durante vários anos no Master em Hotelaria.
Ingressou na hotelaria em 2005 e acabou por assumir a Direção Geral do Porto Palácio Congress Hotel & Spa. Foi o responsável pela Sonae Turismo Hotéis, passando pela multinacional americana Mercer Consulting e assumiu a Direção Geral do The Yeatman. Foi membro da Comissão Executiva do Grupo Pestana e Administrador das Pousadas de Portugal. Actualmente é o CEO e fundador da Unlock Boutique Hotels.
Desde Março de 2020, altura em que o Covid-19 chegou a Portugal, que estamos a atravessar uma crise muito complicada a nível mundial em diversos sectores. De que forma é que o turismo pode voltar a unir as pessoas brevemente?
Miguel Velez: A sociedade já vinha a viver uma desestruturação grande, com movimentos extremistas, debates em áreas aparentemente de pouco interesse para o bem comum e o desenvolvimento sustentável. O turismo era o que permita existir um elo mais forte de união entre os povos, que derrubava as fronteiras e que ajudava à paz no mundo, sendo o "escape", a fuga, de biliões de pessoas.
O Covid-19 veio criar fronteiras que já não existiam, veio afastar os povos, tirar a livre circulação e fazer com que países e pessoas se fechassem em si próprios. O que sentimos é que globalmente as pessoas querem viajar, mais que tudo, querem gozar a vida e é isso que o turismo permite. Portanto, eu penso que iremos assistir a um momento histórico de reconquista do que foi perdido, sendo o turismo o maior e principal agente motivador. É sempre nestes momentos que existe uma enorme inovação e novas oportunidades.
Honrando as mortes e a destruição associada, a procura de novas experiências, a procura de viver o que se perdeu e que fez lembrar a fragilidade de tudo o que se pensava ter, serão muito fortes e exigentes e é preciso estar preparado como nunca. Compete a todos os participantes terem o engenho e arte para criar e antecipar essa procura e necessidades respectivamente.
O ano passado o turismo em Portugal sofreu uma queda superior a 50%, mas por outro lado, os portugueses aproveitaram o ano para "Redescobrir Portugal". Quais foram os recursos utilizados pela Unlock Boutique Hotels para tentar minimizar esta queda e atrair os portugueses?
Miguel Velez: Na Unlock Boutique Hotels vemos o tema em duas ópticas.
Na óptica interna, a UBH foi criada, desde o momento inicial, muito baseada em tecnologia, na procura de talentos para a gestão e inovação com enfoque na optimização de processos e procedimentos, tendo por base a flexibilidade, a polivalência e a rapidez de acção. Neste sentido e quando em meados de Março a COVID-19 se instalou, tivemos de tomar decisões e optamos por não fechar os hotéis e manter sempre a funcionar os mesmos quando o mais óbvio e seguro seria fechar. Para que fosse possível, tivemos de alterar e ajustar muito significativamente a forma de trabalhar.
Quer tenha sido através da automação de processos, como da simplificação e agilização destes, como da criação de novos rituais com os parceiros de negócio. O mesmo se passou na própria gestão operacional em cada unidade hoteleira, onde tivemos de rever e ajustar. Na óptica externa, temos que dividir por cada uma das áreas, sendo que o enfoque foi manter sempre os hotéis activos e próximos dos clientes, ajustando sempre o serviço de acordo com os tempos e necessidades que iam existindo. Fizemos um trabalho enorme de adaptação na área comercial. Nos canais sociais tivemos uma dinâmica “brutal” e os resultados foram incrivelmente positivos com vários recordes de receita em alguns dos nossos hotéis.
A pandemia obrigou-nos a modificar a forma como vivemos e todo um modelo de sustentabilidade está em causa. Poderá esta ser uma nova oportunidade para repensar o sector hoteleiro?
Miguel Velez: A Unlock Boutique Hotels tem como visão, desde a sua criação, juntar e agregar hotéis boutique dando-lhes a força das grandes cadeias hoteleiras sem retirar o carácter único e exclusivo.
O que aconteceu com o COVID-19, é que esta necessidade que já era muito evidente e forte no passado, tornou-se ainda mais evidente e necessária. Temos tido abordagens de muitos hotéis, quer a nível nacional quer a nível internacional, em especial de Espanha, portanto parece-me muito claro que a agregação de hotéis independentes vai acontecer. Adicionalmente, as novas tecnologias irão criar um novo modelo de negócio, quer seja em modelos associativos, modelos de fidelidade ou outros que ainda não conhecemos. Cada vez mais as marcas irão associar-se ao turismos e aquilo que o mesmo tem para oferecer.
Esta publicação, a EvoqueMag, é um excelente exemplo disto mesmo. Surge neste período de COVID-19 a olhar para o futuro e a querer preencher um novo espaço. Este empreendedorismo vai acelerar e passar por um novo momento de inovação, criando e reforçando as redes, os serviços e os produtos.
Quase a completar cinco anos de existência (com aniversário agendado para Maio de 2021) quais os maiores desafios e recompensas que a marca atravessou ao longo destes anos?
Miguel Velez: Tivemos de tudo, passamos por tudo o que era possível, penso eu. Foi muito intenso! Acho que não se consegue sequer repetir e fazer duas vezes igual. Foram momentos únicos a todos os níveis. Começamos com a visão e depois testar a sua viabilidade no mercado.
A Unlock foi crescendo em hotéis e em constantes novas negociações e novos hotéis associados. Quando chegou o COVID-19 e o colapso total do sector, conseguimos ultrapassar os desafios e mantermo-nos sempre a funcionar.
Um dos momentos mais desafiantes tem sido conseguirmos sempre manter o nosso rumo sem ceder a "novos tentações", resultado de outras oportunidades que nos foram surgindo.
Vai ser crítico um forte re-arranque e vai ser preciso que os níveis de performance anteriores de trabalho se recuperem de imediato. Estas paragens não podem afectar o empenho, pelo contrário, mais do que nunca terá de ser um esforço conjunto de todos para se começar a recuperar e mais que isso, reconstruir o que se perdeu a todos os níveis, este poderá mesmo se o ponto mais crítico, ter endurance e performance.
O que reserva o futuro aos Unlock Boutique Hotels?
Miguel Velez: A visão é a mesma, a estratégia também e por conseguinte a orientação.
Temos de analisar em várias vertentes, sendo que o crescimento de hotéis será a mais óbvia e natural. Um enfoque em hotéis com 40 a 80 quartos, mas sempre únicos, autênticos e de carácter boutique.
Na óptica comercial vamos lançar novos serviços tendo sempre por base a aproximação ao cliente e a utilização da tecnologia em proveito dos mesmos. Nas equipas continuamos a apostar nos talentos e no seu desenvolvimento, tal como, no desenvolvimento mútuo dos parceiros que nos acompanham e com quem privilegiamos relações duradoiras.
Iremos trabalhar arduamente na componente da inovação e de forma a que a Unlock esteja sempre na linha da frente do que esperamos que seja o mercado nos próximos anos e no impacto forte e positivo pósCovid19.