TIKTOK: BANIR OU NÃO BANIR
No momento de fecho desta edição discutia-se, nos Estados Unidos, a forte possibilidade de se banir o TikTok nas lojas de apps na “land of the free”. Em poucas palavras, a proposta legislativa impõe à ByteDance, dona do TikTok, a venda desta rede social a uma entidade que satisfaça as autoridades norte-americanas. Esta intenção não é nova. Na verdade, desde a administração Trump que o assunto tem sido discutido. As consequências de uma decisão deste tipo são muitas e vastas. E há quase uma infinidade de aspetos passíveis de análise. Para começar, as razões invocadas pelos americanos: riscos potenciais para a segurança nacional. De facto, basta conhecer um pouco a realidade chinesa para perceber que a ByteDance não pode dar garantias de independência do governo chinês. Quanto à manipulação do conteúdo, não é evidente que o TikTok o faça. Mas alguém estaria à espera que o TikTok apresentasse vídeos a queimar a bandeira americana?
Ao contrário do que é habitual no Ocidente, onde tendemos a pensar a curto e médio prazo, a China planeia a longo prazo. Para lá do tempo de vida dos decisores. São sementes que se depositam aqui e ali. Até podemos alegar que a simples perda de tempo resultante do uso do TikTok pode resultar numa sociedade menos conhecedora e, portanto, mais fraca – na China, o controlo é forte e os cidadãos daquele país, sobretudo os jovens, estão muito limitados no tipo de conteúdos disponíveis e no tempo de utilização.
Depois, podemos analisar a reação chinesa, com ameaças claras para as tecnológicas americanas. Irónico, considerando que a China bloqueou a maioria das plataformas de media e redes sociais americanas, incluindo o YouTube, X (Twitter), Instagram, Facebook e WhatsApp. Isto porque estas plataformas recusaram aceitar o controlo do governo chinês… O tal que nega controlar o TikTok. Não menos importante é o ecossistema legislativo e regulamentar. É verdade que as redes sociais ocidentais também têm muitos problemas relacionados com a privacidade dos dados e manipulação da informação. Mas uma das grandes diferenças é que, no Ocidente, há ferramentas, a começar pela capacidade jornalística, de revelar estes problemas e tornar a discussão pública, muitas vezes com consequências legais ou regulamentares. Na China, não há estas ferramentas.
Mas a resposta inteligente será um género de ‘guerra preventiva’ no digital? Aplicar aos outros aquilo que condenamos que façam a nós? Não me parece. Faz sentido discutir o tema? Claro. Mas, se é para regular e legislar, temos de ser inteligentes e criar regras iguais para todas as plataformas, independentemente da sua origem. Ainda mais importante, temos de estar atentos, apostar na educação e no conhecimento… No fundo, voltar às bases que tornaram as democracias ocidentais resilientes.