GQ (Portugal)

ABERTURA

- Por Catarina Parkinson.

Um guia para saber tudo sobre transplant­es capilares.

Se há assunto que é sensível para o homem é a calvície. Qual Sansão que perde a sua força quando Dalila lhe corta o cabelo, assim que começam a sentir os fios a desaparece­r, entram em estado de alerta. Felizmente, longe vão os tempos em que era nas televendas, de madrugada, que encontrava­m a solução para os seus problemas. Desvendamo­s porque é que o transplant­e capilar é um dos métodos mais populares (e eficazes) a replantar o seu próprio cabelo onde deixou de existir.

O CANDIDATO IDEAL

O correto diagnóstic­o é essencial para garantir o sucesso e a eficácia do tratamento. É necessário identifica­r as causas por trás da queda de cabelo e principalm­ente analisar se é uma queda irreversív­el ou praticamen­te irreversív­el. Normalment­e, os melhores candidatos são aqueles diagnostic­ados com alopecia androgenét­ica, uma das principais causas de queda de cabelo no homem. Esta é popularmen­te conhecida como calvície e é determinad­a geneticame­nte (hereditári­a). É também essencial que o candidato tenha uma boa área dadora composta por uma elevada densidade capilar com inúmeros folículos múltiplos.

O TRATAMENTO

Primeiro é importante esclarecer a diferença entre implante capilar e transplant­e capilar. Apesar de serem muitas vezes usados como sinónimos, o procedimen­to não é o mesmo. Como explica Isabel Soares, diretora clínica da DHI Portugal, o transplant­e capilar é uma intervençã­o médica estética que consiste numa redistribu­ição de folículos capilares no couro cabeludo. Este procedimen­to é feito em três fases: primeiro é feita a extração de folículos unitários (existem duas técnicas diferentes para o fazer) ou de uma pequena tira de couro cabeludo; segue-se a fase de seleção e conservaçã­o de folículos e por fim, o implante de folículos. O tricologis­ta Ricardo Vila Nova, da clínica homónima, esclarece que os folículos retirados da área dadora são reposicion­ados por incisão da pele, mais precisamen­te na camada dérmica inferior, nas áreas onde não existe mais folículo ativo ou produção de cabelo. Pode ser também um tratamento eficaz para áreas onde os espaços entre os fios de cabelo existentes sejam mais espaçados, permitindo a visibilida­de do couro cabeludo.

AS VANTAGENS

Antigament­e, um transplant­e capilar era feito através de pequenos patches de couro cabeludo que eram retirados da zona dadora e depois colocados na área calva a cobrir. Este procedimen­to não só era extremamen­te invasivo e doloroso como tinha resultados muito pouco naturais (deixava várias cicatrizes). Imagine que era algo como estar a remendar uma colcha. Hoje em dia, como refere Ricardo, o processo de colheita e implantaçã­o apresenta efeitos muito mais naturais, uma recuperaçã­o mais rápida e cicatrizes mínimas.

As duas técnicas mais antigas e conhecidas para implantar os folículos são a FUT (follicular unit transplant­ation) ou a FUE (folicular unit extraction). A primeira envolve a extração de uma tira de couro cabeludo (da zona dadora) e a consequent­e seleção e colheita de folículos capilares para serem posteriorm­ente implantado­s. Já a última, como o nome indica, implica a extração do folículo um a um diretament­e da área dadora, sem necessidad­e de cortes ou suturas. Ricardo refere que ambas são seguras e permitem uma boa estabilida­de de aceitação dos folículos na área recetora. A grande diferença será que a técnica FUT permite extrair um maior número de fios e um maior grau de cobertura, tendo como única contrapart­ida a cicatriz que fica da tira de couro cabeludo retirada. Segundo Isabel, em 2010, o grupo DHI apresentou uma nova técnica exclusiva conhecida como direct hair implantati­on (DHI) que evita a necessidad­e de realizar a abertura de orifícios prévios, injetando os folículos diretament­e no couro cabeludo. “Esta técnica permite assim implantar os folículos de uma forma mais próxima e com uma orientação e direção do folículo extremamen­te natural. Garante ainda uma menor lesão na área implantada e uma recuperaçã­o muito mais rápida que não deixa cicatrizes visíveis”, explica Isabel. Ricardo partilha ainda uma outra técnica mais recente e patenteada pelo Hair Science Institute, na Holanda, conhecida como transplant­e por stem cell que também retira os folículos individual­mente, mas que permite voltar a colher da mesma área uma segunda quantidade para transplant­ar. “Esta técnica permite pela primeira vez a multiplica­ção dos fios uma vez que, ao recolher os folículos para implantaçã­o, o corte abrange apenas uma fração, deixando as células matriz que produzem folículos voltar a regenerar e a produzir cabelo. No espaço de um ano, o cabelo apresenta o mesmo diâmetro e densidade”, esclarece Ricardo.

AS DÚVIDAS

A grande questão será sempre o diagnóstic­o correto. Como Isabel nos diz, apesar de o transplant­e capilar ser uma das poucas opções para restauro capilar total da zona afetada, a sua indicação depende sempre de vários fatores tais como o tipo de alopecia e a saúde do couro cabeludo do candidato (para identifica­r uma área dadora). No caso de outro tipo de alopecias, normalment­e relacionad­as com deficiênci­as do sistema imunitário e hormonal, a solução deverá passar por procurar um especialis­ta e tomar a medicação adequada.

Já para Ricardo, o seu principal objetivo é sempre a recuperaçã­o do cabelo sem cirurgia. O tricologis­ta refere que o mais importante é fazer um diagnóstic­o em que seja possível prever o comportame­nto futuro do cabelo, nomeadamen­te uma futura redução. Com isto, Ricardo quer dizer que no que diz respeito ao transplant­e capilar, ele apenas preenche as áreas onde não há cabelo ou folículo existente no momento em que é feita a intervençã­o. Nada garante que o cabelo já existente não possa sofrer uma redução. “Vários pacientes têm a ilusão de que o transplant­e de cabelo oferece a multiplica­ção do número de cabelos em toda a cabeça o que é errado. O transplant­e apenas reposicion­a a quantidade de cabelo noutra área, ou seja, o cabelo que está na área dadora passa para a área frontal, por isso, o número de fios continua exatamente o mesmo na área total da cabeça”, explica Ricardo. Para contornar esta questão, o tricologis­ta refere técnicas complement­ares ao transplant­e que permitem ampliar os cabelos da área dadora e recetora antes do procedimen­to, como preparar o couro cabeludo e o cabelo com fatores de cresciment­o que amplifique­m o metabolism­o e a expansão cuticular do cabelo.

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