ABERTURA
Um guia para saber tudo sobre transplantes capilares.
Se há assunto que é sensível para o homem é a calvície. Qual Sansão que perde a sua força quando Dalila lhe corta o cabelo, assim que começam a sentir os fios a desaparecer, entram em estado de alerta. Felizmente, longe vão os tempos em que era nas televendas, de madrugada, que encontravam a solução para os seus problemas. Desvendamos porque é que o transplante capilar é um dos métodos mais populares (e eficazes) a replantar o seu próprio cabelo onde deixou de existir.
O CANDIDATO IDEAL
O correto diagnóstico é essencial para garantir o sucesso e a eficácia do tratamento. É necessário identificar as causas por trás da queda de cabelo e principalmente analisar se é uma queda irreversível ou praticamente irreversível. Normalmente, os melhores candidatos são aqueles diagnosticados com alopecia androgenética, uma das principais causas de queda de cabelo no homem. Esta é popularmente conhecida como calvície e é determinada geneticamente (hereditária). É também essencial que o candidato tenha uma boa área dadora composta por uma elevada densidade capilar com inúmeros folículos múltiplos.
O TRATAMENTO
Primeiro é importante esclarecer a diferença entre implante capilar e transplante capilar. Apesar de serem muitas vezes usados como sinónimos, o procedimento não é o mesmo. Como explica Isabel Soares, diretora clínica da DHI Portugal, o transplante capilar é uma intervenção médica estética que consiste numa redistribuição de folículos capilares no couro cabeludo. Este procedimento é feito em três fases: primeiro é feita a extração de folículos unitários (existem duas técnicas diferentes para o fazer) ou de uma pequena tira de couro cabeludo; segue-se a fase de seleção e conservação de folículos e por fim, o implante de folículos. O tricologista Ricardo Vila Nova, da clínica homónima, esclarece que os folículos retirados da área dadora são reposicionados por incisão da pele, mais precisamente na camada dérmica inferior, nas áreas onde não existe mais folículo ativo ou produção de cabelo. Pode ser também um tratamento eficaz para áreas onde os espaços entre os fios de cabelo existentes sejam mais espaçados, permitindo a visibilidade do couro cabeludo.
AS VANTAGENS
Antigamente, um transplante capilar era feito através de pequenos patches de couro cabeludo que eram retirados da zona dadora e depois colocados na área calva a cobrir. Este procedimento não só era extremamente invasivo e doloroso como tinha resultados muito pouco naturais (deixava várias cicatrizes). Imagine que era algo como estar a remendar uma colcha. Hoje em dia, como refere Ricardo, o processo de colheita e implantação apresenta efeitos muito mais naturais, uma recuperação mais rápida e cicatrizes mínimas.
As duas técnicas mais antigas e conhecidas para implantar os folículos são a FUT (follicular unit transplantation) ou a FUE (folicular unit extraction). A primeira envolve a extração de uma tira de couro cabeludo (da zona dadora) e a consequente seleção e colheita de folículos capilares para serem posteriormente implantados. Já a última, como o nome indica, implica a extração do folículo um a um diretamente da área dadora, sem necessidade de cortes ou suturas. Ricardo refere que ambas são seguras e permitem uma boa estabilidade de aceitação dos folículos na área recetora. A grande diferença será que a técnica FUT permite extrair um maior número de fios e um maior grau de cobertura, tendo como única contrapartida a cicatriz que fica da tira de couro cabeludo retirada. Segundo Isabel, em 2010, o grupo DHI apresentou uma nova técnica exclusiva conhecida como direct hair implantation (DHI) que evita a necessidade de realizar a abertura de orifícios prévios, injetando os folículos diretamente no couro cabeludo. “Esta técnica permite assim implantar os folículos de uma forma mais próxima e com uma orientação e direção do folículo extremamente natural. Garante ainda uma menor lesão na área implantada e uma recuperação muito mais rápida que não deixa cicatrizes visíveis”, explica Isabel. Ricardo partilha ainda uma outra técnica mais recente e patenteada pelo Hair Science Institute, na Holanda, conhecida como transplante por stem cell que também retira os folículos individualmente, mas que permite voltar a colher da mesma área uma segunda quantidade para transplantar. “Esta técnica permite pela primeira vez a multiplicação dos fios uma vez que, ao recolher os folículos para implantação, o corte abrange apenas uma fração, deixando as células matriz que produzem folículos voltar a regenerar e a produzir cabelo. No espaço de um ano, o cabelo apresenta o mesmo diâmetro e densidade”, esclarece Ricardo.
AS DÚVIDAS
A grande questão será sempre o diagnóstico correto. Como Isabel nos diz, apesar de o transplante capilar ser uma das poucas opções para restauro capilar total da zona afetada, a sua indicação depende sempre de vários fatores tais como o tipo de alopecia e a saúde do couro cabeludo do candidato (para identificar uma área dadora). No caso de outro tipo de alopecias, normalmente relacionadas com deficiências do sistema imunitário e hormonal, a solução deverá passar por procurar um especialista e tomar a medicação adequada.
Já para Ricardo, o seu principal objetivo é sempre a recuperação do cabelo sem cirurgia. O tricologista refere que o mais importante é fazer um diagnóstico em que seja possível prever o comportamento futuro do cabelo, nomeadamente uma futura redução. Com isto, Ricardo quer dizer que no que diz respeito ao transplante capilar, ele apenas preenche as áreas onde não há cabelo ou folículo existente no momento em que é feita a intervenção. Nada garante que o cabelo já existente não possa sofrer uma redução. “Vários pacientes têm a ilusão de que o transplante de cabelo oferece a multiplicação do número de cabelos em toda a cabeça o que é errado. O transplante apenas reposiciona a quantidade de cabelo noutra área, ou seja, o cabelo que está na área dadora passa para a área frontal, por isso, o número de fios continua exatamente o mesmo na área total da cabeça”, explica Ricardo. Para contornar esta questão, o tricologista refere técnicas complementares ao transplante que permitem ampliar os cabelos da área dadora e recetora antes do procedimento, como preparar o couro cabeludo e o cabelo com fatores de crescimento que amplifiquem o metabolismo e a expansão cuticular do cabelo.