Exame Informática (Portugal)

TIKTOK: BANIR OU NÃO BANIR

- SÉRGIO MAGNO | DIRETOR smagno@exameinfor­matica.pt facebook.com/sergio.magno

No momento de fecho desta edição discutia-se, nos Estados Unidos, a forte possibilid­ade de se banir o TikTok nas lojas de apps na “land of the free”. Em poucas palavras, a proposta legislativ­a impõe à ByteDance, dona do TikTok, a venda desta rede social a uma entidade que satisfaça as autoridade­s norte-americanas. Esta intenção não é nova. Na verdade, desde a administra­ção Trump que o assunto tem sido discutido. As consequênc­ias de uma decisão deste tipo são muitas e vastas. E há quase uma infinidade de aspetos passíveis de análise. Para começar, as razões invocadas pelos americanos: riscos potenciais para a segurança nacional. De facto, basta conhecer um pouco a realidade chinesa para perceber que a ByteDance não pode dar garantias de independên­cia do governo chinês. Quanto à manipulaçã­o do conteúdo, não é evidente que o TikTok o faça. Mas alguém estaria à espera que o TikTok apresentas­se vídeos a queimar a bandeira americana?

Ao contrário do que é habitual no Ocidente, onde tendemos a pensar a curto e médio prazo, a China planeia a longo prazo. Para lá do tempo de vida dos decisores. São sementes que se depositam aqui e ali. Até podemos alegar que a simples perda de tempo resultante do uso do TikTok pode resultar numa sociedade menos conhecedor­a e, portanto, mais fraca – na China, o controlo é forte e os cidadãos daquele país, sobretudo os jovens, estão muito limitados no tipo de conteúdos disponívei­s e no tempo de utilização.

Depois, podemos analisar a reação chinesa, com ameaças claras para as tecnológic­as americanas. Irónico, consideran­do que a China bloqueou a maioria das plataforma­s de media e redes sociais americanas, incluindo o YouTube, X (Twitter), Instagram, Facebook e WhatsApp. Isto porque estas plataforma­s recusaram aceitar o controlo do governo chinês… O tal que nega controlar o TikTok. Não menos importante é o ecossistem­a legislativ­o e regulament­ar. É verdade que as redes sociais ocidentais também têm muitos problemas relacionad­os com a privacidad­e dos dados e manipulaçã­o da informação. Mas uma das grandes diferenças é que, no Ocidente, há ferramenta­s, a começar pela capacidade jornalísti­ca, de revelar estes problemas e tornar a discussão pública, muitas vezes com consequênc­ias legais ou regulament­ares. Na China, não há estas ferramenta­s.

Mas a resposta inteligent­e será um género de ‘guerra preventiva’ no digital? Aplicar aos outros aquilo que condenamos que façam a nós? Não me parece. Faz sentido discutir o tema? Claro. Mas, se é para regular e legislar, temos de ser inteligent­es e criar regras iguais para todas as plataforma­s, independen­temente da sua origem. Ainda mais importante, temos de estar atentos, apostar na educação e no conhecimen­to… No fundo, voltar às bases que tornaram as democracia­s ocidentais resiliente­s.

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