ARQUITETURA
Já sabe? As nossas cidades estão cheias, inchadas a rebentar pelas costuras… E a procura por habitações de luxo está a crescer. Não admira que os arquitetos empreendedores estejam a construir arranha-céus residenciais ultrafinos pelo mundo fora. Nova Iorq
Os arranha-céus superfinos são a nova febre em Nova Iorque.
um aglomerado do lado sul de Central Park, conhecido como Billionaires’ Row. Ao longo das próximas páginas, a GQ faz uma visita guiada aos superelegantes da linha do horizonte e interroga-se: serão eles pilares da comunidade ou pináculos da desigualdade pós-crise?
DDe todas as formas arquitetónicas criadas do século XX, o arranha-céus em particular convida a leituras metafóricas. O seu significado concreto sempre esteve aberto a interpretações. Serão estas estruturas todo-poderosas emblemas de esperança e sucesso ou imagens de arrogância capitalista evocativas de Babel? À medida que o mundo muda, o mesmo acontece às ressonâncias. Durante a revolução feminista, o arranha-céus parecia descaradamente fálico. Após o 11 de Setembro, parecia impotente e vulnerável. Recentemente, o simbolismo voltou a mudar – desta vez não devido à mudança dos tempos, mas do estilo.
O arranha-céus ultrafino nasceu há uma década no lar espiritual das construções em altura, Nova Iorque, onde este subgénero arquitetónico emergente veio a definir-se por um rácio de base-altura mínimo de 1:10. Muitos, porém, são muito mais finos do que isso. É o caso da Steinway Tower, um edifício com 435 metros em construção na 111 West 57th Street. Quando for concluído este ano, será o arranha-céus mais fino do mundo, com um rácio de 1:24 (para efeitos comparativos, o da Torre Norte do World Trade Center era de 1:7). Outra referência a considerar é o 100 East 53rd Street, que é mais baixo (216 metros), mas tem um elegante
rácio de 1:16. Esta tendência arquitetónica teve um longo alcance. Em Melbourne, uma torre de 75 pisos chamada Elysium foi aprovada para o bairro de Southbank. Desenhado pelo gabinete de arquitetura local BKK, terá 244 metros de altura e, no seu ponto mais fino, apenas 12 metros de largura.
Em Nova Iorque, existe uma concentração destes empreendimentos, já concluídos ou em construção, na zona em redor da 57th Street, que lhe granjeou o nome de Billionaires’ Row. Isto causou uma mudança de ambiente no local: no passado, era dedicada aos negócios, mas estas torres são essencialmente residenciais, com a vantagem de terem vistas maravilhosas sobre o parque, os rios e o oceano Atlântico.
O seu objetivo fornece indícios do que está por trás do fenómeno. Numa altura em que a procura por habitação de luxo está em alta, mas o espaço é pouco, os arquitetos estão a pegar em lotes pequenos no centro da cidade que poderiam ser demasiado modestos para grandes empresas, mas que são adequados para uso pessoal, e a maximizar o seu valor construindo-os o mais altos possível.
Isso tornou-se possível devido à junção de dois fatores. Em primeiro lugar, uma particularidade do sistema judicial de Nova Iorque. Os regulamentos do planeamento urbano da cidade proíbem a construção acima de certas alturas em determinadas zonas, para assegurar que Manhattan não se transforma numa paisagem cyberpunk de superestruturas densamente aglomeradas. No entanto, se um arquiteto escolher não esgotar o seu limite de altura num edifício, os construtores de um edifício vizinho podem comprar-lhe os “direitos de construção em altura” não utilizados e acrescentá-los ao seu próprio edifício – e as pessoas por trás dos novos ultrafinos estão a fazer exatamente isso.
O segundo fator é a inovação. O vento é o maior problema enfrentado pelos arranha-céus e os engenheiros descobriram novas formas de lidar com o fluxo de ar e impedi-lo de formar vórtices que gerem vibrações – algo especialmente importante para as estruturas finas. Pertinentemente, a composição química do cimento evoluiu radicalmente ao longo dos anos e é agora capaz de suportar muito mais com muito menos.
Se acha que tudo isto soa caro, tem razão. O edifício superpequeno tem um preço supergrande: o orçamento de construção da Steinway Tower foi fixado em 790 milhões de euros em junho de 2015. No entanto, os construtores estão a apostar que as suas vistas de elite o tornarão lucrativo, atraindo residentes riquíssimos, dispostos a pagar pelo menos 14 milhões de euros por um apartamento. Uma vez que o edifício tem 82 pisos, o valor estimado do empreendimento, presumindo que todas as unidades serão vendidas, é alegadamente de 1.330 milhões de euros.
Os arranha-céus ultrafinos não aparecerão em todos os recantos não ocupados da cidade porque os edifícios não podem ultrapassar um certo limite de finura. A tecnologia que sustenta todos os arranha-céus é o elevador – e os poços de elevador não podem ser encolhidos. Se um arranha-céus for demasiado fino, o poço do elevador ocupará demasiado espaço, reduzindo a margem de lucro. Manhattan tem uma quantidade finita de lotes com tamanho suficiente para um arranha-céus residencial fino viável, mas insuficiente para outros tipos de construção. A raridade destes edifícios só aumentará o seu significado metafórico: uma materialização da desigualdade de rendimentos no espaço; um punhado de casas extraordinárias e extraordinariamente caras para o 0,1%, visíveis a milhas de distância. Quanto ao seu fator “uau”, é algo que vale a pena considerar. Como Churchill disse em tempos: “Nós moldamos os nossos edifícios. Depois, eles moldam-nos a nós.”
SERÃO ESTAS ESTRUTURAS TODO-PODEROSAS EMBLEMAS DE ESPERANÇA E SUCESSO OU IMAGENS DE ARROGÂNCIA CAPITALISTA EVOCATIVAS DE BABEL?