Paridade de género: (ainda) um tema a resolver
O tema está longe de ser novo e podemos ver melhorias, mas há muito por fazer. Uma maior e mais justa participação das mulheres no mundo do trabalho pode ser potenciada pela tecnologia e tem grandes ganhos económicos
Assistimos a um momento singular no mercado de trabalho, marcado pela subida das taxas de emprego feminino e regresso das mulheres ao mundo profissional, depois de milhões o terem abandonado durante o período pandémico. De acordo com dados do Banco Mundial, as mulheres representam hoje mais de 46% da força de trabalho na Europa e quase 40% a nível global, o que revela uma importância crescente da força feminina no mercado de trabalho. Em particular, são as mulheres na faixa etária entre os 25 e os 54 anos, cuja quota de participação atingiu valores históricos, que têm impulsionado novas carreiras, lutado por melhores salários e benefícios, e tirado partido das oportunidades do trabalho remoto.
No entanto, a verdadeira paridade de género no que toca à progressão salarial e de carreira ainda continua longe de ser alcançada. Apenas 5,8% dos diretores executivos da Fortune 500 são mulheres e menos de um terço dos membros dos comités executivos das grandes empresas são mulheres. Do mesmo modo, e segundo o estudo do Manpowergroup, 2024: Uma Visão do Mundo do Trabalho Para as Mulheres, as medidas para promover igualdade no mercado de trabalho estão atrasadas em metade das organizações, tanto em Portugal como a nível global.
No entanto, se olharmos para o “copo meio cheio”, este estudo mostra-nos também que há alguns setores que estão a fazer progressos reais no sentido da igualdade de género. As empresas de bens e serviços de consumo e das finanças e imobiliário estão a liderar o processo e a mostrar-nos o que é possível.
UMA DECISÃO DE GESTÃO ACERTADA
É importante que as organizações reconheçam as oportunidades que têm em mãos, para potenciarem o seu talento e ganharem uma vantagem competitiva sustentável para o seu futuro. Em face da atual escassez de talento, a participação plena de todos no mercado de trabalho é crucial e a integração das mulheres em condições de igualdade não é apenas um ideal, mas sim uma necessidade económica.
De acordo com a Mckinsey, alcançar a paridade de género pode impulsionar a economia global em até 12 biliões de dólares na próxima década. Além disso, diversos estudos mostram que a diversidade das equipas de liderança impulsiona a inovação, aumenta os lucros e promove a resiliência organizacional. Em face desta realidade, as empresas devem fazer uma escolha crucial: desejam liderar essa transformação, aproveitando todo o potencial das mulheres, ou preferem correr o risco de se tornarem irrelevantes enquanto os seus concorrentes se reinventam com base em estratégias de talento inclusivas?
O CAMINHO A SEGUIR
Neste percurso para construir a equidade, é fundamental apoiar efetivamente as funções de Diversidade, Igualdade, Inclusão e Sentido de Pertença (DEIB). As empresas devem definir metas e indicadores de seguimento, e alocar recursos que apoiem de forma adequada a concretização dos planos de ação.
A flexibilidade nos modelos de trabalho é outro fator que está a contribuir para trazer mais mulheres para o mundo do trabalho e a permitir que estas construam carreiras de sucesso, equilibrando vida pessoal e profissional. De facto, 36% dos empregadores portugueses afirmam que esta é a medida mais eficaz na promoção de uma maior diversidade nas suas organizações.
Também a integração de tecnologia vem igualmente potenciar o fecho do fosso entre géneros, não só porque promove maior flexibilidade mas também porque nos oferece soluções que permitem combater a discriminação e potenciar a equidade no acesso a empregos e desenvolvimento de carreiras. Em Portugal, 51% dos empregadores consideram que as ferramentas baseadas em IA estão a ajudar no recrutamento dos melhores candidatos, independentemente do género e 61% afirma que a igualdade entre homens e mulheres está a ser favorecida pelo avanço da tecnologia.
Por fim, importa recordar como a promoção do upskilling e reskilling dos colaboradores na organização vem colmatar necessidades de talento, mas também reforçar a paridade de género. Num mercado onde a escassez de talento impera, a valorização e o desenvolvimento de competências vem contribuir para evitar o abandono das mulheres do mercado de trabalho, abrindo-lhes acesso às funções e percursos de carreira de futuro.
Neste mês de março, em que celebramos o Dia Internacional da Mulher, ao mesmo tempo que lembramos os progressos alcançados, é importante reconhecer que devemos continuar a avançar. Os insights são claros, as ferramentas estão ao nosso alcance e o momento de agir é agora. A mudança não acontecerá de um dia para o outro. Mas cada pequeno passo que damos aproxima-nos de um futuro em que as mulheres podem prosperar no trabalho.