DIGNÍSSIMA IA
Aprovado a 13 de março, o diploma europeu que regula a Inteligência Artificial, conhecido como AI Act, tem muitos nomes. Mas aqui destacamos apenas um, o de Virgínia Dignum. Professora e investigadora, nascida em Lisboa, a especialista em computação e em IA, bate-se há vários anos por uma utilização responsável da tecnologia, suportada por legislação. “Ter uma IA responsável não é uma escolha”, afirmou no auditório da Champalimaud, em novembro passado, durante uma sessão de apresentação dos projetos desenvolvidos pelo Centro de IA Responsável, no qual colabora. Com uma experiência de mais quatro décadas na área, a lisboeta já alertara, em parecer elaborado para a União Europeia, que “a promessa da IA, infelizmente, não chega sem riscos.”
Quatro anos depois das primeiras discussões sobre o assunto, a União Europeia tornou-se numa região pioneira no estabelecimento de regras para o recurso à tecnologia, seguindo a lógica defendida pela investigadora – centrada no homem, usada e desenvolvida com responsabilidade. “Congratulo-me com o facto de o AI Act não só abordar os riscos associados à IA, mas também elevar substancialmente a fasquia no que diz respeito à qualidade, ao desempenho e à fiabilidade da IA que a UE está disposta a permitir”, disse. Mas apesar de lhe reconhecer a força, Virgínia Dignum admitiu que o AI Act só poderá ser considerado um sucesso “se todos nós, de governos a utilizadores finais” o respeitarmos. O que é, no fundo, “para o bem de todos, públicos e privados”, insistira na sessão em Lisboa.
É também por isso que uma das suas principais recomendações tem sido a de se apostar a sério na formação nesta área. “Todos os cidadãos europeus devem ter um mínimo de entendimento das técnicas por trás dos sistemas de decisões automatizadas”, até para poderem confiar na sua capacidade de avaliação dos mesmos, sustenta. Faz parte da lista de 38 especialistas ouvidos na ONU, com vista à criação de uma agência internacional para a IA.